Um estudo recente foi responsável por solucionar um mal-entendido que intrigava cientistas há anos
Isabela Barreiros, sob supervisão de Thiago Lincolins Publicado em 20/04/2021, às 10h53
Em 1994, pesquisadores encontraram restos humanos muito antigos na Gran Dolina, localizada nas montanhas Atapuerca, ao norte da Espanha. Tratava-se de um dos fósseis mais importantes já descobertos na Europa, conhecido até os dias de hoje como o “Menino da Gran Dolina”.
Foram investigadas diversas características da espécie Homo antecessor: de sua altura média, que era cerca de 1,70m, a sua face, que provavelmente parecia muito com a do ser humano moderno. No entanto, um aspecto importante permaneceu inexplorado em diversas pesquisas.
O sexo do indivíduo não foi identificado nos primeiros anos de estudo — e foi apenas recentemente que isso foi, de fato, decifrado pela ciência. Como contou Cecilia García-Campos, pesquisadora do Centro Nacional de Pesquisas da Evolução Humana (CENIEH), segundo repercutido pelo El País Internacional, ainda não existia técnicas que permitissem essa análise.
Mesmo que não existissem evidências científicas de que o indivíduo era do sexo masculino, foi assim que ele foi retratado no livro de José María Bermúdez de Castro que narrava a descoberta.
"Surgiu ao acaso, quando José María [Bermúdez de Castro] decidiu fazer o livro, escolheu este nome masculino, mas sem um motivo específico. Foi preciso esperar por essas novas técnicas para poder determinar o sexo com certeza", disse a pesquisadora.
García-Campos participou de uma pesquisa publicada em março deste ano na revista científica Journal of Anthropological Sciences que investigava, novamente, o indivíduo que viveu há mais de 800 mil anos. Mas eles foram responsáveis por uma análise inovadora: “O menino da Gran Dolina era, na verdade, uma menina”, afirma.
O estudo foi feito a partir de um scanner de alta resolução que foi capaz de analisar os dentes do fóssil em questão, mais especificamente os caninos do indivíduo H3. A cientista explicou que eles se basearam “no estudo dos tecidos dentários para encontrar as diferenças sexuais dos fósseis”.
“Comecei a trabalhar com uma amostra forense fornecida pela Escola de Medicina Legal de Madrid e descobrimos que estudos exploratórios realizados em humanos modernos foram mais de 90% eficazes na determinação do sexo”, contou.
Por meio do scanner, que, segundo a pesquisadora, funciona como uma tomografia computadorizada de hospital, foi possível determinar as dimensões do esmalte dos dentes do fóssil. De acordo com García-Campos, esse aspecto é mais observado em mulheres, enquanto homens possuem mais dentina.
"Neste caso, descobrimos, para nossa surpresa, que os restos mortais eram de uma jovem que provavelmente havia morrido em uma luta pelo território", completou a pesquisadora.
Em vez de um homem, tratava-se de uma menina que estava entre os seus 9 a 11 anos de idade quando morreu provavelmente em uma situação de canibalismo.
Para a ciência, a descoberta possui valor ainda inestimável, afinal, a pesquisa foi divulgada há pouco tempo. Mas García-Campos acredita que seu valor vai ainda além: o fato de o “Menino da Gran Dolina” ser, na verdade, uma menina possui uma relevância social notável.
“Poder dar um nome feminino a um fóssil emblemático da Europa serve para tornar visível o papel da mulher na história da evolução humana”, afirmou. “A menina da Gran Dolina questiona os papéis tradicionais de gênero que ainda se preservam, nos quais a mulher está em casa e o homem no trabalho”.
“Esses trabalhos ajudam a mudar o imaginário coletivo da mulher na caverna com duas peles jovens ou bronzeadas. E nos mostram que as mulheres participavam da caça e da disputa de território”, conclui.
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