Uma das mais antigas sociedades da Europa é conhecida por ter queimado suas obras arquitetônicas. Mas qual o motivo por trás disso?
Ingredi Brunato Publicado em 02/09/2023, às 08h00
Por volta de sete mil anos atrás, durante o Neolítico, surgiu na Europa uma civilização conhecida por seus enormes assentamentos repletos de construções de arquitetura impressionante.
Os fazendeiros da chamada cultura de Cucuteni (ou cultura Tripiliana) habitou a região que hoje corresponde a países como Romênia, Ucrânia e Moldávia. Compostos por mais de um milhão de habitantes em seu ápice, eles ergueram edifícios de dimensões impressionantes para a época, que alcançavam uma área de até 700 metros quadrados e possuíam mais de um andar.
Também criaram peças artísticas de cerâmica com belos padrões geométricos e estatuetas que misturavam características humanas e animais. A parte mais surpreendente desses artefatos é que eles possuem um estilo distinto que é considerado semelhante à arte moderna, o que leva as relíquias produzidas pelos Cucuteni a serem facilmente reconhecíveis.
Um detalhe importante de ser mencionado aqui é que, apesar de suas técnicas admiráveis, os integrantes da cultura Tripiliana são menos conhecidos que outras civilizações antigas, como os sumérios e egípcios — ainda que tenham vindo antes.
Um dos motivos para isso é que não existem tantas informações a respeito dessa sociedade quanto daquelas surgidas na Mesopotâmia, por exemplo, o que os torna particularmente enigmáticos. Lacramioara Stratulat, então o diretor do Museu Nacional da Moldávia, abordou a questão em uma entrevista coletiva de 2008 que foi repercutida pela NBC:
Não sabemos o significado desses símbolos e qual o significado dessas estatuetas zoomórficas e antropomórficas. Tudo parece envolto em mistério (...) Acima de tudo, não sabemos como essas pessoas trataram seus mortos. Apesar das extensas escavações recentes, nenhum cemitério foi encontrado", explicou ele na ocasião.
Em anos mais recentes, porém, os cientistas parecem ter desvendado pelo menos um dos mistérios a respeito dessa civilização neolítica europeia, revelando o motivo pelo qual eles ateavam fogo às suas próprias casas.
Após os pesquisadores identificarem que o barro usado para construir as casas Cucuteni apresentava evidências de ter sido submetido às chamas em mais de uma ocasião, aproximadamente uma vez a cada 60 ou 80 anos, indicando uma prática de incêndios intencionais, algumas teorias surgiram para tentar explicar esses atos, conforme repercutiu o Jstor Daily em uma matéria deste ano.
Uma das primeiras foi que se tratava de um ritual simbólico, possivelmente realizado após a morte dos moradores de cada local. Outra hipótese, mais aceita hoje, é que se tratava de uma técnica arquitetônica: as labaredas serviriam para fortalecer o barro.
Para colocar a teoria à prova, em 2018 uma equipe formada por arqueólogos da Inglaterra e da Ucrânia construíram duas réplicas historicamente precisas de construções da cultura Tripiliana, e ainda colocaram várias réplicas de vasos e estatuetas dentro.
Ao fim desse elaborado trabalho, eles atearam fogo a tudo. Aqui, um aspecto que provocou surpresa foi o quanto de combustível necessário para alcançar um incêndio que reproduzisse as temperaturas às quais o barro Cucuteni foi submetido.
Ainda segundo o Jstor Daily, os pesquisadores precisaram reunir cerca de 250 árvores para queimar uma das casas, que tinha dois andares. Essa informação, vale enfatizar, reforça a interpretação de que as chamas eram iniciadas de propósito, e não de forma acidental, dado o esforço requerido para fazer o fogo acontecer. Até porque, essa sociedade neolítica queimou dezenas de edifícios, o que exigiria o corte de vários quilômetros de floresta.
Os resultados do experimento científico, no entanto, fizeram todos os complexos preparativos valerem a pena: as paredes das construções e as obras de arte em seu interior permaneceram intactas. Além disso, o incêndio não se espalhou para além das casas, mostrando como era facilmente controlável, não apresentando perigo para as pessoas da época.
Ainda Estou Aqui: Entenda por que o filme é tão importante para o Brasil
Dom Antônio de Orleans e Bragança recebia a "taxa do príncipe"?
Banco Central sob Ataque: Veja a história real por trás da série da Netflix
Outer Banks: Série de sucesso da Netflix é baseada em história real?
O Rei Leão: Existe plágio por trás da animação de sucesso?
Ainda Estou Aqui: O que aconteceu com Eunice Paiva?