Literalmente emparedaram uma das maiores cidades da Europa numa noite, em uma operação super-secreta
André Nogueira Publicado em 06/11/2019, às 13h19
Quando a Alemanha foi dividida, após a derrota na Segunda Guerra Mundial, Berlim se tornou o polo principal da Guerra Fria. Dividida em quatro setores de influência estrangeira, no coração da Alemanha Oriental (soviética), a capital era um ilha onde EUA, França e Reino Unido confrontavam a ameaça comunista que tomara metade da Europa sendo que, já nos anos 1940, Stalin já agia no intuito de isolar os berlinenses do oeste.
Porém, com o passar do tempo, a CIA e o MI6 aprenderam a usar a posição de Berlim Ocidental para transformá-la num centro de espionagem, se utilizando da centralidade do local.
Diante desse perigo, os soviéticos pensaram numa forma de separação abrupta de Berlim em relação à Cortina de Ferro, o que ocorreu em 13 de agosto de 1961, quando foi post em ação uma operação de isolamento do ocidente da cidade: a partir da 1h da manhã, cordões de russos e alemães atacaram a polícia de fronteira e as tropas estrangeras, carregando materiais como arame farpado e malhas metálicas.
Naquela noite, foram erguidas barreiras de concreto em alta velocidade, realizando improvisos e usando postes e outras estruturas já disponíveis. Quatro dias depois, dada a falta de reação dos ocidentais, o governo da República Democrática Alemã (RDA) começou a construção de um muro permanente com cimento e concreto, que foi o Muro de Berlim. Isso pôs fim à onda migratória leste-oeste que ocorria na Alemanha.
"Um fechamento total de Berlim Ocidental não é possível e, por isso, não se pode deixar o combate da Republikflucht [migração em massa] apenas aos órgãos de segurança da RDA", concluiu um relatório da Stasi (polícia secreta da RDA). Por isso, para o governo, estava justificada a drástica ação de isolamento da capital.
Desde os anos 1950, isso era um plano dos alemães orientais, mas temporariamente ele foi barrado pelos soviéticos, por razões diplomáticas. O premier Walter Ulbricht chegou a solicitar formalmente o fechamento da fronteira por Moscou.
Esta solução passou a ser cogitada pelo Kremlin depois do encontro entre Nikita Khrushchev e J.F. Kennedy, em que farpas foram trocadas, e, no mesmo mês, de um discurso do presidente estadunidense. Então, Moscou cedeu, mas exigiu completo sigilo em relação à operação, para impedir uma fuga generalizada.
Então, Khrushchev mandou que o embaixador soviético na Alemanha contatasse Ulbricht para que usasse “a tensão nas relações internacionais para rodear Berlim com um anel de ferro". Isso deveria ocorrer antes de algum tratado de paz. Como foi dada a soberania da RDA em relação às ferrovias e pontes aéreas entre Berlim Ocidental e a República Federativa Alemã, era plenamente possível realizar o projeto.
Apenas 60 funcionários da RDA sabiam da Operação Rosa (plano de repartir Berlim) e o caráter secreto da ação era essencial. A Operação foi comandada pelo vice-premier Erich Honecker, líder de segurança do Politburo. O evento ocorreria do sábado pra domingo, evitando paralizações nas fábricas.
Calculada a necessidade de milhares de trabalhadores para a realização do plano em um dia, e as mais de 500 toneladas de arame necessárias, articuladores foram escolhidos pelo Ministério do Interior para, sob ordens do ex-prisioneiro de guerra Willi Seifert. Então, começou o processo de transporte do material para a capital.
Então, o planejamento operacional da construção começou a ser realizado em Schloß Wilkendorf, próximo a Berlim, entre 13 oficiais que decidiram como fazer tudo no maior silêncio possível.
Outra preocupação era a de que nenhum órgão de espionagem inimigo soubesse do plano cedo demais. Porém, tanto o espião pró-EUA Oleg Penkovsky quanto às suspeitas do Comitê Conjunto de Inteligência Britânico conseguiram divulgar a informação.
Mesmo em 1961, os americanos estavam mais preocupados com possíveis ataques contra aliados da Alemanha Ocidental e sua malha de transportes por parte dos soviéticos que os arredores de Berlim não foram o foco.
Ulbricht e Khrushchev discutiram por horas no telefone, no dia 1 de agosto, declarando novamente o intuito em fazer um “anel de ferro ao redor de Berlim”. O premier alemão estava preocupado com possíveis embargos contra a RDA e revoltas fomentadas pelo ocidente. Por isso, Khrushchev declarou que era hora de realizar o plano: "Quando implementarmos esses controles, todos estarão satisfeitos. Além disso, terão uma mostra do poder que você detém".
A realização de tamanha operação, teoricamente, exigiria uma aprovação do Pacto de Varsóvia. Porém, Ulbricht e Khrushchev pareciam brincar com a sorte: chegaram a trocar piadas sobre marcar o feito no dia 13, pois seria uma manifestação de má sorte para a Alemanha Ocidental, mas um “dia muito afortunado” para “o campo socialista”.
Então, no dia 12, Ulbricht assinou a ação que oficializava a Operação e convocou os funcionários do governo e do partido. O líder alemão estava supreendentemente bem humorado naquela situação. Num jantar casual em Dölln, os ministros foram então convocados ao Conselho, que votaria as medidas para a madrugada seguinte.
Quando os Ministros voltavam para as próprias casas em Berlim, as estradas já estavam tomadas pelos tanques do Exército Vermelho. E, naquela madrugada, foi realizada a mais importante obra de engenharia do século 20, que marcou para sempre os rumos da Guerra Fria, o que é elucidado na famosa frase de Kennedy: "Um muro não é muito agradável, mas é muito melhor que uma guerra".
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