Em sua estadia nos trópicos, o pintor retratou sua visão do país em diversas obras, sendo 'Manaò Tupapaú' a mais icônica delas
Redação Publicado em 13/06/2021, às 09h00
Nascido em Paris, em 1848, Paul Gauguin tinha menos de 1 ano quando embarcou para o Peru — era filho de um jornalista francês e de uma escritora peruana. Foi seu primeiro contato com os trópicos, centrais em sua vida e obra.
De volta à capital francesa em 1855, entrou para a Marinha Mercante e teve a chance de visitar outros pontos tropicais, como o Panamá. Mas a pintura, ainda nas horas vagas, só veio nos anos 1870, quando trabalhava como corretor de valores. Em 1876, teve telas aceitas em uma exposição. Por sua vontade, foram postas junto às de impressionistas.
A transição para pintor em tempo integral se deu por volta de 1882, quando problemas financeiros levaram Gauguin, sua esposa dinamarquesa e os cinco filhos a viver em Copenhague. A estadia durou pouco: o pintor abandonou tudo em 1887 e passou meses em locais como Martinica e, novamente, o Panamá.
Pobre, voltou à França carregando telas que já traziam cores mais vivas. No fim da década de 1880, em visitas à Pont-Aven, na Bretanha, um reduto dos artistas, ele avança em seu estilo, com formas bem delineadas, e encontra Degas, Charles Laval, Émile Bernard e Vincent van Gogh — com quem passou dois meses em Arles, em 1888, quando o holandês teve a orelha cortada, ao que tudo indica após uma briga entre eles.
O contato com pavilhões coloniais na 'Exposição Universal' de 1889 plantaram de vez em Gauguin a ideia de viver em local exótico. O destino foi o Taiti, em 1891, onde pintou o primitivo da região e as formas das mulheres. São dessa fase algumas de suas principais obras, como 'Manaò Tupapaú'.
Sem sucesso financeiro em mais um retorno a Paris, voltou ao Taiti. Morreu em 1903, nas Ilhas Marquesas. Em 'A Expressão Simbólica de Gauguin', a mestre em artes visuais Lívia Krassuski o define como “um dos primeiros a compreender que poderia aproximar a pintura da poesia ao libertar a cor e a forma de suas funções descritivas".
"Ao invés de fazer a pintura de símbolos, suas pinturas eram símbolos em si mesmas”, narrou Lívia. Pós-impressionista e simbolista, ele influenciou a vanguarda francesa e o modernismo. Chamou a própria arte de “selvagem”.
A figura feminina está deitada sobre um pareô (traje típico do Taiti) azul com tons de amarelo. É uma das amantes de Gauguin, na cabana dos dois. Sobre o fundo violeta aparecem flores que, de acordo com relatos do pintor, foram feitas para se parecerem com faíscas elétricas.
Algo tido como essencial na arte de Gauguin é o mistério. Nesta tela, o componente tenebroso está na figura à esquerda, apoiada ao pé da cama, encarando a mulher. É um tupapaú, fantasma que aterroriza o povo do Taiti, especialmente à noite, quando todos evitam sair sozinhos às ruas. Já manaò é uma palavra usada para representações mentais e significa pensar, acreditar.
Muito do que Gauguin pintava ia além do que estava retratado e era percebido pelas cores e formas. Ele mesmo explicou: “O tecido tem que ser amarelo, não só porque essa cor aparece como uma surpresa para o observador como também porque cria ilusão de um cenário iluminado por uma lâmpada, tornando assim desnecessário simulá-la. O fundo deve parecer um pouco aterrorizante (...) a cor perfeita é o violeta”.
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