Sapato encontrado nos destroços do Titanic - Divulgação/Universidade de Rhode Island
Titanic

Entenda o debate por trás dos possíveis restos humanos no Titanic

A discussão não é recente, no entanto, os especialistas ainda não conseguiram chegar em uma resposta única para a pergunta

Isabela Barreiros Publicado em 21/10/2020, às 16h33

A madrugada do dia 15 de abril de 1912 foi uma das mais longas da história. Naquela noite, o Titanic, a embarcação que era considerada insubmergível, naufragou no Atlântico Norte, causando a morte de 1.522 das 2.227 pessoas a bordo no navio. 

A história do barco de atingiu um iceberg é muito conhecida, porém muito se questiona sobre o que aconteceu com os corpos das pessoas que não foram resgatadas durante a tragédia, gerando uma dúvida que perdura até hoje. Contando com inúmeros desacordo entre cientistas, questiona-se: existem restos humanos no Titanic?

Recentemente, um debate veio novamente à luz, relacionado com o que deve ser feito com cadáveres encontrados em locais históricos, em especial o Titanic. Muitas expedições são feitas nos destroços do navio, o que poderia ser considerado uma “perturbação” e falta de respeito aos corpos das pessoas que morreram no acidente.

No entanto, ainda não existe nem acordo sobre se há ou não restos mortais no naufrágio do Titanic. O que sabemos é que existem lados opostos nesse debate: cientistas que acreditam que ainda existem corpos nas ruínas da famosa embarcação e aqueles que são contrários a essa teoria. 

O começo do debate

Restos do naufrágio / Crédito: Divulgação/Universidade de Rhode Island

 

Uma fotografia, supostamente tirada em uma expedição liderada por Robert Ballard em 2004 e divulgada para o público somente em 2012, foi a principal responsável pela inflamação do debate em questão. A Associated Press, citada pelo New York Post, afirmou naquele ano que foi descoberta uma imagem que mostra "um casaco e botas na lama no lendário local do naufrágio".

A partir dessa foto, muitos começaram a questionar se aqueles achados poderiam indicar que ainda havia restos mortais nos destroços do navio, mais de cem anos após o naufrágio que é lembrado até os dias de hoje. Aquilo foi considerado como possível evidência para sustentar a tese.

Na época, James Delgado, o diretor de patrimônio marítimo da National Oceanic and Atmosphere Administration, demonstrava-se como apoiador dessa hipótese. Em entrevista à AP em 2012, afirmou: “estes não são sapatos que caíram perfeitamente da bolsa de alguém um ao lado do outro”.

Responsável por uma expedição em 2010 que esquematizou todo o site, Delgado ainda disse: “eu, como arqueólogo, diria que são restos humanos. Enterrados nesse sedimento estão, muito provavelmente, os restos mortais dessa pessoa”. 

O especialista David Conlin, chefe do Centro de Recursos Submersos dos EUA, também concorda com a tese. Em uma entrevista recente, ele explicou que “seria cientificamente espantoso se não houvesse restos humanos ainda a bordo daquele navio”.

Para o pesquisador, “água muito profunda, fria e com baixo teor de oxigênio é um conservante incrível". Muitos naufrágios anteriores ao Titanic ainda contavam com corpos de seus tripulantes, lembrou ele. 

A perspectiva contrária

Destroços do Titanic / Crédito: Atlantic Productions

 

Em 2019, a empresa OceanGate reservou uma série de viagens caríssimas para visitar o local do naufrágio do Titanic. Para que tais excursões pudessem ocorrer, foram realizadas inúmeras análises no local pelos organizadores que, no entanto, afirmaram não ter detectado nenhum vestígio humano.

Essa perspectiva é apoiada pelo oceanógrafo David Gallo, consultado pela RMS Titanic Inc., empresa responsável pela coleção de objetos encontrados nos destroços do navio. Para ele, os corpos humanos provavelmente já tiveram sua carne ingerida por peixes e ossos desgastados pelas correntes oceânicas.

Em entrevista ao Phys Org., o especialista ainda afirmou: “há uma regra não escrita que, se nos deparamos com restos humanos, desligamos as câmeras e decidimos o que fazer a seguir”. 

Além dele, o cineasta James Cameron que, para poder dirigir o filme Titanic, lançado em 1997, visitou o naufrágio 33 vezes no total, também concorda que não há restos mortais na região em que estão as evidências da embarcação. “Nós vimos sapatos. Vimos pares de sapatos, o que sugere fortemente que havia um corpo ali em um ponto. Mas nunca vimos restos humanos ”, afirmou Cameron.


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