Em 2016, empreendimento chinês na Malásia investiu US$ 100 bilhões para construção de Forest City; mas hoje sua ocupação é de apenas 1%
Fabio Previdelli Publicado em 14/07/2024, às 09h00
"Um paraíso dos sonhos para toda a humanidade". Foi com esse objetivo que Forest City começou a ser construída em meados de 2016. Hoje, porém, a realidade é outra. Forest City passou de uma mega empreendimento de luxo para uma 'luxuosa' cidade fantasma.
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Oito anos depois do início de sua construção, o que se vê é uma praia deserta, centros comerciais fechados, apartamentos sem moradores… Quase nenhum sinal de vida, nem mesmo a luz do dia. Apesar do investimento de cerca de 500 bilhões de reais. Mas o quê aconteceu?
Em 2016, a Country Garden, considerada a maior incorporadora imobiliária da China, começou a construção de Forest City. Àquela altura, contextualiza matéria da BBC, o país vivia o auge de seu mercado imobiliário, com incorporadoras realizando investimentos tanto no país como no exterior — principalmente para a classe média.
É justamente o segundo cenário que abrange Forest City. Apresentando um mega projeto de US$ 100 bilhões (R$ 493 bilhões em cotação da época), a incorporadora visava erguer uma metrópole ecológica em Johor, no extremo sul da Malásia; que contaria com bares, restaurantes, campo de golfe e até mesmo um parque aquático.
A expectativa é que Forest City, que ocupa um terreno recuperado, fosse o lar de mais de um milhão de pessoas. Como já dito, o projeto era destino às pessoas de classe média, afinal, segundo a BBC, um apartamento por lá custaria em torno de 1,14 milhões de dólares — enquanto o preço médio em Johor Bahru, cidade mais próxima, é de cerca de US$ 141.000.
Entretanto, oito anos depois, apenas 15% do projeto foi concluído e estima-se que pouco mais de 1% do empreendimento esteja ocupado. Forest City, ainda, é uma grande dor de cabeça para o Country Garden, que enfrenta uma dívida de quase 200 bilhões de dólares. Ainda assim, a incorporadora está “otimista” com a conclusão do projeto. Mas o que deu errado até aqui?
Como já dito, o projeto Forest City foi concebido para ser "um paraíso dos sonhos para toda a humanidade". Mas com preços tão fora da realidade malaia, sua construção tinha como público alvo os chineses que queriam ter uma segunda casa no exterior — uma espécie de investimento para quem tivesse interesse em ganhar uma renda com aluguel ou usar o empreendimento como uma casa de verão.
Embora construída em ilhas, portanto, um lugar bem privativo, isso se tornou um grande problema para Forest City. Afinal, com o empreendimento incompleto, a grande cidade mais próxima, Johor Bahru, fica muito longe.
A atual atmosfera também contribuiu para o desinteresse de eventuais compradores, visto que é extremamente comum se deparar com a praia deserta, carros abandonados e enferrujando e muitas lojas fechadas.
Um dos grandes responsáveis pelo 'fracasso' de Forest City é a crise do mercado imobiliário chinês, principalmente depois dos limites impostos por Xi Jinping: "As casas são para viver, não para especulação", afirmou, segundo repercutiu a BBC.
Com isso, cada vez mais as incorporadoras ficaram sem dinheiro para seguir com seus projetos. Tanto é que, em outubro do ano passado, a própria Country Garden teve que abandonar projetos inacabados na Austrália.
Outro ponto crucial é a instabilidade política na Malásia. Afinal, em 2018, o então primeiro-ministro, Mahathir Mohamad, restringiu vistos para compradores chineses; uma forma de brecar o que ele classificou como uma "cidade construída para estrangeiros".
Embora o atual governo do país incentive a continuidade de Forest City, a falta de certeza de até quando esse apoio continuará, traz mais dúvidas do que certezas. A pandemia da Covid-19 e o controle sobre quanto os chines podem gastar no exterior também tiveram seus papéis no fracasso da cidade.
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