“É como se tivesse vindo de outro planeta”, disse o pesquisador responsável pela pesquisa do fóssil do animal
Isabela Barreiros Publicado em 26/12/2021, às 08h00
Há mais de um século, os primeiros fósseis de uma criatura bizarra foram descobertos. Desde então, a minhoca vem intrigando paleontólogos ao redor do mundo e foi descrita pela primeira vez somente na década de 1970, pelo pesquisador Simon Conway Morris.
Ele a batizou de Hallucigenia, que vem do latim “hallucinatio”, significando alucinação. Tudo isso devido a sua característica mais marcante: uma forma especialmente estranha e que quase lembra algo alienígena.
No entanto, embora a ciência tenha conhecimento da espécie há tanto tempo, a verdade é que a cabeça do animal sempre ficava faltando nos espécimes encontrados, o que dificultou o trabalho dos especialistas para sua identificação.
Fósseis completos da minhoca pré-histórica foram encontrados somente em 2015, na jazida de fósseis conhecida como Burgess Shale, localizada nas Montanhas Rochosas do Canadá. O local já esteve submerso e guarda vários tesouros do passado.
Foi a partir dessa descoberta que os cientistas puderam finalmente analisar o “rosto” do estranho animal que viveu há mais de 500 milhões de anos, observando pela primeira vez seu “sorriso” misterioso, que, inclusive, continha dentes.
Os fósseis de Hallucigenia encontrados nas Montanhas Rochosas do Canadá provaram-se como as peças que faltavam para completar o quebra-cabeça científico que causava tanta confusão entre os pesquisadores.
"Quando colocamos o fóssil no microscópio, ficamos encantados em ver não apenas um minúsculo par de olhos, mas também um sorrisinho semicircular meio descarado", disse Martin Smith, pesquisador da Universidade de Cambridge e corresponsável pelo estudo.
"Parecia que o fóssil estava sorrindo para nós, rindo dos segredos que estava escondendo até agora”, acrescentou à agência de notícias AFP.
A partir dos novos esqueletos identificados, os pesquisadores ainda perceberam a presença de dentes, que faziam um caminho bem longo pelo minúsculo corpo do animal, que mede entre 1 e 5 centímetros. Os dentes iam de sua “arcada” até o estômago.
Segundo Smith, o anel de dentes promoveria a aspiração de alimentos e estaria cercando a boca da Hallucigenia. Na garganta, haveria ainda “uma fileira de dentes afiados como alfinetes" que “agiria como uma catraca para impedir que o bolo não voltasse".
Os debates sobre a Hallucigenia também ultrapassaram o formato de sua cabeça, que tinha formato de colher, quando os fósseis em território canadense foram descobertos, transformando a concepção que cientistas tinham sobre a espécie.
Eles notaram também que a criatura marinha foi descrita ao contrário quando foi desenhada pela primeira vez; ou seja, sua cabeça e cauda estavam em posições opostas do que o esperado.
"Só recentemente descobrimos qual lado era o dos pés e qual era o das costas. Também havia muita confusão sobre o que era cabeça e o que era cauda”, contou Smith sobre a pesquisa.
Com parte do corpo em formato de tubo, coberto por espinhos, e o outro lado com garras pegajosas, a minhoca pré-histórica com penas e patas pode claramente ser classificada como um animal estranho.
E foi, inclusive, pelos pesquisadores que a analisaram. Para Smith, a aparência da Hallucigenia é “totalmente surreal”. “É como se tivesse vindo de outro planeta", acrescentou.
A pesquisadora Xiaoya Ma, do Natural History Museum, considera que a descoberta poderá ajudar a ciência a saber mais sobre o período Cambriano e a evolução das espécies naquela época, entre 542 milhões e 488 milhões de anos atrás.
"Essa descoberta vai ampliar nosso conhecimentos sobre a evolução primitiva na linha evolucionária que resultou no que hoje conhecemos como vermes-aveludados", afirmou a especialista à BBC News.
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