Conto de fábula para marinheiros ou história verídica, o fantasmagórico navio já foi retratado na ficção, mas também em relatos de avistamentos
Isabela Barreiros Publicado em 26/08/2020, às 18h25
A lenda do Holandês Voador circula pela imaginação de marinheiros há séculos por meio de lendas, histórias e supostos avistamentos. Ele também serviu de inspiração para escritores, dramaturgos e até mesmo ao navio pilotado pelo capitão David Jones na série de filmes Piratas do Caribe. Embora muitos saibam a narrativa, poucos sabem dizer se ela não passa de contos de fada.
A primeira vez que o Holandês Voador apareceu em relatos escritos foi em 1790, na obra Viagens em várias partes da Europa, Ásia e África durante uma série de trinta anos para cima (em tradução livre), de John MacDonald. Ele narra: “o tempo estava tão tempestuoso que os marinheiros disseram ter visto o Holandês Voador”.
Nesse primeiro relato, MacDonald escreve que “a história comum é que este holandês chegou ao Cabo com problemas de tempo e queria entrar no porto, mas não conseguiu um piloto para conduzi-lo e se perdeu e que desde então, com muito mau tempo, sua visão aparece”. No entanto, faltava uma questão primordial para que a aventura se tornasse a lenda que é hoje.
A história
Na primeira versão da narrativa, a embarcação que viria a ficar conhecida como Holandês Voador era pilotada pelo capitão Hendrick Van der Decken e fazia parte da frota da Companhia Holandesa das Índias Orientais. Carregando as especiarias tão desejadas das Índias de volta para a Holanda, o navio passou por uma situação grave: uma tempestade furiosa colocou-se no trajeto, no contorno do Cabo da Boa Esperança.
A partir daí, existem duas versões para a história. Em uma delas, Van der Decken percebeu que seria um erro tentar enfrentar o violento mar, mas, mesmo assim, não foi capaz de retornar, o que fez com que o barco adentrasse na tempestade. Mas existe outra possibilidade para a decisão do capitão. Em outro conto mais agressivo, ele decidiu que iria passar pelo mar "até o dia do Juízo Final".
Naquele momento, um anjo — ou, em versões mais brutas, o próprio diabo — apareceu para o piloto. Como em conto de fadas, ele lançou uma maldição no homem e na embarcação sob seu comando. Ele teria que, como afirmou euforicamente, continuar navegando até o dia do juízo final. E, assim, começou uma das maiores lendas marítimas da história.
No entanto, por mais terrível que parecesse, Van der Decken poderia reverter esse destino se conseguisse o amor de uma mulher fiel. A cada sete anos, era permitido que ele fosse a terra firme para tentar romper com essa maldição, fora esses momentos, não poderia atracar em nenhum porto, ao redor do mundo todo. Essa condenação de paixão lembra a história da Bela e a Fera, não?
A fábula na vida real
Mas, talvez, a parte mais interessante dessa narrativa seja o fato de que, ao longo dos séculos, muitos marinheiros alegaram ter visto, de fato, o icônico Holandês Voador. Além dos que têm o mar como seu habitat natural, muitas outras pessoas, em suas passagens pelas águas do mundo, já relataram a visão da antiga e a amaldiçoada embarcação.
Uma das descrições mais famosas foi a do então príncipe George de Gales, o futuro Rei George V. Na década de 1880, ele fez uma viagem de barco, que chegou a durar três anos, com seu irmão mais velho, o príncipe Albert Victor de Gales e seu tutor John Neill Dalton. O que ele não esperava era que iria se deparar com algo tão impressionante quanto assustador.
No dia 11 de julho, escreveu em seu diário: “às quatro da manhã, o Holandês Voador cruzou nossa proa. Uma estranha luz vermelha como a de um navio fantasma todo aceso, no meio do qual iluminavam os mastros, mastros e velas de um brigue a 200 metros de distância destacavam-se em forte relevo quando ela subiu na proa a bombordo”.
“O oficial de guarda da ponte a viu claramente, assim como o guarda-marinha do tombadilho, que foi enviado imediatamente ao castelo de proa; mas, ao chegar, não havia vestígio nem qualquer sinal de qualquer navio material que pudesse ser visto perto ou bem ao longe no horizonte, a noite sendo clara e o mar calmo”, escreveu.
Um barco com luzes fantasmagóricas tenebrosas navegando pelos oceanos do mundo todo ou apenas uma fábula, a narrativa continua presente nas histórias do mar. Alguns o consideram talvez como um presságio de que coisas ruins irão acontecer, e outros apenas uma ilusão de ótica, como a miragem conhecida como Fata Morgana. O Holandês Voador, no entanto, permanece um mistério há séculos e possivelmente continuará assim por muito tempo.
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