Da mentira de Lee Oswald ao momento de felicidade de Jacqueline Kennedy, documentário relembra 60 anos do assassinato de John Fitzgerald Kennedy, em 22 de novembro de 1963
Fabio Previdelli Publicado em 07/11/2023, às 18h00 - Atualizado em 22/11/2023, às 09h26
No próximo dia 22 de novembro completam 60 anos do assassinato do presidente norte-americano John Fitzgerald Kennedy. A morte de um dos políticos mais populares da América, em 1963, ainda hoje ressoa na história do país.
Embora Lee Harvey Oswald seja apontado como único responsável pelos três disparos, as controversas da Comissão Warren e o fato de que arquivos sobre o crime ainda permanecem classificados, deixam lacunas e dúvidas nesta história — inflamadas, principalmente, pelos questionamentos feitos por Oliver Stone em 'JFK - A Pergunta Que Não Quer Calar' (1991) e 'JFK Revisitado: Através do Espelho' (2021).
+ Bala única: A teoria surreal que explica a morte de JFK
Mas detalhes das horas finais de Kennedy acabam de ser revelados pelo documentário da NatGeo 'JFK: One Day in America', que reuniu testemunhas, sobreviventes e profissionais que trabalharam no Serviço Secreto para descrever o turbilhão de acontecimentos em torno da morte do 35º presidente dos EUA.
Dividido em três partes, a produção narra desde o momento que John e a primeira-dama Jacqueline Kennedy chegaram no Texas, até os dias seguintes, quando JFK e seu assassino foram mortos a tiros. Confira 5 fatos revelados pelo documentário!
Nas eleições norte-americanas de 1960, JFK venceu no Texas, considerado um estado chave, com apenas 2% de vantagem. Para ser reeleito, ele teria que repetir o feito. Como resultado, a viagem para Dallas era vista como crucial.
Embora ainda não estivesse em campanha para a reeleição, sempre era bom causar uma boa impressão. Ainda mais pelo afastamento que Kennedy teve de seu vice Lyndon B. Johnson — que fora senador pelo Texas antes de assumir o cargo.
"Eles queriam sair na frente mais cedo", afirma Clint Hill, ex-agente do Serviço Secreto que foi designado para acompanhar a primeira-dama Jacqueline Kennedy na viagem. Um fato curioso é que Jackie se recusava a acompanhar o marido, mas concordou em segui-lo desta vez para ajudar com sua imagem e atrair eleitores.
Ela queria fazer tudo o que pudesse para ajudar o presidente Kennedy a ser eleito em 1964", explica Hill.
Já Sid Davis, que era correspondente da Westinghouse Broadcasting Company na Casa Branca, recorda sobre o receio que a imprensa tinha com a recepção que o presidente teria. "Sabíamos que o Texas não era um estado Kennedy".
John e Jackie desembarcaram no Texas na tarde de 21 de novembro, uma quinta-feira. O casal dividiu a agenda do dia com compromissos em San Antonio e Houston antes de se dirigir até Fort Worth durante a noite. "Estávamos todos de bom humor e sentíamos que não havia nenhum sinal de animosidade, nada parecido", recorda o ex-agente do Serviço Secreto Paul Landis.
Embora o clima estivesse ameno, ainda assim havia uma grande preocupação com a viagem, principalmente no trecho em Dallas, aponta Paul. "No dia em que partimos, tivemos um briefing e todos receberam suas tarefas sobre o que fariam. E esta foi a primeira vez que descobri que Dallas tinha um apelido: 'A Cidade do Ódio'... Eu não sabia nada sobre ser um ambiente político ruim."
Além do mais, naquele 22 de novembro, o chefe de polícia local pediu aos cidadãos para se comportarem na recepção ao presidente. Aos repórteres, o prefeito da cidade se manifestou dizendo que esperava que poderia haver algumas manifestações. Mesmo assim, "não prevemos nenhum problema", disse o ex-agente.
Sabíamos que havia um grupo em Dallas que não gostava ou não concordava com a posição do presidente Kennedy em muitas coisas", complementou Hill. "Até onde eles estavam dispostos a ir para isso, eu não sabia. Nós não sabíamos."
O ano que sucedeu o assassinato de JFK não foi nada fácil para os Kennedy em vários aspectos. Em outubro de 1962, eles tiveram que superar o maior momento de instabilidade dentro do governo: a Crise dos Mísseis de Cuba.
Quando tudo parecia se fortalecer, outro trauma. Em agosto de 1963, a felicidade pelo nascimento de Patrick Bouvier Kennedy logo deu espaço ao luto. Dois dias depois de vir ao mundo, o pequeno Patrick faleceu devido a uma síndrome do desconforto respiratório infantil.
