O importante tenente-coronel do Exército Vermelho recebeu um alarme de ataque americano. Sua missão era iniciar o contra-ataque nuclear imediatamente. Sua hesitação salvou o mundo
Natália Rangel, Letícia Yazbek e André Nogueira Publicado em 23/12/2019, às 13h00
Tenente-coronel do exército russo, Stanislav Petrov era responsável pelo Centro de Detecção de Ataques Nucleares da URSS. Aos 44 anos, ele estava em serviço na madrugada de 26 de setembro de 1983, na base Serpukhov-15, próxima a Moscou. Stanislav não costumava trabalhar à noite, mas estava ali cobrindo a folga de um colega.
Esses bases militares de detecção de ataques eram elementos centrais da dinâmica da Guerra Fria. Isso porque um dos principais elementos da geopolítica do momento era a política militar do medo, que colocava a eminência de um holocausto generalizado no caso do uso das armas nucleares como base das relações entre EUA e URSS, fazendo com que as duas potências nunca entrassem em conflito direto.
A partir da base militar, o tenente-coronel gerenciava a imensa rede de radares, satélites e analistas que protegiam o território soviético contra possíveis ataques americanos. Sua função era vigiar os equipamentos e informar as autoridades sobre qualquer mudança.
No caso de um ataque, a estratégia soviética era clara: o responsável tinha exatos 12 minutos para acionar o sistema de retaliação. É o tempo que levava para que um míssil americano atingisse território soviético. Isso faria com que, no caso de um ataque a Moscou, Washington fosse retaliada (o que realmente fazia com que os americanos pensassem duas vezes).
Em outras palavras, cabia ao tenente-coronel lançar os mísseis e começar a Terceira Guerra Mundial. E a pior delas: a guerra nuclear, cujas chances de sobrevivência da humanidade não eram muito animadoras.
Era pouco mais de meia noite em Moscou e domingo à tarde nos Estados Unidos quando os computadores de Petrov indicaram que um míssil americano voava em sua direção a 24 000 quilômetros por hora. Os satélites de observação não conseguiam ver o suposto míssil, mas os computadores confirmaram a informação.
Petrov hesitou. Ele sabia a delicadeza desse assunto, que poderia envolver a extinção humana. Raciocinou que as máquinas podiam se enganar e interpretou o aviso como um erro: “afinal, se fosse uma guerra, os americanos não lançariam só um míssil”. Então, o registrou como um alarme falso.
Teria sido fácil se parasse por aí. Minutos depois, o alerta soou novamente: um segundo míssil americano, e, depois, um terceiro, um quarto e um quinto. Piscava na tela do monitor, em letras vermelhas, a palavra natinats (iniciar).
Petrov manteve-se impassível. Ele ainda acreditava que o sistema estava errado, mas não tinha outras fontes para checar a informação e confirmar suas suspeitas. Os radares terrestres só detectariam os mísseis quando estivessem visíveis na linha do horizonte — seria tarde demais.
O tenente-coronel sabia que não havia margem para dúvidas. Se ele seguisse o protocolo e alertasse seus superiores, centenas de mísseis nucleares seriam disparados em direção aos Estados Unidos e, em apenas uma hora, acabariam com a vida de milhões de pessoas, talvez chegando aos bilhões como resultado final.
Petrov, mais do que muitos oficiais soviéticos e estadunidenses, sabia que o povo não tinha responsabilidade sobre a imprudência de seus governantes e lembrava, numa época em que isso era desensinado, que o país inimigo era composto de seres humanos.
Confiando em sua intuição, Petrov não comunicou nada. Se estivesse errado, o mundo cairia sobre sua cabeça, literalmente. 13 minutos se passaram. O silêncio era absoluto dentro e fora do comando militar. Logo o radar confirmou que não havia nenhum ataque. Nenhum míssil ou destruição.
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