Há exatos 59 anos, John Fitzgerald Kennedy era assassinado durante comitiva em Dallas; Lee Harvey Oswald, porém, sempre alegou ser apenas um ‘bode expiatório’
Fabio Previdelli Publicado em 22/11/2022, às 12h42
O dia 22 de novembro ficará marcado para sempre na história norte-americana e, talvez, do mundo. Afinal, em 1963, há exatos 59 anos, John Fitzgerald Kennedy era assassinado durante uma comitiva em Dallas, no Texas.
O então 35º presidente do país, tido como um dos mais populares de todos os tempos, faleceu logo após dar entrada no Hospital Parkland Memorial. Desde então, devido às incongruências da Comissão Warren, a morte de JFK virou alvo de teorias conspiratórias nas últimas décadas.
Afinal, Lee Harvey Oswald, apontado como o único responsável pelo ato, declarou ser apenas um ‘bode expiatório’, algo que não teve como provar por ter sido morto poucos dias após ser preso.
O que poucos sabem, porém, são detalhes da vida de Lee Harvey nos meses que antecederam o crime. Dois anos após ter desertado para a União Soviética, Oswald retornou aos Estados Unidos ao lado de sua esposa, a russa Marina, em 1962.
Detalhes deste período são expostos por Paul Gregory, professor emérito de economia na Universidade de Houston e ex-amigo de Lee e Marina. Suas memória fazem parte do recém-lançado ‘The Oswalds: An Untold Account of Marina and Lee’.
Quando JFK foi assassinado naquele 22 de novembro, o então estudante de pós-graduação Paul Gregory, à época na casa dos 20 anos, ficou chocado como todo cidadão norte-americano. Mas o impacto foi maior, algumas horas depois, ao ver seu amigo Lee Harvey Oswald ser algemado pelo crime.
Dentro de uma hora, tudo fez sentido para mim”, disse Gregory em entrevista ao The New York Post.
Apesar de não ter ideia do plano mirabolante de Lee Harvey, Gregory sabia que o amigo tinha exatamente o perfil para fazer isso: Oswald era uma pessoa reservada, mas muito inteligente; sempre sonhava com algo grandioso, o que esbarrava em seu complexo de inferioridade. Seu comportamento violento contra Marina ajudavam a construir a imagem de um típico assassino solitário.
“Na manhã seguinte, quando o Serviço Secreto veio me interrogar, eu disse a eles: 'Estou convencido de que foi ele'”, afirma Paul.
Agora aos 81 anos, Paul Gregory recorda que passou um tempo significativo ao lado de Oswald e Marina no verão de 1962. Ele conta que o apartamento do casal sempre foi muito simples: sem televisão, rádio ou até mesmo um ventilador.
Eles só possuíam um item recreativo. Uma cópia da revista Time que estampava em sua capa John Fitzgerald Kennedy como 'Homem do Ano'. O impresso ficava sempre em uma mesa de centro na casa. “Essa revista deveria permanecer na mesma posição na mesa durante todas as minhas visitas”, relembra.
Normalmente reservada, Marina mostrava um brilho especial sempre que se referia à primeira-dama Jacqueline Kennedy. “Eu queria saber se Marina, recém-chegada da Rússia, sabia quem era JFK. Ela parecia saber mais do que eu esperava”, conta.
Apesar dessa aparente fixação, a morte de JFK por Lee Harvey parecia algo impossível naquela época. “Enquanto nós três estávamos sentados em volta da mesinha de centro, a ideia de que Lee Harvey Oswald, um ano e dois meses depois, atiraria no presidente cujo rosto estava nos encarando da capa da Time, teria me impressionado como a mais insana das proposições”, prossegue.
Em sua obra, Paul conta como conheceu Lee Harvey Oswald. À época, em junho de 1962, seu pai, Peter Gregory, que era um bem-sucedido engenheiro de petróleo, recebeu um telefonema de uma agência de empregos questionando se ele estaria disposto a se certificar que um jovem que desejava se candidatar a um emprego como tradutor era, de fato, fluente em russo.
Peter, por sua vez, aceitou em recebê-lo em sua casa. Ele era Lee Harvey Oswald. Com 22 anos, Oswald era um ex-fuzileiro naval que havia desertado para a União Soviética, mas acabou retornando para os Estados Unidos meses depois acompanhado de sua esposa, a russa Marina. Tudo isso no auge da Guerra Fria.
Peter fazia parte de um grupo de proeminentes russos locais — conhecidos como os "russos de Dallas" — que eram "ávidos anticomunistas”, aponta Paul. Mesmo assim, ele fez amizade com Oswald.