Jackie se resguarda da vida pública. A primeira-dama só resolveu voltar aos holofotes para justamente acompanhar John em sua viagem ao Texas. O mundo estava ansioso para rever o casal demonstrando afeto um pelo outro após tamanha tragédia. Quis o destino que ela fosse seu último abraço naquele fatídico dia.
"Ela estava superando [a morte de Patrick]", lembra Sid Davis. "Esta foi a primeira visita dela fora da Casa Branca, em público, e por isso foi uma coisa edificante para as pessoas vê-la sorrindo."
"O presidente Kennedy realmente queria que Jackie fosse visto por todos no Texas. O Texas era um estado muito importante. Ele achava que com Jackie junto, ele se sairia melhor", prosseguiu.
Na manhã de 22 de novembro, JFK participou de um café da manhã em Fort Worth, mas deixou a população desapontada ao saber que a primeira-dama não o acompanhava. A decepção foi tamanha que Jacqueline foi chamada para participar do evento.
Quando ela entrou na sala, a multidão simplesmente se levantou das cadeiras e começou a aplaudir", recorda Davis. "Eu nunca a vi mais feliz do que naquela manhã."
Se analisarmos o cenário do assassinato de JFK, pode parecer um absurdo pensar que um dos homens mais poderosos do mundo — e também que colecionava opositores — pudesse participar de uma carreata a céu aberto.
Mas a exigência foi justamente feita por Kennedy. "O presidente insistiu em ter um carro aberto, porque queria se sentir o mais próximo possível das pessoas", afirma Hill em 'JFK: One Day in America'.
Ele queria que as pessoas sentissem que nunca houve qualquer barreira entre elas e ele."
O ex-agente do Serviço Secreto recorda que embora tivesse chovido naquela manhã, "a palavra era: 'O topo é para ser retirado'". A decisão foi uma forma metafórica para quebrar a barreira entre o presidente e os eleitores, mas sem dúvidas criou desafios insuperáveis para a equipe de segurança.
Outro personagem importante desta história é o homem que puxou o gatilho: Lee Harvey Oswald. Segundo seu colega de trabalho, Buell Frazier, o assassino de Kennedy teve um comportamento curioso naquele 22 de novembro.
Aquela sexta-feira foi como qualquer outra manhã de sexta-feira", recorda. "Levei Lee Harvey Oswald para o trabalho porque Lee não tinha carro. Ouvimos rádio."
O companheiro do assassino do presidente ainda apontou que Lee Oswald era uma pessoa de poucas palavras e dificilmente começava uma conversa. "A coisa sobre a qual ele mais falava era sobre sua filha."
No caminho até o trabalho, Buell Frazier ainda notou algo estranho: Harvey levava um pacote — que havia deixado no banco de trás. "Eu disse: 'O que há no pacote, Lee?’... E ele respondeu: 'Varões de cortina'."
Quando estacionaram, Lee Harvey Oswald logo saiu, pegou o pacote e foi andando sozinho. "Sempre caminhamos juntos, mas não esta manhã", aponta. "Nunca me ocorreu que alguma coisa fosse diferente."
Quando John Kennedy foi alvejado na cabeça, a carreata partiu em direção ao Parkland Memorial Hospital. Neste momento, o ex-agente Clint Hill recorda do momento de caos que atacou Jackie: "A Sra. Kennedy estava gritando: 'Eles atiraram na cabeça dele! Eu te amo, Jack'."
[Ela] estava em estado de choque, com a cabeça do presidente no colo."
Ele ainda apontou que quando o veículo chegou ao centro médico, a primeira-dama ainda estava em estado de choque e se recusava a largar o corpo do marido. "Eu implorei a ela e disse: 'Por favor, Sra. Kennedy, deixe-nos ajudar o presidente.' Não obtive resposta alguma".
"Percebi que ela não iria me soltar, então tirei o paletó e cobri a nuca, os ombros e a parte superior das costas dele, e quando fiz isso, ela me soltou", diz o ex-agente.
Paul Landis, seu ex-companheiro de Serviço Secreto, também falou sobre o momento. Considerado jovem para a função que ocupava na época, Landis recorda que quase desmaiou na sala de emergência quando os médicos corriam para ajudar o presidente.
"Ouvi um médico dizer: ‘Deixe-me passar, deixe-me passar’, e eles estão pedindo a todos que evacuem a sala", apontou. "E foi nessa época que alguém apareceu e perguntou se alguém sabia o tipo sanguíneo do presidente, e a Sra. Kennedy meio que se levantou e disse: 'Você quer dizer que ele está vivo?' E houve apenas um silêncio absoluto."
Apesar do momento de 'esperança' da primeira-dama, Hill aponta que Jacqueline já sabia do destino do marido no momento em que sentiu o peso de seu corpo no colo. "Tenho certeza de que ela sabia que o presidente não poderia ter sobrevivido e estava de fato morto".
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