Construído em 1625, o local já abrigou civis na Era Vitoriana e prisioneiros militares durante a Segunda Guerra
Alana Sousa Publicado em 03/03/2020, às 07h00
Um muro extenso e arames farpados cercam o HMP Shepton Mallet, a prisão mais antiga do Reino Unido. Também chamado de Cornhill, o local já foi palco de enforcamentos e fuzilamentos e abrigava seus prisioneiros em situações miseráveis. O prédio é conhecido também por ser supostamente mal assombrado.
Localizado na cidade de Shepton Mallet, na Inglaterra, a estrutura foi construída como uma Casa de Correção, em 1625, para lá eram enviados homens, mulheres e crianças. Desde o período, a prisão já era descrita como um lugar mal preservado, no qual os presos eram submetidos a uma forma cruel de sobrevivência. Em 1773, um comissário do Parlamento britânico visitou Cornhill e escreveu que as pessoas que lá viviam eram “vistas sofrendo de doenças, expirando no chão, em células repugnantes, de febre pestilenta e na varíola confluente”.
O número exato de mortes é desconhecido. Mas documentos oficiais registraram a execução de sete civis. Entre eles Samuel Rylands, que espancou até a morte uma criança de 10 anos; Henry Dainton, que afogou sua esposa no rio Avon; e Charles Squires, que assassinou sua esposa e filho de 2 anos.
Um dos momentos mais marcantes — e terríveis — do HMP envolve a morte de 12 homens. Antes de serem executados, eles foram torturados e, já mortos, tiveram suas entranhas arrancadas e queimadas. Depois, suas cabeças foram decepadas e apresentadas empaladas pela cidade.
Durante anos o Shepton Mallet ficou marcado pelas condições precárias. Tal marca atingiu níveis extremos quando o local passou a receber pessoas condenadas a trabalho forçado. Ao decorrer do tempo, a quantidade de sentenciados decaiu, o que resultou no fechamento do presídio, em 1930. Todos os 51 detentos foram realocados, e o prédio permaneceu vazio até o início da Segunda Guerra Mundial.
Em outubro de 1939, o Cornhill passou a ser usado como prisão militar, abrigando soldados e prisioneiros das Forças Armadas Britânicas. Novamente, a prisão foi palco de inúmeras execuções, dessa vez associadas também ao racismo.
Cerca de 18 soldados foram mortos pelo esquadrão de tiro e pelo bloco de execução, dos quais 10 eram negros, e 3 eram hispânicos. Um documentário produzido pelo Channel 4, intitulado Glasshouse, apontou o fato de que 90% do exército era formado por oficiais brancos, e havia um número desproporcional de homens negros sendo mortos.
Prisão mal assombrada
As execuções eram sempre realizadas após a meia noite, por volta da 1h da madrugada. O que, para a crença popular, auxiliou na prisão espiritual dos sentenciados à morte. Existem relatos de pessoas que alegam terem sentido ou, até mesmo, visto fantasmas nos corredores do Cornhill.
Muitos homens e mulheres sofreram tortura entes de morrer, foram arrastados pelo bloco de execução e, algumas vezes, esquartejados. Daí surgiu a lenda de que suas almas estão presas e assombram o local.
Entre os fantasmas mais famosos, está o da Dama Branca, uma mulher que teria sido executada injustamente pela morte de seu noivo. Além de avistamentos, uma energia densa e negativa está presente pelos corredores da prisão. Onde o soldado Lee Davis também persegue quem ousa andar pelos blocos abandonados do Shepton Mallet.
As últimas palavras do espírito do capitão Philip William Ryal, de 1914, podem ser ouvidas do quintal. Antes de pular do telhado ele teria gritado “voltar, voltar, voltar”.
Charlie Lawson, o guia turístico, responsável por fazer passeios diurnos e noturnos, afirma que os visitantes reagem de diferentes maneiras ao adentrar os lugares mais sinistros do edifício. Sendo que alguns relatam, medo, arrepios, e um sentimento de angústia. Ele mesmo afirmou já ter visto parte do vestido da Dama Branca.
O Cornhill foi fechado em 2013, após séculos de horror. Como uma forma do governo britânico cortar custos, conforme explicou o secretário da Justiça, Chris Grayling. No entanto, até hoje, as lendas perpetuam, e o local atrai curiosos e caçadores de fantasmas ao redor do mundo.
+Saiba mais sobre o tema através das obras abaixo
Estarão as prisões obsoletas?, Angela Davis (2018) - https://amzn.to/31UXctz
Presos que menstruam: A brutal vida das mulheres - tratadas como homens - nas prisões brasileiras, Nana Queiroz (e-book) - https://amzn.to/2SQJHHs
Manicômios, prisões e conventos, Erving Goffman (2015) - https://amzn.to/3258P1n
As prisões da miséria, Loïc Wacquant (2001) - https://amzn.to/2SriHyW
História das prisões no Brasil, Clarissa Nunes Maia, Marcos Paulo Pedrosa Costa, Marcos Luiz Bretas, Flávio de Sá Neto (e-book) - https://amzn.to/3bCNBfw
Vale lembrar que os preços e a quantidade disponível dos produtos condizem com os da data da publicação deste post. Além disso, assinantes Amazon Prime recebem os produtos com mais rapidez e frete grátis, e a revista Aventuras na História pode ganhar uma parcela das vendas ou outro tipo de compensação pelos links nesta página.
Dia do Teatro: Os Impactos do capitalismo na cultura e sociedade do século 21
Irmãos Menendez: Como os familiares de Lyle e Erik enxergam o caso?
Há 5 mil anos: Confira a última refeição feita por Ötzi
Irmãos Menendez: Veja o que aconteceu com as figuras mostradas na série
Irmãos Menendez: O que aconteceu com o psicólogo de Lyle e Erik?
Conheça Grande Adria, continente perdido há mais de 100 milhões de anos