Situada a 5.100 metros de altitude, assentamento nos Andes peruanos atrai devido à busca pelo ouro, mas oferece condições extremas e brutais
Fabio Previdelli Publicado em 14/01/2024, às 16h00 - Atualizado em 15/01/2024, às 18h24
Localizada a 5.100 metros acima do nível do mar, a cidade peruana de La Rinconada, nos Andes peruanos, é o assentamento permanente mais alto do mundo. Situado a cerca de 4 horas da margem norte do lago Titicaca, o local de condições extremas atrai as pessoas por uma coisa: o ouro.
Desde que o metal precioso fora descoberto por lá, estima-se que a população de La Rinconada aumentou em 235% (entre 2001 e 2009) sendo de 30 mil pessoas — atualmente estima-se que seja de cerca de 50 mil. Mas como é viver por lá?
+ Os enigmas do Ponto Nemo, o lugar mais distante da Terra
Embora o rápido crescimento da cidade, a infraestrutura não avançou o suficiente para proporcionar o bem-estar de quem vive por lá. Muito pelo contrário, além de viverem com 50% menos oxigênio do que as condições normais, a população de La Rinconada ainda habita um verdadeiro lixão a céu aberto; visto que não existe um sistema de coleta pública.
Apesar de todo o ouro pode oferecer, a cordilheira possui uma estrada relativamente boa nos seus primeiros 130 quilômetros, mas o resto é deixado de lado. O último trecho da pista é completamente esburacado e sem qualquer tipo de segurança.
Além disso, vale ressaltar que La Rinconada não conta com um sistema de saneamento básico, com as águas residuais fluindo pelas ruas. As casas, que mais parecem barracões de metal, também não possuem eletricidade e calefação, o que as torna a situação ainda mais complicada — visto que durante parte do ano as temperaturas chegam os 10ºC negativos.
Por falar em falta de higiene, muitas moradias tampouco possuem cozinhas e banheiros próprios, o que faz com que as pessoas tenham que usarem espaços públicos para suprirem suas necessidades pessoais. Por meio de verdadeiras teias de mangueira, a água é transportada das geleiras para a cidade.
+ Nas ruínas de um gulag: Norilsk tem noite que dura meses e rio que ficou vermelho;
O único ponto positivo de tudo isso, se é que podemos chamar assim, é que as baixas temperaturas ajudam a evitar que os resíduos orgânicos apodreçam — o que não causa um odor como poderia ser esperado em outros locais com condições semelhantes.
Por conta disso, conforme recorda matéria do Catraca Livre, não é nenhum pouco entender por qual motivo La Rinconada também é conhecida como "O inferno na terra", um dos "lugares mais horríveis do mundo" ou "A mina do Diabo".
O local também é característico por conta de sua paisagem natural, localizada nos arredores da montanha La Bella Durmiente (A Bela Adormecida), devido ao seu formato.
Considerada pela National Geographic como a cidade mais alta do mundo, superando Wenquan (China) por 80 metros, o assentamento peruano gira em torno da extração de ouro. Mas uma condição chama a atenção!
Os mineradores trabalham sem um sistema de salário regular — eles atuam para empresas por todo mês sem receberem por isso, e a renda que ganham é oriunda de um único dia de serviço, onde tudo que encontrarem pertencerão a eles.
Além do mais, a vida dentro das minas não é nada fácil. Somado ao efeito do ar rarefeito, os locais também são extremamente poluídos, isso sem contar as vítimas de explosões ou colapsos de telhados, que são 25% mais comuns que em minas de países avançados — o que ajuda a entender por qual motivo a expectativa de vida por lá seja de apenas 35 anos.
Segundo o Sindicato Nacional de Trabalhadores em Minas do Peru, normalmente, os trabalhadores da mina sofrem de algum grau de silicose, uma inflamação pulmonar causada pela inalação permanente de cristais de sílica.
Condições tão extremas e brutais ajudaram a desenvolver a crença de que os mineiros precisam ser 'mujeriegos y borrachos'. Conforme explica o Catraca Livre, os trabalhadores das minas costumam ser 'mulherengos' e 'bêbados' — o que expõe outro problema local: a prostituição infantil, afinal, estima-se que mais de 1.500 adolescentes entre 15 e 17 anos vendam o corpo em busca de recursos.
Por fim, outra crença ajuda a disseminar a cultura local: o Tío de La Mina, que seria uma espécie de entidade que controla os portões do mundo subterrâneo. Assim, os mineiros dão oferendas para figuras adornadas com flores secas, frutas e garrafas de álcool — uma forma de garantir o sucesso e proteção nas explorações.
Ainda Estou Aqui: Entenda por que o filme é tão importante para o Brasil
Dom Antônio de Orleans e Bragança recebia a "taxa do príncipe"?
Banco Central sob Ataque: Veja a história real por trás da série da Netflix
Outer Banks: Série de sucesso da Netflix é baseada em história real?
O Rei Leão: Existe plágio por trás da animação de sucesso?
Ainda Estou Aqui: O que aconteceu com Eunice Paiva?