Com apenas 15 anos, a menina foi vítima de racismo e tornou-se o rosto de uma revolução inflamada que tomou a cidade
Pamela Malva Publicado em 24/08/2020, às 15h30 - Atualizado em 31/12/2021, às 13h00
Em meados de 1992, Los Angeles se tornou um verdadeiro cenário de guerra. O motivo? Dois cruéis casos de racismo que chocaram os Estados Unidos. Cheias de impunidade e intolerância, as narrativas levaram a população negra ao seu limite.
O estopim dos acontecimentos levou o nome de Latasha Harlins, a vítima de um assassinato brutal. Com 15 anos, ela teve seu nome pichado em paredes e sua foto espalhada pelos jornais. Em semanas, tornou-se o rosto de um movimento sufocado.
Gravado pelas câmeras de segurança, o homicídio de Latasha foi a última gota e gerou uma verdadeira revolução. O pior, entretanto, veio depois do enterro da menina, quando o caso foi parar na justiça e teve um desfecho surpreendente.
Dona de olhos brilhantes, Latasha Harlins nasceu em St. Louis, no estado de Illinois, em janeiro de 1976. Com dois irmãos mais novos, Vester e Christina, a menina mudou-se para Los Angeles quando seu pai arrumou um novo emprego, em 1981.
O que era para ser uma infância tranquila, no entanto, logo se tornou um pesadelo, conforme o pai de Latasha desenvolvia um comportamento agressivo. Ele era muito violento com sua esposa e, eventualmente, o casal se divorciou, em 1983.
Dois anos mais tarde, a mãe de Latasha foi assassinada pela nova madrasta da menina. Em um luto profundo, ela e os irmãos ficaram sob os cuidados da avó e não demorou muito para que Latasha assumisse um comportamento rebelde.
No dia 16 de março de 1991, Latasha andava pelas ruas de Vermont Vista ao lado de alguns amigos. Conhecido como Koreantown, o distrito de Los Angeles era famoso pela quantidade de lojas pertencentes à imigrantes coreanos.
Naquela manhã, a menina decidiu comprar um suco. Ela abriu as portas da Empire Liquor e caminhou por entre os corredores do lugar. Do caixa, Soon Ja Du, a dona do estabelecimento, acompanhava cada passo de Latasha.
Pelas câmeras da loja, foi possível identificar que a menina colocou uma garrafinha de suco de laranja em sua mochila. O produto custava menos de dois dólares. Soon Ja Du logo chegou à conclusão de que Latasha estava querendo roubá-la.
Nesse momento, as narrativas se dividem. De um lado, Soon Ja Du afirma que perguntou para Latasha se ela pretendia pagar pelo suco. A menina teria respondido "que suco?". Do outro, testemunhas afirmam que essa conversa nunca aconteceu.
Na segunda versão, as pessoas dizem que Soon Ja Du chamava Latasha de bruxa, enquanto a menina dizia que iria pagar pelo produto. Em seguida, as duas entraram em conflito e a dona da loja conseguiu tirar a garrafa das mãos da jovem.
Latasha virou as costas para a coreana e estava pronta para sair do estabelecimento quando escutou um disparo. A menos de um metro da menina, Soon Ja Du sacou uma arma de trás do balcão e atirou na cabeça da jovem, que morreu na hora.
Todo o assassinato foi gravado pelas câmeras de segurança da loja e, mais tarde, os promotores pontuaram a frieza de Soon Ja Du, de 51 anos. Durante o julgamento do caso, a coreana afirmou que atirou em legítima defesa — versão que logo foi descartada, já que Latasha estava claramente tentando sair da loja.
Em 15 de novembro de 1991, então, o júri considerou Soon Ja Du culpada de homicídio a sentenciou a 16 anos de prisão. A juíza branca Joyce Karlin, contudo, discordou da decisão e converteu a sentença da coreana para cinco anos de liberdade condicional e 400 de horas de trabalho voluntário.
O claro descaso das autoridades em relação ao assassinato de Latasha Harlins inflamou uma comunidade negra que já estava cansada de injustiças. Treze dias antes, inclusive, um dos casos mais violentos da história tinha acontecido.
Rodney King havia sido espancado por diversos policiais no meio da rua. Assim como no caso de Latasha, todo o acontecimento foi filmado e levado ao tribunal. Em abril de 1992, os quatro policiais acusados de espancar Rodney foram inocentados.
Aquele foi o fim: motins tomaram conta da cidade, lojas foram incendiadas e as pessoas andavam armadas na rua. Los Angeles estava em pé de guerra e, logo, os conflitos se tornariam um dos maiores distúrbios civis da história dos Estados Unidos.
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