John Paul Getty III com 16 anos - Getty Images
Crimes

Desconfiança e uma orelha decepada: o rapto de John Paul Getty III

O jovem de 16 anos ficou à merce dos criminosos por cinco meses e sua família só concordou em pagar o resgate após receber sua orelha direita pelo correio

Pamela Malva Publicado em 21/01/2020, às 15h09

Neto de um magnata do petróleo, John Paul Getty III vivia rodeado de problemas por onde passava. Ele era o típico menino rico, nascido em berço de ouro e interessado nos prazeres da vida. Natural de Minnesota, nos Estados Unidos, a reputação do jovem era bem conhecida.

John representava tão bem o papel de menino problema que quando, de fato, acabou envolvido em um crime, ninguém ligou. Isso porque, por meses, imaginou-se que tudo não se passava de uma pegadinha.

O pesadelo começou na noite do dia 10 de julho de 1973. Ele estava curtindo mais uma de suas noites com os amigos e tudo parecia bem. No dia seguinte, no entanto, o menino de 16 anos estava desaparecido.

Acostumados com o comportamento do adolescente, Gail Getty e John Paul Getty II, seus pais, não prestaram muita atenção em seu sumiço. Dois dias se passaram normalmente, até que eles receberam um telefonema dizendo que o menino havia sido sequestrado.

John Paul Getty III com sua mãe, Gail, na sede da polícia de Roma, no dia em que foi solto / Crédito: Getty Images

 

Mesmo com essa prova em mãos, a família seguiu cética e não acreditou que o sequestro fosse verdadeiro. Os pais de John ficaram ainda mais desconfiados quando os supostos sequestradores ligaram novamente, pedindo um resgate no valor de 500 mil dólares — quantia que, para a família, era quase um trocado.

Insatisfeitos e sem o dinheiro requisitado, os sequestradores ligaram para os Getty uma terceira vez. Agora, todavia, eles notificaram a família que queriam mais: o resgate acabara de aumentar para 3 bilhões de libras (cerca de 5 milhões de dólares).

Foi nesse momento que Gail começou a ficar preocupada e pediu ajuda para o bilionário John Paul Getty, avô do jovem. A resposta do homem não poderia ter sido mais mercadológica: “Tenho 14 netos, se pagar resgate, terei 14 crianças sequestradas”. O pai do menino também se recusou a pagar.

Quatro meses depois do sequestro de John, os criminosos decidiram tomar providências e um pacote chegou à porta de um jornal italiano. Dentro da caixa, mechas ruivas e uma orelha humana foram encontradas, ao lado de uma carta. “Esta é a orelha de Paul. Se não recebermos algum dinheiro em 10 dias, a outra orelha chegará em seguida”, dizia o bilhete.

John Paul Getty III aos 16 anos, sem a orelha direita e, ao lado, paralítico, na cadeira de rodas, em 2003 / Crédito: Getty Images

 

A família Getty agora estava correndo contra o relógio — quanto mais demorassem, mais partes de John seriam decepadas e enviadas pelo correio. Nesse momento, pressionados e sem saída, os Getty finalmente concordaram em pagar o resgate.

Assim, Getty III foi solto no sul da Itália, no dia 15 de dezembro de 1973, depois de cinco meses mantido em cárcere. A polícia prendeu 7 dos sequestradores da gangue responsável e recuperou 17 mil dólares do resgate.

Um ano depois do susto, Getty III seguiu em frente, mas continuou sem o afeto de sua família. Ele se casou com uma alemã e, graças à desconfiança do avô, que não apoiou o matrimônio, foi deserdado da fortuna dos Getty.

Em 1975, distante da família, Getty III teve um filho, o pequeno Balthazar. Ele começou a usar cocaína e entrou em depressão. Anos mais tarde, em 1981, John sofreu uma overdose seguida de um derrame — condição que o deixou mudo, parcialmente cego e paralítico. Em fevereiro de 2011, depois de longos 30 anos vivendo em uma cadeira de rodas, John Paul Getty faleceu, aos 54 anos.


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