Um dos crimes mais chocantes da história recente dos Estados Unidos demorou quase três décadas para que alguém fosse condenado
Fabio Previdelli Publicado em 20/03/2020, às 13h00
O assassinato da pequena Martha Moxley, de 15 anos, foi um dos crimes mais cativantes e chocantes da história recente dos Estados Unidos por dois motivos: o primeiro deles é que foram necessários quase três décadas para que alguém fosse condenado; o segundo ponto importante é que o réu é Michael Skakel, membro da "Família Real da América", os Kennedys.
Quem foi Martha Moxley?
Nascida em 30 de agosto de 1960, Martha Elizabeth Moxley cresceu em Piedmont, na Califórnia, ao lado de seus pais e seu irmão mais velho, John. 14 anos depois, em 1974, ela e sua família se mudaram para Belle Heven, um bairro em Greenwich, Connecticut. “Era um desses bairros onde as crianças podiam conhecer outras pessoas... muito seguros”, lembrou a mãe de Matha, Dorthy, em uma entrevista na época.
O fato de mudar para um novo lugar não atrapalhou em nada a vida da brilhante adolescente. Escolhida como a “Melhor Aluna” no ensino médio, ela jamais encontrou dificuldades em fazer novos amigos. Com ótimas notas e jogadora de basquete, Moxley parecia ter tudo a seu favor. E as coisas caminhavam bem, pelo menos até o Halloween de 1975.
A amizade de Martha Moxley com Thomas e Michael Skakel
Sobrinhos de Ethel Skakel e Robert F. Kennedy, Thomas e Michael são apenas dois dos sete filhos de filhos de Rushton e Anne. Na época em que Moxley foi assassinada, em 1975, eles tinham, respectivamente, 17 e 15 anos.
Apesar de sempre conviverem com muitas pessoas em casa, o ambiente na família Skakel estava longe de ser o mais saudável. Em 1973, todos eles enfrentaram uma grande perda: Anne acabara de falecer de câncer no cérebro. Como senão bastasse, Rushton viveu um caso de alcoolismo e, frequentemente, deixava seus filhos em casa sozinhos sem nenhuma supervisão.
Sobre esse período, Michael declarou que "um nível de caos ainda mais intenso chegou a dominar nossa casa" depois da morte da matriarca da família. Os Moxleys, que moravam a apenas 150 metros de distância dos Skakels, viam com frequência o constante fluxo de adolescentes que vagavam pela residência graças à falte de supervisão de um responsável.
O que motivou o assassinato?
Segundo o diário de Martha, no qual ela cita muitas vezes os irmãos Skakel, a adolescente demonstra estar muito confusa sobre algumas investidas que começou a receber de Tom. “Querido diário ... Eu, Jackie, Michael, Tom, Hope, Maureen e Andra saímos para dirigir o carro de Tom ... Eu estava praticamente sentada no colo dele , quando eu estava dirigindo. E, então, ele colocou a mão no meu joelho ... Quando estava dirigindo novamente, Tom colocou o braço em volta de mim. Ele continuou fazendo coisas assim”.
Moxley também expressou frustração com Michael em seu diário. Em uma anotação de 19 de setembro de 1975, ela escreveu: “Michael estava tão totalmente enganado, sendo um verdadeiro idiota em suas ações e palavras. Ele ficava me dizendo que eu estava manipulando o Tom e que eu não gostava dele (exceto como amigo). Eu disse, bem, e você e Jackie? Você vive me dizendo que não gosta dela e que está por cima da situação. Ele não entende que as pessoas podem ser gentis sem machucar ninguém”.
Essas anotações seriam usadas posteriormente pela promotoria no julgamento de Michael Skakel.
Um pesadelo no Halloween
Na noite anterior ao Halloween, os adolescentes de Greenwich ficaram conhecidos por perambularem pelas ruas fazendo diversas brincadeiras. Tradicionalmente, esta noite nunca resultou em algo mais sério do que um gramado coberto com papel higiênico.
No entanto, esse cenário mudou em 1975. Naquele dia, Martha havia saído com suas amigas e como ela não tinha voltado para casa — e já eram 4 horas da manhã — sua mãe telefonou para a casa das amigas da filha. Como não sabia do paradeiro de sua filha, as ligações continuaram madrugada adentro.
Uma amiga de Moxley disse a Dorthy que tinha visto a adolescente pela última vez com Tom Skakel na noite anterior. Ela então foi até à casa dos Skakel naquele dia. Chegando lá, Michael informou que não tinha visto a filha dela.
