Aprisionados nos campos de concentração, Rudolf Vrba e Alfred Wetzler coletaram informações que foram responsáveis por revelar a farsa da SS
André Nogueira Publicado em 09/12/2019, às 10h59 - Atualizado em 11/02/2022, às 08h00
Dois homens de origem judia entraram para a História como fugitivos do brutal complexo de Auschwitz-Birkenau com o compromisso de expor ao mundo os horrores que ocorriam no Leste Europeu na mão dos nazistas. Estes eram Rudolf Vrba e Alfred Wetzler, o primeiro de 19 anos e o segundo de 26 durante o ocorrido.
Vrba havia trabalhado, por quase um ano, num Comando de Compensação responsável pela recepção dos trens em Auschwitz para separar os cadáveres e reunir as bagagens dos deportados que seriam enviadas para triagem. Nesse posto, o prisioneiro fez conseguiu memorizar o máximo dos locais de origem de cada trem e cada um de seus contingentes.
Em 1943, Vrba foi transferido para Birkenau, onde tornou-se registrador, cargo que permitia o contato com os recém-chegados no campo de trabalho forçado. Com a mesma lógica que tinha no outro campo, se esforçou para memorizar os detalhes das redes de transporte que chegavam lá, além de informações dos prisioneiros, como seus códigos das tatuagens e suas origens.
Nesse contexto, Vrba entrou contatou diversas vítimas do sistema nazista, incluindo um campo de tchecos — isso porque seu trabalho lhe dava considerável mobilidade. No local, conseguiu transitar com as suas anotações e conseguia se misturar entre os prisioneiros, conseguindo assim trocar informações com quem estava em Birkenau sem chamar atenção. Existiram casos em que ele conseguia trazer mensagens escritas ao setor e encaminhar ocasionais respostas.
Os prisioneiros tchecos passaram por um toque de recolher imposto pela SS antes do extermínio por gás. Muitos dos membros assassinados do campo, porém, foram transferidos para o setor de Vrba, o que possibilitou contato ilimitado com os cativos.
Esse ofício também foi exercido por Alfred Wetzler, que trabalhava no necrotério de Birkenau. Isso possibilitou que esse prisioneiro coletasse informações relevantes sobre as técnicas de assassinato dos nazistas e dos processos industriais do Holocausto.
Com base na memória, ele e Vrba acumularam informações sobre as mortes por gás no campo, e as relações dessas informações com os países de origem das vítimas e as dimensões do campo.
Durante o planejamento da fuga dessa dupla, também foi possível entrar em contato com os judeus que limpavam as câmaras de gás. Esses trabalhadores escravos foram essenciais para informar Vrba e Wetzler sobre o funcionamento e as dimensões das incubadoras da morte.
Nos momentos que antecederam ao subterfúgio, os dois prisioneiros conseguiram se esconder num espaço feito para eles por diversos outros trabalhadores escravos que colaboraram com os fugitivos. Tratava-se de uma brecha numa pilha de madeira na construção de um novo setor do campo. Com base em conselhos de prisioneiros soviéticos, eles borrifaram gasolina e tabaco no local do esconderijo para impedir que os cães encontrassem seus rastros.
No dia da fuga, Vrba e Wetzler se deslocaram ao abrigo em questão. Em seguida, as sirenes do campo foram disparadas, anunciando o desaparecimento de dois prisioneiros. Guardas e cães de caça foram soltos pelo campo e uma barricada de solados da SS foi feito ao redor da área. O caos durou três dias.
Nesses tempo, os dois ficaram escondidos, sem serem detectados. E funcionou. Os guardas do campo concluíram que a dupla havia escapado. Assim, a normalidade do campo voltou a existir. Depois de suspensa a investigação na área externa, os dois colegas passaram a linha das torres de vigia e correram em direção ao sul, rumo à Eslováquia.
Evitando contato com os colonos alemães que ocupavam a Polônia, Vrba e Wetzler se direcionaram às montanhas longes das estradas. Sem chamar atenção, caminharam durante a noite pelas florestas até encontrarem um polonês que colaborou com a dupla, guiando em direção à fronteira. Chegaram à Eslováquia em 21 de abril de 1944. E lá, se refugiaram numa fazenda pequena.
Em seguida, os dois enviaram diversas informações a Genebra, sobre as atrocidades cometidas pelos nazistas. Isso aumentou o conhecimento dos Aliados sobre os crimes de guerra da Alemanha.
Junto com um relatório de uma dupla (Mordowicz e Rosin) sobre a deportação de judeus húngaros na Polônia, foi anunciado o relatório dos fugitivos sobre as técnicas de assassinato por gás em Auschwitz-Birkenau. Foi a primeira vez que as informações chegaram à Comunidade Internacional.
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