O renomado escritor se envolveu em uma briga com o amante de sua esposa, Ana Emília Ribeiro
Paola Churchill Publicado em 14/04/2020, às 17h00
Euclides da Cunha foi e ainda é um dos maiores nomes da literatura brasileira. Contudo, uma das partes mais impressionantes na vida do autor de Os sertões foi a maneira na qual ele morreu: envolvendo tiros, traições e uma boa pitada de loucura.
Para entender melhor essa estranha história, precisamos voltar para o século passado, mais precisamente para 1909. Euclides era uma das pessoas mais famosas da época e era apaixonado por sua esposa, Ana Emília Ribeiro.
Os dois se casaram muito cedo, com apenas 18 anos. Seu marido era um homem tímido e não demonstrava muito seus sentimentos pela jovem, além disso, passava grandes temporadas fora de casa, cobrindo a campanha de Canudos durante três meses ou explorando a Amazônia por 13 meses. Isso só enfraquecia cada vez mais o casamento dos dois.
O amante
Ana sentia-se sozinha e queria atenção, foi assim que conheceu Dilermando de Assis, um cadete 16 anos mais jovem que ela. Os dois viviam na mesma pensão e não demorou muito para começarem uma paixão avassaladora.
Mesmo com a volta de seu marido, o romance extraconjugal continuava, inclusive, com o amante, a mulher teve dois filhos, mas enganava o escritor dizendo que ele era o verdadeiro pai das crianças.
O casal não tinha pudor algum, enquanto Euclides viajava pelo Brasil para escrever suas histórias, eles se encontravam diariamente e viviam como se estivessem casados. Os parentes próximos e vizinhos começaram a desconfiar que algo de errado acontecia e começou a circular pela cidade o boato da traição.
Tragédia de Piedade
Não demorou muito para que o jornalista ficasse sabendo das puladas de cerca de sua esposa. Ele já tinha certa desconfiança, pois seu suposto filho mais novo, Luís, tinha o cabelo bem loiro, enquanto todos da família dele e de Ana, eram morenos.
Foram meses de angústias e brigas na casa dos Cunha. A dona de casa mentia descaradamente para o marido, dizendo que os rumores não passavam de maldade dos vizinhos, que tinham inveja dos dois e queriam fazer de tudo para destruir seu casamento.
Ana e Dilermando estavam mais cautelosos, os encontros agora aconteciam na casa do irmão do cadete, o jogador de futebol Dinorah. Mas, Euclides descobriu o esconderijo dos pombinhos e irado, planejou sua vingança.
Na manhã do dia 15 de agosto de 1909, Euclides da Cunha se vestiu todo de preto. Passou a noite anterior em claro, fumando sem parar e pensando em seu plano para acabar com o amante de sua mulher.
Visitou seu primo Nestor, em Botafogo, para pedir o revólver dele emprestado. Logo após, pegou o trem, rumo ao bairro de Piedade. Ao chegar à casa de número 214, bateu duas vezes na porta e foi recebido por Ana.
Euclides arrebentou a porta e atirou à queima-roupa em Dilermando. Ao tentar socorrer o irmão, Dinorah levou dois tiros, ficando paraplégico. Começou, então, o duelo entre o autor e o cadete, os dois começam a brigar no jardim da casa. Entre gritos e xingamentos, Dilermando furioso conseguiu pegar a arma de Euclides e atirou no jornalista.
Em depoimento, o homem foi absolvido de todas as acusações, alegando legítima defesa. Euclides morreu no mesmo dia, não resistindo aos ferimentos.
Em nome do pai
Após a morte de Euclides, Ana e seu verdadeiro amor, se casaram em 1911. Mas, o casal que pensava que nada poderia mais separá-los, passou por mais uma tragédia. No dia 4 de julho de 1916, Euclides da Cunha Filho, o Quindinho, que tinha acabado de completar 22 anos, queria vingar a morte do seu pai.
Foi até o Fórum do Rio de Janeiro, aonde o padrasto trabalhava, e com a mesma arma utilizada por seu pai, disparou contra Dilermando que, mesmo ferido, conseguiu matá-lo. Um pouco após a nova tragédia, Ana descobriu que o marido tinha uma amante, Marieta, com a qual se casou após a separação.
A mulher passou o resto da vida sozinha na Ilha de Paquetá, no Rio de Janeiro.
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