Arrependido de ter apoiado o Golpe de 64, Guimarães foi um árduo opositor da Ditadura e lutou pela redemocratização do país, sendo um dos principais pilares do Diretas Já e do Impeachment de Collor
Fabio Previdelli Publicado em 15/12/2020, às 16h16
O dia 12 de outubro de 1992 marcou a política brasileira com um de seus episódios mais trágicos e enigmáticos: o desaparecimento do deputado federal Ulysses Silveira Guimarães, um político muito importante na história recente do Brasil.
Na ocasião, ele viajava de helicóptero de Angra dos Reis (RJ) para a capital paulista. Entretanto, a aeronave acabou mergulhando no mar fluminense, em uma região próxima à Praia do Sono. O acidente aconteceu minutos depois da decolagem.
Além de Ulysses, outras quatro pessoas estavam no voo: sua esposa Mora; o ex-senador Severo Gomes, que também estava acompanhado de sua esposa, Maria Henriqueta; e o piloto Jorge Comemorato.
No dia seguinte, as buscas na região foram capazes de identificar o corpo de quatro vítimas, no entanto, o local de descanso do parlamentar jamais foi encontrado. O mistério sobre o destino de seu corpo permanece uma incógnita até hoje, 28 anos após o acidente.
Quem era Ulysses Guimarães?
Filho de Ataliba Silveira Guimarães e dona Amélia Correia Fontes, Ulysses Silveira Guimarães nasceu na vila de Itaqueri da Serra, que na época fazia parte do município de Rio Claro, no interior de São Paulo.
Seu gosto pela política se desenvolveu desde garoto, se tornando evidente quando ele participou do Centro Acadêmico XI de Agosto - órgão representativo dos estudantes da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo -, e exerceu a vice-presidência da União Nacional dos Estudantes (UNE).
Anos depois, se tornou professor titular de Direito Internacional Público na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o homem também lecionou na Faculdade de Direito de Itu e na Instituição Toledo de Ensino em Bauru, onde também foi diretor.
O início da vida política
Torcedor fanático do Santos, Guimarães foi nomeado diretor-presidente da subsede do clube, em São Paulo, em 1942 – cargo que voltou a ocupar em 1945. Dois anos depois, foi eleito deputado estadual por São Paulo pelo extinto Partido Social Democrático (PSD).
Desde então, nunca mais largou a política. Além disso, foi ministro da Indústria e Comércio no gabinete de Tancredo Neves, presidente interino em 1985 e candidato a presidente em 1989.
Em 1964, apoiou o golpe contra João Goulart, participando, inclusive, da Marcha da Família com Deus pela Liberdade em São Paulo. Porém, logo se arrependeu e passou a fazer parte da oposição da Ditadura, sendo o fundador do único partido contrário ao regime: o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), que mais tarde viria a ser o PMDB.
À frente do partido, participou de todas as campanhas pelo retorno da democracia, inclusive a luta pela anistia nos anos 1980. Ao lado de nomes como Tancredo Neves, Orestes Quércia, Mario Covas, Fernando Henrique Cardoso, Luis Inácio Lula da Silva e Franco Montoro, Ulysses Guimarães liderou campanhas pela redemocratização, como a das eleições diretas, o popular Diretas Já. Com isso, acabou ficando conhecido como Senhor Diretas e Senhor Democracia.
A busca pelo corpo e suas teorias conspiratórias
Anos após a morte do político, em 2001, um médico legista de Santa Catarina chegou a divulgar que pescadores de Barra Sul, no litoral catarinense, teriam encontrado o homem em alto-mar, porém, isso jamais foi confirmado.
Devido a seu protagonismo político, muitos especulam que a morte de Guimarães possa ter sido semelhante do ex-presidente Juscelino Kubitschek. Segundo essa teoria, os dois só teriam sofrido seus respectivos acidentes: seus veículos foram sabotados.
A motivação para a morte de Ulysses é a de que ele foi um dos principais artífices pelo impeachment contra Fernando Collor de Mello, que foi destituído do cargo dois meses depois da morte do parlamentar. Entretanto, as suspeitas nunca ganharam nenhuma prova concreta.
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