Mais de um século após a execução da família real russa, ainda se questiona se outros reis europeus poderiam ter salvo o czar e seus parentes do fatídico destino
Isabela Barreiros Publicado em 15/04/2020, às 09h00
À meia-noite de 16 de julho de 1918, Nicolau II, sua esposa, a czarina Alexandra Feodorovna, as quatro filhas, o filho caçula e outras quatro pessoas que os acompanhavam foram condenados à morte pelos líderes soviéticos do mais alto escalão e assassinados naquele dia. A Revolução Russa resultou no fim do czarismo de Nicolau II e sua família, a última Dinastia.
Por mais que o regime fosse chegar ao fim, ainda existia a remota possibilidade de a família real conseguisse escapar do trágico destino da execução. Poderia, assim, alguém ter evitado a tragédia dos Romanov, salvando-os de seu tão conhecido fim?
O questionamento surge quando lembramos que os Romanov tinham parentesco com muitas das famílias reais de toda a Europa. A rainha Victoria do Reino Unido tinha a prática de casar seus filhos com descendentes de diferentes monarquias no continente — que, nesse caso, inclui os czares russos.
Apesar de não parecer, os monarcas russos e família real britânica possuem mais ligações do que muitos imaginam. É possível dizer ainda que as duas famílias reais são parentes distantes. O Príncipe Philip, Duque de Edimburgo e marido da rainha Elizabeth II é um dos maiores exemplos que atesta essa ligação.
Por mais que tivessem parentesco, o casal czarista começou a se afastar de outras famílias depois de uma revolta acontecida em 1905. Praticamente isolados da sociedade monárquica da Europa, eles começaram a contar com místicos para ajuda-los em momentos de dificuldade. Foi nesse momento que Rasputin se aproximou do governo, que ajudou no distanciamento dos russos do resto do continente.
O rei George V da Inglaterra, por exemplo, era primo em primeiro grau de Nicolau e de sua esposa Alexandra. O parentesco importante fez com que, no momento em que o governo provisório russo assumiu o poder, ele pediu aos britânicos que cedessem asilo aos Romanov. No entanto, isso nunca chegou a acontecer.
A Grã-Bretanha se arrependeu prontamente de ter aceitado proteger a família real russa — eles tinham receio de ter os Romanov sob sua guarda. Além disso, o secretário particular de George V, Lord Stamfordham, tinha medo de que a revolução protagonizada pelos bolcheviques gerasse uma revolta contra a monarquia em novos territórios, como o seu próprio.
Os planos para salvar os russos das consequências da revolução comunista, assim, falharam logo antes de serem colocados em prática. Os britânicos eram os mais cotados para protegerem Nicolau e sua família, e ainda assim não conseguiram fazê-lo.
Outras famílias da monarquia europeia também foram questionadas sobre sua ajuda. Territórios como Espanha, Dinamarca, Suécia e Noruega, principalmente, tinham a intenção de ajudar no conflito, mas não fizeram nada além de planejar maneiras de salvá-los. Acredita-se que esses reis tinham receio de antagonizar o novo governo sendo instaurado na Rússia revolucionária.
Durante todo o processo revolucionário, a família pensou que seria poupada da possível execução dos bolcheviques. Estavam esperançosos: Alexandra até mesmo escrevia de maneira otimista em seu diário pouco tempo antes de ser morta. Isso tudo mesmo quando foram levados para a cidade de Ekaterinburg, onde permaneceram isolados.
Mas era tudo ilusão. A família foi executada no dia 16 de julho de 1918, mas apenas a morte de Nicolau foi anunciada por toda a Europa. Apenas alguns meses depois outros reis ficaram sabendo que foram, na verdade, 11 as vítimas em Ekaterinburg. Nesse período sem a notícia do óbito dos outros familiares, britânicos tentavam arrumar uma maneira de salvar ao menos as crianças, o que não era mais possível.
A família real britânica, mesmo que não tivesse ajudado em nada o rei e seus filhos, tentou se reconciliar com os Romanov ao, em 1919, enviar um navio para a Crimeia com a intenção de evacuar o restante dos membros da monarquia russa. Nessa operação, foram resgatados os descendentes das duas irmãs de Nicolau II, Olga e Alexandra, além de outros filhos de czares anteriores.
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