Prisioneiros nos campos da morte nazistas - Getty Images
Segunda Guerra

Kapos: a cruel saga dos prisioneiros judeus que tornaram-se guardas nazistas

Os detentos eram forçados a trabalhar em troca de benefícios dentro dos campos de concentração; e acabaram sendo julgados como os guardas da SS

Daniela Bazi Publicado em 02/12/2019, às 10h00

Os campos de concentração foram um dos atos mais cruéis feitos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Criados para prender e executar pessoas contra o regime, muitos prisioneiros judeus acabaram sendo obrigados a trabalhar como guardas em troca de benefícios. Eram os chamados kapos.

Eles eram alguns dos principais responsáveis para manter a disciplina dentro dos campos. Aqueles que aceitavam o trabalho seriam recompensados com roupas e alimentos melhores, maior autonomia, possíveis visitas a bordeis e uma chance de sobrevivência.

Suas funções eram supervisionar os outros prisioneiros e puni-los por qualquer infração, espancando-os até a morte se necessário. Existiam três tipos principais: aqueles que supervisionavam o trabalho, os que vigiavam o quartel dos prisioneiros durante a noite e os que supervisionavam áreas no campo em geral, como a cozinha.

Braçadeira utilizada pelos kapos nos campos de concentração / Créditos: Wikimedia Commons

 

Haviam também os chamados Sonderkommandos, que eram responsáveis por remover os cadáveres das câmaras de gás e movê-los para os crematórios. Segundo uma publicação feita pelo jornal judaico inglês Jewish Chronicle, a palavra kapo se tornou “o pior insulto que um judeu pode dar a outro judeu”.

O sistema foi desenvolvido pelo general da brigada da SS, Theodor Eicke, como uma maneira de economizar dinheiro e obrigar pessoas a executarem a parte mais difícil do trabalho. "No momento em que ele se torna um kapo, não dorme mais com os outros prisioneiros. Como não temos alemães suficientes aqui, usamos outros - é claro, um kapo francês para os poloneses, um kapo polonês para os russos; colocamos uma nação contra outra.", revelou Heinrich Himmler, chefe da organização paramilitar nazista.

Heinrich Himmler inspesionando prisioneiros em 1940 / Créditos: Getty Images

 

Sempre sob ameaça de violência, os guardas judeus eram acompanhados e forçados por oficiais da SS a serem cruéis o suficiente com os outros detentos. De acordo com relatos de sobreviventes, os kapos eram piores que os alemães, com espancamentos ainda mais cruéis, onde muitos abusavam sadicamente da autoridade imposta.

Muitos acabaram sendo responsáveis também de abusar sexualmente de outros prisioneiros. Com os bordeis criados pelos nazistas com mulheres não judias para aumentar a produtividade dos detentos e “curar” os homossexuais, os kapos se tornaram os únicos com força o suficiente para ter as relações.

Além disso, diversos guardas judeus também contavam com garotos pré-adolescentes ou adolescentes que eram forçados a fazer sexo com eles para receber comida ou proteção.

Com o fim do Holocausto em 1945, muitos kapos justificaram suas ações dizendo que elas serviam para proteger seus companheiros para salva-los das câmaras de gás.

Câmara de gás do campo de Dachau, na Alemanha / Créditos: Getty Images

 

Um dos casos mais conhecidos é o de Eliezer Gruenbaum, que trabalhou por cerca de um ano e meio no campo de Auschwitz II - Birkenau, no sul da Polônia, o dono das únicas escritas de um ex-kapo.

Ele foi oferecido por amigos enquanto dormia para se tornar um guarda e, em 1942, foi nomeado chefe dos prisioneiros de seu bloco, cargo que permaneceu até 1944 quando o rebaixaram para trabalhador. Depois de alguns meses trabalhando em escavação, ele foi transferido três vezes de campo. Primeiro para Monowitz, depois para o campo de mineração Jawischowitz, e teve sua transferência final em 1945 para Buchenwald, onde permaneceu até o término da guerra.

Em suas anotações, Gruenbaum descreve que lidava diariamente homens famintos rastejando pelo chão como vermes em busca de migalhas de pão jogadas por kapos como forma de diversão, brigas entre prisioneiros para lamber sopa derramada e pessoas mortas por disenteria sendo utilizadas como escudo por prisioneiros vivos para se proteger do frio.

Após o fim da guerra, muitos kapos foram linchados por prisioneiros enfurecidos, como aconteceu em Mauthausen. Outros só tiveram um julgamento em 1950, após a aprovação da lei que punia nazistas e seus colaboradores. A pior sentença dada a um kapo foi de 18 meses, onde muitos cumpriram suas penas e foram liberados.   


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