O líder comunista foi um dos mais ferrenhos opositores ao regime militar e foi vítima de um terrível caso de tortura
Isabela Barreiros Publicado em 12/11/2019, às 18h47
Recife foi um dos primeiros e maiores centros de violência política da ditadura. Diversos civis foram mortos no primeiro ano após o golpe em passeatas em favor da democracia. Neste cenário, o primeiro momento de tortura de uma figura pública após 1964 atingiu o líder das Ligas Camponesas Gregório Bezerra, nas mãos do coronel Darcy Villocq.
O militar ordenou que Bezerra fosse amarrado em um jipe e arrastado por soldados pelas ruas de Recife, enquanto seria agredido e xingado, como forma de humilhação. Depois disso, ele inda foi espancado por um oficial do Exército com uma barra de ferro. As imagens da terrível cena foram transmitidas pela TV no então Repórter Esso.
Felizmente, por ação de Justino Alves Bastos, o crime foi impedido, mas Bezerra ainda foi submetido a sessões de coronhadas e teve seus pés queimados com soda cáustica.
Entre 1964 e 1968, foram torturados e mortos 34 opositores do regime. O comunista pernambucano foi considerado, mais tarde, o primeiro torturado pela ditadura militar, com o acontecimento datando de 2 de abril. A atuação de Bezerra em movimentos sociais e seu envolvimento com a política brasileira, no entanto, são de longa data, sendo anteriores a sua oposição ao regime.
Nascido na região agreste do estado de Pernambuco, ele trabalhava desde muito cedo na lavoura de cana-de-açúcar para ajudar sua família. Mas quando seus pais faleceram, quando era ainda muito jovem, migrou para Recife, no intuito de ficar com os donos da terra em que trabalhava e também para estudar — porém nada disso aconteceu.
Sem teto, trabalhou em diversos empregos para tentar, minimamente, se manter na cidade grande. Foi carregador de bagagens, ajudante de obras e jornaleiro. Nesse último serviço foi onde Bezerra começou a se interessar por política. Permaneceu analfabeto até seus 25 anos de idade, mas seus colegas liam para ele o conteúdo dos jornais que eram distribuídos por eles, o que acendeu a chama da política dentro do futuro comunista.
A partir daí, ele começou a se mobilizar junto a movimentos sociais na cidade de Recife. Foi preso pela primeira vez em 1917, após participar de uma manifestação por melhores salários e em apoio à Revolução Bolchevique na Rússia. Mas essa foi apenas a prisão inicial do revolucionário: ele ainda foi condenado mais quatro vezes, passando 22 anos de sua vida por trás das grades.
Em 1930, ele se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB). Já em 1935, participou da fundação da Aliança Nacional Libertadora (ANL). Durante todo esse tempo, tornou-se um dos maiores defensores da democracia no Brasil.
Em 1969, alguns militantes opositores ao regime sequestraram o embaixador estadunidense Charles Burke Elbrick e pediam, em troca dele, a libertação de 15 presos políticos, sendo Gregório Bezerra um deles. Depois disso, o militante foi exilado e passou 10 anos na União Soviética, voltando apenas após a promulgação da anistia, em 1979.
Bezerra morreu em 22 de outubro de 1983, em São Paulo. Seu corpo foi velado na Assembléia Legislativa de Pernambuco (Alepe) por milhares de pessoas inspiradas por sua trajetória. O poema História de um Valente de Ferreira Gullar, a canção E agora, Gregório de Leonardo Bursztyn e Século de Ferro e Flor da banda Subversivos foram feitas em homenagem a ele. “Não luto contra pessoas, luto contra o sistema que explora e esmaga a maioria do povo”, disse.
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