Em um caso que movimentou a imprensa internacional, a jovem revelou um passado confuso que rendeu debates por todo o país
Wallacy Ferrari Publicado em 30/06/2020, às 09h00
Em 13 de janeiro de 2007, o surgimento de uma garota nua, com o corpo inteiramente sujo e com comportamentos semelhantes ao de animais selvagens chamou a atenção da população local em uma aldeia na província de Ratanakiri, no Camboja. Esbanjando agressividade, um grupo de homens imobilizou a moça e chamou a polícia para auxiliar nas buscas.
Amplamente coberto pela imprensa do país, a descoberta da jovem, apelidada como “garota selvagem do Camboja”, chamou a atenção de um homem de 45 anos identificado como Sal Lou, que afirmou ser era o pai da garota ao relacionar a jovem sem identificação aos documentos de uma filha, nascida em 1979 e desaparecida desde 1988, após sair para interagir com búfalos.
A reivindicação surtiu efeito e a garota retornou para a casa dos pais, com muita resistência. Mesmo sem a realização de exames de DNA, as autoridades acreditaram na reivindicação paterna pela semelhança física entre a esposa do homem e a possível filha, além de ter uma de suas cicatrizes reconhecidas por Sal Lou.
Comportamento confuso
Diferente da ocasião que foi descoberta, a garota não externava violência; era tímida, quieta e conseguia pronunciar apenas três palavras. Repleta de marcas de traumas pelo corpo, a jovem apenas solicitava a sua alimentação, pedindo comida ou água ao apontar para a própria boca. Dispersa e pouco enérgica, alguns fatores chamaram a atenção da imprensa internacional.
Mesmo que intitulada “garota selvagem”, mantinha uma postura ereta, entendia que se tratava de um ser humano e confiava em outras pessoas. Seus membros continham cicatrizes profundas nos punhos e tornozelos, além de poucas marcas nas solas dos pés. O que mais chamou a atenção dos psicólogos foi o fato de que a garota sabia comer usando uma colher, sem a necessidade de instruções.
Tais fatores levaram a uma hipótese de que a garota não esteve integrada na selva, mas sim em um cativeiro ao longo de sua adolescência. A LICADHO, uma ONG de direitos humanos, chegou a afirmar que as marcas nos membros estavam ligadas a algum tipo de corrente, com o porta-voz da instituição alertando as autoridades: "Acreditamos que essa mulher é vítima de algum tipo de tortura, talvez sexual ou física".
Reviravolta e surpresa
Recebendo amparo para a aprendizagem de hábitos sociais, a garota não progredia na adaptação, chegando a fugir de volta para a floresta em 25 de maio de 2010. Além de não se sentir à vontade com a família, preferia dormir em um galinheiro externo da residência, se juntando apenas para a realização de refeições.
Com o falecimento de Sal Lou, em 2013, a jovem passou a aumentar o contato visual com outros humanos, mesmo sem pronunciar uma palavra. Porém, em julho de 2016, um vietnamita chamado Pel, morador da província de Gia Lai, viajou até o país procurando a “garota selvagem”. Munido de fotografias, documentos e depoimentos concisos, o homem afirmava que a garota era sua filha biológica.
De acordo com Pel, a garota se chamava Tak mantinha uma vida normal até sofrer um colapso mental aos 23 anos, no ano de 2006, encerrando a teoria anterior de que a jovem havia ficado 19 anos na selva. Conhecendo cada uma das cicatrizes da garota e levando até mesmo parentes com semelhanças físicas, o homem se submeteu ao teste de DNA, confirmando a paternidade.
A família do Camboja aceitou o argumento de Pel e devolveu Tak aos verdadeiros familiares. De acordo com o vietnamita, o mesmo só tomou conhecimento do caso ao ver uma publicação de curiosidades no Facebook contando a história da jovem. Desde agosto de 2016, ela é observada e tem acompanhamento psicológico em sua nova residência.
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