Falecido na tarde desta quinta-feira, Pelé chegou aos 15 anos no Santos e superou adversidades
Fabio Previdelli Publicado em 20/10/2020, às 11h03 - Atualizado em 29/12/2022, às 16h28
É quase impossível falar do Brasil na Copa do Mundo sem relembrar da trajetória de um dos maiores jogadores do país: Pelé, falecido nesta quinta-feira, 29. Com a estreia do Brasil na Copa do Mundo Catar 2022, Pelé, inclusive, mandou uma mensagem para a Seleção Brasileira através do Instagram.
"Hoje começamos a escrever uma nova história. Não importa o tamanho e a tradição dos adversários: nós devemos respeitar e jogar cada partida com o foco de uma final. É importante jogar bonito sim, mas também é indispensável deixar tudo de si dentro do gramado. Hoje, seremos mais de 200 milhões de corações batendo como um só, vibrando a cada conquista da nossa Seleção. Envio essas fotos para inspirar vocês, garotos. De propósito, não escolhi as fotos de dribles, mas sim as de batalhas. Estou enviando todas energias positivas para vocês. Tenho certeza que teremos um final feliz. Que Deus os abençoe. Tragam este troféu para casa!", escreveu ele através do Instagram.
Em 1956, Waldemar de Brito, ex-jogador e treinador de Pelé, resolveu levá-lo para um período de testes no Santos Futebol Clube. À administração do time da Vila, Brito afirmou que o jovem de 15 anos seria “o maior jogador de futebol do mundo”.
Apesar do magrelo de canelas finas ter desembarcado na Vila Belmiro com certa timidez, isso logo foi superado. Nos treinos Pelé era diferente, não só diferente por sua postura, mas diferente dos outros jogadores, diferente de tudo que já havia sido visto no futebol.
Com um desempenho cada vez mais vistoso, não demorou muito até que fizesse estreia pelo alvinegro praiano. Em 7 de setembro daquele ano, Pelé entrou em campo pela primeira vez como profissional e fez logo questão de deixar sua marca naquele 7x1 contra o Corinthians de Santo André.
Sua primeira oportunidade com a amarelinha aconteceu pela Copa Roca, que atualmente é conhecida sob a alcunha de Superclássico das Américas — competição que coloca frente a frente os selecionados de Brasil e Argentina. Na primeira partida, saiu do banco para descontar a vantagem de 2x0 feita pelos Hermanos. Já na partida seguinte marcou um dos dois gols do triunfo brasileiro. Era seu primeiro título pela seleção.
Naquele momento, tudo parecia rumar conforme o planejado até sua primeira Copa do Mundo. Mas uma infelicidade colocou diversas incertezas na cabeça de Pelé. Em um jogo-treino da Seleção, saiu lesionado, deixando o gramado chorando.
Pelé chegou a Suécia com dores em seu joelho e, apesar do tratamento intenso do qual foi submetido, não conseguiu se recuperar a tempo da estreia diante da Áustria. Seu debute só ocorreria no terceiro jogo da fase de grupos. Azar da União Soviética, que viu os canarinhos cantarem mais alto em duas ocasiões, com ambos os tentos marcados por Vavá.
Pelé desencantou logo no jogo seguinte, fazendo o gol solitário da vitória contra o retrancado País de Gales. Na semifinal veio o passeio, marcou três vezes contra os franceses, naquele espetacular e elástico 5x2. Esse placar, inclusive, foi o mesmo da final contra os suecos, donos da casa.
No jogo que valia o título, Pelé balançou as redes duas vezes, sendo um deles um memorável gol onde domina a bola no peito e dá um chapéu num defensor sueco antes de desbancar o arqueiro com um forte chute rasteiro. De quebra, além do título, ganhou o prêmio de revelação e também cumpriu a promessa que havia feito a seu pai.
Ao chegarem a Inglaterra para a disputa de mais uma Copa do Mundo, a Seleção Brasileira era vista como favorita para ficar com o título. Mas neste momento, o mundo já conhecia a capacidade técnica de Pelé, que foi caçado desde o primeiro jogo — saindo lesionado na vitória por 2x0 contra Bulgária.
Pela terceira vez na história Pelé não iria disputar todas as partidas de um mundial. Mas, desta vez, a superação que houve em 1962 não aconteceu e o Brasil acabou eliminado após perder para a Hungria e para Portugal. O Rei até chegou a disputar esse último jogo, mas apanhou em campo e terminou o jogo mancando. Com a frustração, prometeu que jamais jogaria outra Copa do Mundo. A decisão perdurou por dois anos.
Convocado no início de 1969, recusou, a princípio, o convite, mas voltou atrás a tempo de disputar seis jogos pelas eliminatórias. Comandados por Pelé, a seleção foi reformulada para o México, perdendo nomes importantes que se aposentaram: como Garrincha e Djalma Santos. Por outro lado, outros excelentes jogadores se uniram ao plantel, que foi rejuvenescido.
Frequentemente considerada a maior equipe da história do futebol, o quinteto formado por Jairzinho, Pelé, Gérson, Tostão e Rivellino formavam um ataque excepcional. Logo no primeiro jogo, a seleção mostrou a que veio e goleou a Tchecoslováquia por 4 a 1. Mas o que realmente marcou essa partida foi um lance espetacular protagonizado por Pelé.
Parado no círculo central, ele recebeu a bola limpa e, ao ver o goleiro Ivo Viktor adiantado, arriscou um chutaço por cobertura. A bola passou rente à trave, mas o lance entrou para a história como “o gol que Pelé não fez”.
Mas isso seria apenas a cereja no bolo daquela conquista. Invictos e imparáveis, o Brasil chegou no Estádio Azteca, na Cidade do México, para enfrentar a Itália numa final que seria memorável. Com gols de Pelé, Gérson, Jairzinho e Carlos Alberto Torres, a seleção canarinho conquistava o tri mundial e ficava em definitivo com a Taça Jules Rimet. Ao fim da partida, o zagueiro Tarcisio Burgnich, responsável por marcar Pelé, falou: "Eu disse a mim mesmo antes do jogo: 'ele é feito de pele e ossos como todo mundo' – mas eu estava errado".
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