Pouco depois do meio dia, a amiga de Martha, Sheila, fez uma descoberta horrível. Deitado de bruços sob um grande pinheiro na beira da propriedade dos Mpxleys estava o corpo da adolescente desaparecida.
Suas roupas estavam manchadas de sangue e seus jeans e roupas íntimas foram puxados até os tornozelos, embora nenhuma evidência de agressão sexual tenha sido encontrada.
Ao lado da adolescente, estava um taco de golfe, que tinha sido usado para atacar Martha repetidamente. O impacto dos golpes foi tão forte que ele se partiu em três partes. Moxley também foi esfaqueado no pescoço com um dos fragmentos quebrados do taco.
Michael Skakel investigado
Os investigadores descobriram rapidamente que o taco Toney Penna, usado na cena do crime, combinava perfeitamente com os da coleção que estavam na casa dos Skakels. O taco quebrado na casa dos Skakels tinha o nome de Anne gravado no cabo.
Naturalmente, os detetives concentraram suas investigações em Tom, já que ele era a última pessoa a ter visto Moxley vivo.Quando questionado, ele disse aos detetives que viu Moxley pela última vez por volta das 21h30 frente à sua casa. Eles se despediram e ele disse que entrou para assistir The French Connection com o novo tutor da família, Kenneth Littleton.
Depois, ele disse que foi ao seu quarto para trabalhar em um relatório da escola sobre Abraham Lincoln. Seus professores, no entanto, negaram ter dado essa tarefa. Sendo assim, Tom Moxley acabou sendo submetido a um teste pelo detector de mentiras. No entanto, a avaliação não apontou nada e nenhuma acusação foi feita contra ele.
Littleton também foi investigado no outono de 1976. Mas, supostamente, ele não tinha ideia de quem era Martha Moxley, já que a jovem foi assassinada na primeira noite em que ele esteve na casa dos Skakel. Embora Kenneth tenha ‘falhado’ em vários testes com o detector de mentiras, ele nunca foi acusado por ter conexão com o caso.
Os detetives acreditavam que Martha hiva sido espancada e morta por volta das 22 horas. Quando questionado sobre seu paradeiro naquela noite, Michael Skakel disse aos detetives que ele havia saído de casa por volta das 21h15 e dirigido até a casa de seu primo, retornando por volta das 23h.
A reabertura do caso
Em 1991, o caso de Martha Moxley foi reaberto após um boato de que outro membro da família Kennedy, William Smith Kennedy, poderia estar envolvido no assassinato. A teoria foi desmentida, mas o caso voltou aos holofotes.Dessa vez, Michael Skakel se tornou o principal suspeito.
O inquérito foi solicitado por Rushton Skakel, que havia contratado um investigador particular para "limpar o nome de sua família". Particularmente, ele esperava que fossem divulgadas informações que lançassem suspeitas sobre outros suspeitos, como Kenneth Littleton. No entanto, o plano saiu pela culatra.
Desta vez, havia dois investigadores particulares envolvidos, Jim Murphy — um ex-agente do FBI — e seu assistente Willis "Billy" Krebs — ex-tenente da polícia de Nova York. Quando a dupla entrevistou Tom e Michael para saber soobre suas atividades na noite do assassinato de Moxley, eles descobriram que os irmãos haviam mentido para a polícia.
Tom revelou que não eram 21h30 na última vez que viu Martha fora de sua casa, mas na verdade era um horário mais próximo das 22h. Além disso, antes de Tom voltar para casa, ele e Martha trocaram carinhos íntimos do lado de fora da residência da garota
Segundo disse o tenente Krebs, o jovem começou a chorar quando admitiu isso, mas o advogado da família interrompeu o interrogatório antes que informações mais comprometedoras pudessem ser reveladas.
Enquanto isso, Michael disse ao investigador que ele não foi dormir quando chegou depois que retornou da casa do primo, por volta das 23 horas. Na verdade, ele subiu em uma árvore do lado de fora da janela do quarto de Martha Moxley e se masturbou.
O autor e jornalista Dominik Dunne pegou o relatório dos investigadores e o repassou ao inspetor de Estado Frank Garr, que anteriormente era detetive do caso. Ele sempre suspeitou de Michael, mas suas cismas foram descartadas. Este relatório teria dado um no impulso à sua teoria.
O julgamento
Em 1998, um júri individual e um investigador foram designados para revisar o caso de Martha Moxley. Ao examinarem as evidências, o juiz George N. Thim decidiu que havia indícios o suficiente para acusar Michael pelo crime.
