Após passado o surto que vitimou milhares de pessoas no Brasil, o evento foi feito sobre todas as ruínas deixadas pela gripe e é considerado “o maior de todos os tempos”
Fabio Previdelli Publicado em 20/06/2020, às 09h00 - Atualizado em 08/02/2024, às 14h52
O carnaval de 1919 foi considerado “o maior de todos os tempos”. Na época, a festa foi feita sobre todas as ruínas deixadas pela gripe. No mundo, a pandemia matou em torno de 50 milhões de pessoas, e por aqui as coisas não foram diferentes.
Na cidade do Rio de Janeiro, ao menos 15 mil pessoas foram vítimas do surto. Entre os meses de outubro e novembro de 1918, um jornal local chamou a antiga capital federal de “um vasto hospital”.
Antes tomada por comércios e por uma movimentação muito grande de pessoas, as ruas foram ocupadas por cadáveres que se espalhavam aos montes pelas calçadas, sendo recolhidos como sacos de lixos por caminhões municipais.
Porém, da mesma maneira que a gripe veio, a gripe se foi: quase que subitamente. No fim daquele ano, boa parte das pessoas haviam criado anticorpos que eram imunes ao vírus do H1N1, que deixou de ser uma ameaça — pelo menos naquela época.
Assim, o começo de 1919 serviria como um processo de reestruturação da sociedade, usada para varrer os cacos e chorar por aqueles que partiram. A partir dali, a normalidade começou a ser restaurada e, então, em 1º de março, a energia carnavalesca tomou conta de todos, explodindo o espírito da ressurreição nos foliões. A festa foi tão marcante que o escritor Ruy Castro a chamou de Carnaval da revanche, “a grande desforra contra a peste que dizimaria a cidade”.
Apesar do país não ter vivido as dores da Primeira Guerra Mundial como os outros países europeus, o fim do conflito serviu também como um estímulo para animar os farristas, o que alimentava ainda mais aquela sensação de superação de tudo de mal que alguém poderia enfrentar.
Mesmo não existindo escolas de samba, naquela época, o carnaval já contava com blocos, cordões, corsos e as alcunhadas grandes sociedades, que desfilavam apresentando carros alegóricos que foram decorados por grandes artistas, como Di Cavalcanti e J. Carlos.
As marchinhas daquele ano faziam referência ao momento difícil que todos passaram, sem, é claro, acabar com toda a irreverência do evento. “Quem não morreu da espanhola, quem dela pôde escapar, não dá mais tratos à bola, toca a rir, toca a brincar”, cantavam.
A doença também foi tema dos desfiles, os Fenianos, por exemplo, apresentaram um carro com caveiras que representavam a “dançarina espanhola”, que era cercada por pierrôs, arlequins e colombinas. Já os Democráticos mostraram uma enorme xícara que carregava a inscrição “chá da meia-noite”, em referência à bebida que dizia-se acelerar o adeus dos enfermos.
A ocasião também marcou o início de um tradicionalíssimo bloco carioca: o Cordão da Bola Preta, que foi fundado em 31 de dezembro de 1918. Por lá também começou o bloco do Eu Sozinho, onde o jornalista Júlio Silva comandou a farra sem aceitar abraços, em uma brincadeira que se perpetuou por mais de 50 anos.
Por mais inacreditável que fosse, as ruas que viraram abrigo de inúmeros enfermos, se transformou em pouco tempo em um palco de euforia e diversão. Por mais que um inspetor de saúde pública, chamado Theophilo Torres, chegasse a pedir para as pessoas manterem o distanciamento, por medo de uma segunda onda de contágio, as pessoas ignoraram e se entregaram à festa como se não houvesse amanhã, afinal, o amanhã não faria mais sentido caso não existisse o carnaval.
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