A derrota alemã mudou os rumos da Segunda Guerra, fortaleceu Stalin e transformou a União Soviética em superpotência
Redação AH Publicado em 02/02/2019, às 09h00
Neste dia, há 76 anos, o general Friedrich Paulus, contrariando ordens expressas de Hitler, enviava um telegrama para Berlin dizendo que lutara até onde dera. E se entregava à mercê dos inimigos soviéticos. Centenas de milhares de militares, incluindo 22 generais, iriam com ele. No total, os alemães perderam até 868 mil efetivos, mais 900 aviões e 1500 tanques perdidos – sem contar outros 744 e 1666 capturados em condições de uso pelos soviéticos.
Era o início da vitória dos Aliados na campanha europeia. A luta do Exército Vermelho na Batalha de Stalingrado abriu uma ferida no Reich que o fez sangrar até a morte. Os efeitos do conflito foram sentidos em todo o planeta, especialmente na Europa ocupada, e influenciaram movimentos de resistência até então adormecidos.
Até mesmo para os conservadores e oposicionistas do regime comunista era impossível negar o sacrifício das tropas soviéticas diante do violento ataque alemão. Stalingrado dividiu a História da Segunda Guerra em duas partes. Serviu para impulsionar o comunismo ao redor do mundo e colocou a União Soviética em um novo patamar na relação de forças globais.
Imagens das fileiras de prisioneiros alemães serpenteando a paisagem tingida de branco pela neve correram o planeta. Cenas de Friedrich Paulus sendo açoitado por seu tique nervoso foram exibidas à exaustão. Na Grã-Bretanha, o rei Jorge VI mandou forjar a Espada de Stalingrado em homenagem ao povo soviético, entregue por Winston Churchill a Stalin na Conferência de Teerã. Ali, no Oriente Médio, também foi determinada a estratégia aliada para o restante da guerra. O primeiro-ministro britânico defendeu a invasão à Alemanha pelos Bálcãs. Mas Stalin, com a vitória retumbante diante dos alemães, tinha mais força para manipular as decisões a seu favor. O destino da Europa Central e Oriental agora estava em suas mãos. A União Soviética emergia no mapa mundial como mais uma superpotência.
A escassez de roupas e acessórios apropriados levava muitos soldados a retirar o uniforme de colegas mortos no front, principalmente no caso dos brancos camuflados. A prática era tão comum que os atingidos pediam desculpas por manchar a roupa de sangue antes de desfalecer.
Enquanto isso, quando os bombardeios ficavam mais calmos, mulheres e crianças saíam dos buracos para cortar carne de cavalos mortos antes que ratos e cachorros se apoderassem da carcaça. Mais ágeis e menores, as crianças costumavam obter mais sucesso nesse tipo de missão. Desesperados com o frio, alemães matavam vira-latas para transformar sua pele em luvas. Cavalos também tinham utilidade: viravam túnicas de couro.
O transporte também era um problema grave para ambos os lados. A escassez de cavalos, por exemplo, era resolvida pelos alemães com prisioneiros de guerra no lugar de animais de tração. E os mais lentos eram fuzilados.
A guerra de nervos tinha requintes de curiosa crueldade. Não raro, os alto-falantes russos mais próximos das linhas alemãs soavam um enervante e monótono tique-taque de relógio, seguido pela afirmação de que um alemão morria a cada dez segundos na frente oriental. E, sem materiais à disposição, os médicos usavam o que tinham à mão para improvisar materiais. Fabricavam vacinas contra tifo a partir do piolho; artigos de seda eram desfiados para fazer fios cirúrgicos; pedaços de lata viravam bisturis; e partes de metal transformavam-se até em medidores de pressão arterial.
A fome levou mulheres a se prostituir em troca de alimento para o filho ou para a própria sobrevivência. Relatos afirmam que existiam bordeis cravados nas ruínas de Stalingrado.
E de vitória. Depois da experiência em Stalingrado, chegou a hora de os russos darem o troco, com direito a infantaria, divisões motorizadas e aéreas do Exército Vermelho. O imponente Reichstag do Führer, em Berlim, caiu sob o manto da bandeira soviética. A foice e o martelo tremularam triunfantes no alto do prédio que simbolizava o poderio nazista. Numa campanha implacável, que durou apenas nove dias, os russos revidaram, com sobra, a destruição que o exército alemão provocara em sua terra nos anos anteriores. No dia 7 de maio de 1945, o general Alfred Jodl, do Alto Comando Germânico, assinou a rendição incondicional das forças alemãs. Àquela altura, Hitler já havia se retirado, na surdina, para cometer seu polêmico suicídio.
• 9 milhões de mortos e 18 milhões de feridos no Exército Vermelho foi o saldo da invasão da URSS. Dos 4,5 milhões de prisioneiros de guerra levados pela Wehrmacht, apenas 1,8 milhão retornaram vivos. Estima-se que as baixas de civis chegaram a 18 milhões. Ou seja, o total de soviéticos mortos na guerra foi de cerca de 27 milhões de pessoas.
• 13 500 soldados do Exército Vermelho foram executados pelas autoridades soviéticas em Stalingrado, vítimas do expurgo introduzido em 1937. Essa perseguição aos chamados “traidores da Pátria” implodiu as forças armadas russas e teve conseqüências trágicas, principalmente, nos primeiros meses da invasão da URSS. Desmantelado, o Exército Vermelho só tinha uma resposta para os violentos ataques alemães no início do conflito: a retirada.
• Mais de 3 milhões de soldados do Exército Vermelho morreram de doença, frio, fome e maus-tratos nos campos de prisioneiros alemães, de um total de 5,7 milhões que passaram por eles.
• Mais de 10 mil civis, incluindo 1 000 crianças, sobreviveram ao cerco. Ao contrário dos soldados, elas não recebiam rações do exército. No final do conflito, foram achadas nos porões e esgotos da cidade, à beira da inanição.
• 25 milhões de projéteis foram disparados pelas tropas do Reich na URSS só em setembro de 1941. Os soldados alemães ficavam tão atordoados com os ataques noturnos dos soviéticos que atiravam em qualquer coisa que se mexesse à noite.
• Mais de 60 mil civis de Stalingrado foram levados para a Alemanha para trabalharem como escravos, de acordo com fontes soviéticas. Hitler dera a ordem para seus comandados de que escolhessem os mais fortes e “adequados” para o trabalho.
• Cerca de 1 500 fábricas foram evacuadas das regiões ocidentais da União Soviética e remontadas além do Volga.
• O escalão tinha influência decisiva nas chances de sobrevivência das tropas. Em Stalingrado, morreram mais de e sargentos, 55% de oficiais subalternos e apenas 5% de superiores.
• Até abril de 1943, mais de 55 mil prisioneiros alemães morreram nos campos ao redor de Stalingrado, vítimas de maus-tratos, doenças e execuções, potencializadas pelo forte sentimento de revanche.
• Depois da rendição, o índice de mortes nos vagões que levavam alemães para as prisões era alto. De 100 homens, apenas 8 sobreviviam.
Stalingrado - O Cerco Fatal, Antony Beevor, Record, 560 páginas
The Road to Stalingrad - Stalin’s War with Germany, John Erickson, Yale University Press, 606 páginas
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