Vários ex-colegas de escola de Skakel testemunharam que, enquanto ele frequentavam a Escola Elan (uma escola especializada destinada a reabilitar jovens problemáticos), Michael chegou a confessar o crime para eles.
Inclusive, um ex-colega da escola, Gregory Coleman, declarou na audiência de pré-julgamento, em junho de 2000, que Michael disse a ele: "eu vou me safar de um assassinato, sou um Kennedy".
Coleman continuou dizendo que “ele [Skakel] chegou a comentar que estava tentando fazer progressos em uma relação com uma garota, mas que ela não estava correspondendo as investidas e, por isso, ele esmagou o crânio dela”.
Apesar da chocante revelação, Coleman não voltou a testemunhar no julgamento de Skakel em 2002, pois ele morreu de overdose de heroína em agosto de 2001.
A autobiografia de Skakel se torna evidência
Em 1997, Skakel teria se encontrado com o ghost-writer Richard Hoffman, para gravarem declarações para sua autobiografia: Dead Man Talking - A Kennedy Cousin Comes Clean.
Entretanto, uma dessas gravações teria sido usada durante o julgamento, o que foi particularmente prejudicial para Skakel. Na noite do assassinato de Moxley, ele disse estar bêbado, afirmou que havia fumado maconha e que estava sexualmente excitado.
Quando Dorthy chegou à sua porta naquela manhã, ele disse estar em pânico: "Eu ainda estava chapado da noite anterior, um pouco bêbado". Ele relatou ter pensado: "Eles me viram ontem à noite?".
Skakel alegou que estava preocupado por ter sido visto pelos Moxley na árvore deles, mas os promotores argumentaram que Skakel estava realmente se referindo a ter ser visto batendo em Martha.
O contra-argumento da defesa de Skakel era que não havia provas físicas para condená-lo e que ele tinha um álibi para o período em que Moxley foi assassinada. No entanto, a promotoria pintou a imagem de um adolescente ciumento, enfurecido após ser rejeitado por sua paixão, sob a influência de drogas e álcool, e com acesso à arma do crime.
Em 7 de junho de 2002, o veredito do júri decidiu culpá-lo. Skakel foi condenado a 20 anos de prisão.
Inocente ou apenas privilegiado?
Enquanto Skakel estava na prisão, seus advogados tentaram fazer com que sua condenação fosse anulada. Quatro recursos foram interpostos, todos eles foram negados.
Porém, em 23 de outubro de 2013, Skakel foi julgado novamente com base na defesa do seu advogado Mickey Sherman, que forneceu a ele uma representação "constitucionalmente deficiente". Como resultado, Skakel foi libertado sob fiança de US $ 1,2 milhão em 21 de novembro de 2013.
Os promotores lutaram incansavelmente para restabelecer a condenação de Skakel. Finalmente, em dezembro de 2016, eles obtiveram sucesso perante a Suprema Corte de Connecticut, que decidiu por quatro votos a três, que sua condenação era o resultado de evidências "esmagadoras" apresentadas pelos promotores e que sua representação legal era adequada.
No entanto, o caso não terminou por aí. Em maio de 2018, o Tribunal reverteu a decisão, com mais uma decisão de quatro a três. O tribunal decidiu que Sherman "prestou assistência ineficaz" quando não conseguiu entrar em contato com uma testemunha álibi e como resultado, Skakel foi privado de um julgamento justo.
Os promotores estaduais em Stamford ainda têm o poder de pedir um novo julgamento contra Skakel, mas certamente terão dificuldade em fazê-lo devido ao falecimento de algumas testemunhas.
Culpado para alguns, inocente para outros
Até hoje, a mãe e o irmão de Martha Moxley acreditam que Skakel é culpado. Dorthy Moxley está convencida de que a riqueza de Skakel e as conexões poderosas que ele possui são as razões pelas quais ele está livre hoje.
No entanto, também existem pessoas que acreditam que Skakel é inocente, como seu primo Robert F. Kennedy Jr., que escreveu um livro intitulado ‘Por que Michael Skakel passou uma década na prisão por um assassinato que não cometeu’.
Na introdução, Kennedy escreve: “Um ciclone de má prática da mídia consolidou a tempestade perfeita de ganância e ambição que terminou na prisão de Michael. Sua condenação foi um fracasso do sistema legal”.
Atualmente, Skakel permanece livre.
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