Embora o esqueleto de mil anos tenha sido encontrado com armas e seu rosto tenha uma cicatriz, pesquisadores demoraram para assumir que ela participava de batalhas
Isabela Barreiros Publicado em 01/11/2020, às 07h00
A imagem de vikings está bem clara no nosso imaginário: ao ouvir a palavra, provavelmente pensamos em homens barbudos e fortes que usam armaduras poderosas e não tem medo de nada. Uma descoberta feita em um cemitério viking em Solør, na Noruega, porém, contraria essa constatação.
Em 2019, pesquisadores começaram a analisar uma tumba e um esqueleto descoberto no local. Após alguns exames, concluíram que se tratava de uma mulher. Até aí, tudo muito fácil. A maior controvérsia viria depois: a viking foi encontrada com muitos objetos letais ao seu redor.
Erika, a Vermelha, nome dado a ela pelos especialistas envolvidos em seu estudo, estava acompanhada de armas como flechas, uma espada, uma lança e um machado. Além disso, investigações nos restos mortais revelaram que o indivíduo apresentava ainda uma ferida brutal em seu rosto. Os cientistas concluíram que o ferimento foi causado por uma espada e foi responsável por ‘amassar’ sua cabeça.
Ainda assim, muitos não a consideravam como uma guerreira viking. Segundo explicado pela arqueóloga Ella Al-Shamahi em entrevista ao The Guardian, aquele não foi considerado um túmulo de um guerreiro na época “simplesmente porque a ocupante era uma mulher”.
Reconstrução facial
Depois de muitas análises no esqueleto, chegou a hora de desenvolver uma reconstrução facial para os restos mortais tão controversos quanto especiais. De acordo com Caroline Erolin, da Universidade de Dundee no Centro de Anatomia e Identificação Humana, na Escócia, esse processo é muito complexo e não reflete exatamente a imagem da pessoa.
A pesquisadora, que foi a principal responsável pelo trabalho, explica que a reconstrução foi feita anatomicamente, indo desde os músculos até a última camada da pele humana. “A reconstrução resultante nunca é 100% precisa, mas é o suficiente para gerar o reconhecimento de alguém que os conheceu bem na vida real”, explicou.
Na reconstrução, é possível observar com clareza a lesão sofrida por Erika. Bem no meio da testa, está um ferimento muito grave, mas ainda não é possível afirmar, com certeza, se essa foi a causa da morte da mulher.Foi possível, ainda, identificar sinais de cura no local.
Para Al-Shamahi, essa é “a primeira evidência já encontrada de uma mulher viking ferida em batalha”. “Estou muito animada porque este é um rosto que não era visto há 1.000 anos. De repente, ela se tornou extremamente real”, disse.
Guerreira viking
Usando a mesma tecnologia da reconstrução facial de Erika, os pesquisadores também foram capazes de recriar o local em que ela foi enterrada. O túmulo contava com uma coleção de armas impressionantes e impressionou os especialistas.
Al-Shamahi explicou que existe uma grande probabilidade da mulher ter sido uma comandante militar, pelo modo como ela foi colocada em seu descanso final, com a cabeça apoiada em uma armadura e em uma cova “totalmente repleto de armas”. Ainda assim, existem muitos especialistas que contestam a possibilidade de mulheres terem sido guerreiras tão importantes.
Para Neil Price, professor especialista em vikings é muito possível que a hipótese da arqueóloga seja verdadeira. “Existem tantos outros túmulos no mundo viking ... Não me surpreenderia se encontrarmos mais [mulheres guerreiras]”, afirmou.
A pesquisadora explicou que mulheres poderiam estar envolvidas em ataques feitos à longa distância por meio de flechas. Elas poderiam atirar de longe, enquant estavam montadas em cavalos, colocando-as “iguais para os homens”, não necessitando do combate corpo a corpo para vencerem uma batalha.
Em 3 de dezembro do ano passado, a National Geographic colocou ao ar um documentário sobre Erika, com o nome Viking Warrior Women, apresentado por Al-Shamahi. A produção contou mais detalhes sobre a descoberta do esqueleto e o processo de reconstrução facial dos restos mortais.
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