Para manter o público curioso sobre sua próxima faceta, a rainha se reinventava constantemente
Bianca Nunes Publicado em 25/04/2019, às 07h00
Virar ícone de uma época – representar uma classe, um modo de pensar e de viver – é destino para poucas pessoas. Uma delas, sem dúvida, foi a austríaca Maria Antônia Josefa Johanna von Habsburg-Lothringen, ou simplesmente Maria Antonieta.
A última rainha da França era uma lançadora de moda inquieta e contestadora. Chocou ao vestir calças, até então exclusivas dos homens. Deixou de lado os espartilhos de barbatana de tubarão e adotou peças leves para se aproximar dos camponeses.
Os estudos mostram que Maria Antonieta não foi uma mulher fútil e ingênua, mas uma mestra em usar o glamour como arma para se firmar numa corte estranha e hostil.
“Maria Antonieta entendeu que ser uma rainha significava essencialmente interpretar um papel. Mais que isso, ela logo descobriu que, por meio de mudanças na moda, ela podia modificar esse papel e até fugir dele”, afirma a pesquisadora americana Caroline Weber, especialista em cultura francesa do século 18 e autora de Queen of Fashion (“Rainha da Moda”). “Isso mostra que, até certo ponto, ela tinha uma percepção bem sofisticada e muito moderna do poder da imagem para mudar a realidade.”
Quando queria exibir sua riqueza, surgia em público com vestidos suntuosos e penteados rocambolescos de quase 1 metro de altura. Para a historiadora francesa Caroline Weber, tudo isso faz da rainha uma precursora das celebridades, em especial a cantora Madonna.
Autora do livro Rainha da Moda (Zahar), Caroline defende que a nobre foi pioneira em um comportamento que hoje é comum entre os famosos: "Ela fazia aparições estratégicas e vazava informações sobre seu modo de vestir".
Com isso, seu estilo alcançou as massas, a ponto de provocar protestos de damas ricas, que diziam que essa atitude colocava em risco as diferenças entre as classes sociais. Na entrevista, Caroline explica as maiores inovações trazidas por Maria Antonieta, antes que a Revolução Francesa de 1789 apeasse a monarquia do poder.
Entrevista com Caroline Weber
AH - O que diferencia Maria Antonieta de outras rainhas da época?
Weber - Em primeiro lugar, ela foi a primeira figura real europeia a descobrir que não era necessário seguir as tradições para ganhar o respeito do povo. Percebeu que o modo de vestir poderia ser o componente essencial de sua fama. Além disso, fez com que o mundo fashion ficasse acessível para pessoas de todas as classes.
AH - Ela pode ser comparada a alguém?
Weber - Sim, à cantora Madonna, por exemplo. A rainha mudava constantemente sua aparência, ia dos penteados extravagantes aos rústicos camisetes que usava em seu retiro particular, passando pelas andróginas silhuetas masculinas de montaria. Ela se reinventava constantemente, uma maneira de manter o público curioso sobre sua próxima faceta. Também como Madonna, a rainha acendeu os debates nacionais sobre a sexualidade feminina.
AH - Por que a rainha usou branco para ir à guilhotina, em 1793?
Weber - A escolha foi intencional. Era uma forma de se declarar, de maneira corajosa, como mártir e leal guardiã da monarquia. Com sua roupa, ela dizia aos revolucionários que eles haviam tomado a coroa, mas jamais quebrariam seu espírito.
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