Há 36 anos, um avião civil coreano era cruelmente derrubado pela União Soviética
Neste dia, em 1983, uma aeronave da companhia KAL era abatida por um caça soviético, dando início a uma das piores crises da Guerra Fria
Thiago Lincolins e Lucas Vasconcellos Publicado em 01/09/2019, às 07h00
Era 1º de setembro de 1983 quando um porta-voz da companhia Korean Air Lines, correu pelos saguões do Aeroporto Internacional Kimpo (atual Gimpo), em Seul, na Coreia do Sul. Em uma das salas de espera, familiares e amigos próximos esperavam os viajantes que haviam partido de Nova York, no dia 31, pelo voo 007, um Boeing 747-230B, que até então tinha como status atrasado no painel de horários.
O funcionário tinha o seguinte a dizer: o jumbo havia sumido do mapa com mais de 200 passageiros que estavam a bordo. A ansiedade que tomava conta do local foi substituída pelo pânico.
Antes de seguir para Seul, o avião fez uma escala no Aeroporto Internacional de Anchorage, no Alasca, onde foi reabastecido e supervisionado. O comando da aeronave foi assumido pelo capitão Chun Byung-in, pelo copiloto Doung-hui, e por Kim Eui-dong, engenheiro de voo. Após a parada no Alasca, o jumbo decolou novamente às 4 horas de 31 de agosto.
Horas após a decolagem, os passageiros ouviram o trivial anúncio: “Bom dia, senhoras e senhores, vamos aterrissar no Aeroporto Internacional Seul Gimpo em cerca de três horas. A hora local em Seul é 3h da madrugada. Antes do pouso, serviremos bebidas e café da manhã, obrigado”. No entanto, não haveria refeições – e muito menos aterrissagem. Em 26 minutos, um pouso de emergência foi anunciado. Máscaras de oxigênio começaram a cair na cabeça dos passageiros. Provavelmente ninguém percebeu, mas seu avião civil acabara de ser abatido por um caça.
Ironia do destino
Em 1983, a Guerra Fria era uma realidade diária. Após as tentativas de reaproximação da Era Carter (1977-1981), ela havia sido reincendiada pela política do presidente Ronald Reagan, que partiu para uma tentativa de vencê-la, rearmando o país e reiniciando a política de patrocínio de grupos anticomunistas. E também – o mais crítico – prometendo um escudo antimísseis nucleares, o que acabaria com o precário equilíbrio da chamada Destruição Mútua Assegurada, na qual ninguém podia atacar, por medo da retaliação.
Esse foi o contexto em que a aeronave entrou por aciente no espaço aéreo da URSS. A ação foi vista como uma provocação dos Estados Unidos. Na época, havia voos entre os países, mas os aviões deviam passar por rotas muito específicas. Fora delas, podia ser visto como uma ação de guerra.
“A navegação nessa área era extremamente crítica, pois você não iria querer entrar no espaço aéreo soviético, a menos, é claro, se lhe dissessem para entrar nessa área da Rússia”, diz o capitão J.C. Day, autor de Salute and Execute: One Man's Journey Through the Ranks of the Military (Saudação e Execução: a Jornada de um Homem pelas Fileiras do Exército).
Os soviéticos já haviam vivenciado um episódio parecido. Em abril de 1978, outro boeing da Korean Air Lines, que vinha da França, com destino a Seul, também fez escala no Alasca. Com um sistema ineficiente e erros de cálculo, o avião acabou sendo desviado para o espaço aéreo soviético. Não demorou muito para que fosse interceptado pela defesa antiaérea soviética. Dessa vez, o avião conseguiu se safar. Realizou um pouso de emergência no lago congelado de Korpiyarvi. Dos 97 passageiros, apenas dois faleceram.
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