Os russos de Fort Worth-Dallas eram como pessoas deslocadas” e desejavam ouvir o jovem casal sobre a vida na URSS, diz Gregory.
Havia também o desejo de ajudar Marina, que era, segundo o autor, uma jovem tranquila e atraente, com ar de “gatinha perdida”. Gradualmente, os russos de Dallas perceberam que ela estava sendo abusada por Oswald, especialmente quando viram os olhos negros no rosto dela.
“Quando eles iam a festas, Marina socializava, mas Lee era a personificação de um solitário, parado em um canto”, disse Gregory. “Ele era considerado uma bagagem infeliz… Mas, para fazer qualquer coisa para ajudar Marina, você tinha que lidar com ele”.
Oswald nunca conseguiu um emprego como tradutor de russo e tampouco permitia que Marina aprendesse inglês. Mesmo assim, ele autorizou que a esposa ensinasse russo a Gregory. Com o tempo, eles se tornaram bons amigos. Tudo isso quando tinham apenas 21 anos.
Além das aulas quinzenais, Gregory frequentemente também se oferecia para levar o casal às compras, visto que eles não tinham um carro próprio. Paul recorda que Marina e Lee não eram afetuosos como um casal, mas tinham um grande amor pela filha, June Oswald.
Ele recorda de Lee Harvey como uma figura quieta, taciturna e que tinha explosões de raiva quando questionado sobre seu passado na União Soviética. Marxista declarado, Oswald era visto por Marina com desprezo por conta de suas “opiniões 'profundamente sustentadas'”.
Além disso, ela devia estar ciente de que tais pontos de vista poderia colocar ela e sua família em apuros nos EUA”, continua.
Paul Gregory lembrou-se de levar seus amigos para ver algumas das mais grandiosas “propriedades e mansões que a riqueza do petróleo do Texas havia construído”. Marina ficou paralisada, mas Oswald começou a dar palestras sobre os males do capitalismo. “Marina assumiu um ar entediado, não se interessando pelos comentários do marido.”
Quando bons samaritanos da comunidade russa deram aos Oswald um carrinho de bebê de segunda mão, Lee aceitou o presente, mas ficou furioso por precisar de caridade — um padrão de exploração e ressentimento típico dele que, junto com seu abuso de Marina, acabou fazendo os russos de Dallas desistirem de tentar ajudá-lo.
Em novembro, Marina convidou Gregory para ir à casa do irmão de Oswald, onde eles comemoravam o Dia de Ação de Graças, e também pediu uma carona até a rodoviária. Paul o fez, primeiro levando o casal para a casa de seus pais, onde eles fizeram uma refeição e tiveram uma “conversa tensa”.
Paul Gregory ainda os levaria para a rodoviária de Fort Worth. Seria a última vez que ele os veria. “Minha próxima visão de Lee foi exatamente um ano depois, quando a polícia o levou para a delegacia de polícia de Dallas como o principal suspeito do assassinato do presidente.”
Gregory não procurou Marina após o assassinato de John Fitzgerald Kennedy ou o próprio assassinato de Oswald — que morreu dois dias depois por um tiro dado por Jack Ruby, um solitário que disse que sua indignação moral com a morte do presidente o levou a atirar em seu assassino.
Por anos, depois disso, Gregory não quis ir a público falar sobre sua relação com Lee Harvey Oswald e Marina devido ao potencial estigma que criaria em sua própria vida. “Nossa família tinha vergonha de sua associação com Lee Oswald”, conta.
Nossos vizinhos teriam perguntado: 'O que os Gregorys estavam fazendo com um desertor comunista?' Queríamos ficar abaixo do radar”, prossegue.
Embora Oswald fosse marxista, a Comissão Warren não concluiu oficialmente que sua principal motivação para assassinar JFK era política, mas sim que ele era um solitário profundamente desajustado e descontente, que cometeu o ato por um desejo desesperado e doentio de se sentir importante.
Gregory concorda com isso, acrescentando acreditar que o relacionamento intenso e atormentado de Lee com Marina e seu desejo de parecer importante aos olhos dela tiveram um papel importante.
“Se Lee Harvey Oswald tivesse crescido hoje, provavelmente ele teria se tornado um atirador escolar”, aponta Paul. “Ele poderia [novamente] ter ido atrás de uma figura pública, alguém cuja morte o colocaria no noticiário”.
É até possível que Oswald tenha matado JFK porque o jovem presidente era visto como o símbolo supremo da masculinidade e do poder americano — e, porque, Marina gostava dele. “Ele sabia que, ao matar JFK, feriria gravemente Marina”.
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