Vivendo o inferno durante seu casamento com um militar, Domitila teve uma ajuda notória durante a separação
Caio Tortamano Publicado em 29/04/2020, às 08h00
Muito antes de ser considerada a maior amante entre as várias paixões de Dom Pedro I, Domitila de Castro, mais conhecida como a Marquesa de Santos, teve uma vida íntima conturbada, especialmente em seu primeiro casamento.
Com apenas 15 anos de idade, em 1813, Domitila se casou com o alferes Felício Pinto Coelho de Mendonça, de 23 anos. Felício era moço-fidalgo da Casa Real, e oficial do segundo esquadrão do Corpo de Dragões da cidade de Vila Rica (MG), atualmente cidade conhecida como Ouro Preto.
Casamento infeliz
A cerimônia ocorreu em São Paulo, e se mudaram juntos para Vila Rica, onde tiveram três filhos: Francisca Pinto Coelho de Mendonça e Castro, Felício Pinto Coelho de Mendonça e Castro e João Pinto Coelho de Mendonça e Castro, este último falecendo ainda na infância.
Acreditando que viveria uma vida calma, Domitila não imaginava que o homem seria perverso com ela, tendo a violentado e espancado diversas vezes. Como consequência, a união dos dois durou apenas 3 anos. Em 1816, cansada de apanhar do marido, voltou com os três filhos para São Paulo com ajuda da família Castro, extremamente influente na política paulista.
Apoio familiar
Na época, uma mulher abandonar o marido — mesmo que com os filhos e violência comprovada — podia arruinar a imagem dos familiares. Nesse contexto, tornou-se possível reparar na força que as mulheres da família tinham dentro do círculo social em que viviam.
Isso porque a mãe de Domitila, Escolástica Bonifácio de Oliveira Toledo Ribas, bateu de frente com o costume da época e ficou ao lado da filha. No entanto, a atitude não representou o fim do inferno para a mulher.
Aparentemente arrependido de suas atitudes e com saudades da família, Felício pediu transferência de sua unidade em Minas Gerais e se mudou para Santos, com o objetivo de ficar mais próximo dos filhos. Piorando a situação, em 1818 voltaram a morar juntos.
Na época, o homem tentou melhorar a relação com a esposa. Assim, optou por dar fim ao vício em bebidas e jogos que o tornavam um homem rude e, principalmente, violento. No entanto, durou pouco tempo: além de espancar a mulher novamente, ele a torturava psicologicamente com promessas de morte.
Facadas
A gota d'água veio na manhã do dia 6 de março de 1819. Felício, completamente alcoolizado e cheio de raiva por suspeitar que Domitila estivesse o traindo, a esfaqueou duas vezes. Acertando, inicialmente, a perna e depois a barriga. O homem foi imediatamente preso e em seguida, foi levado para julgamento no Rio de Janeiro.
Enquanto isso, a violentada e esfaqueada mulher estava entre a vida e a morte, e assim ficou por dois meses. Por mais que sua família fosse abastada nada podia combater a falta de tecnologia de seu tempo, que dificultou a recuperação da jovem.
Divórcio
Depois de recuperada, o pai de Felício moveu uma ação para que a guarda das crianças ficasse com o avô — eles teriam que morar em Minas Gerais, longe da família de Domitila. Com isso, a mulher, injuriada, entrou com o pedido de separação de seu violento marido.
Por mais que a suspeita de um adultério tenha sido levantada anteriormente por aqueles que estavam contra a esposa, a partir de documentos e testemunhas ouvidas no processo do divórcio (que levaria cerca de 5 anos), Felício teria tentado matá-la para vender as terras que ambos herdaram em Minas após a morte da mãe do militar.
A separação não seria uma causa fácil de ser vencida por Domitila, principalmente enquanto ocorria o processo de seu sogro pela guarda das crianças. Apesar dos cinco longos anos, a separação teve um final positivo, já que por intercessão do próprio imperador o divórcio foi rapidamente concluído.
O contato foi feito pelo próprio irmão da futura marquesa, que era ajudante de ordens e amigo íntimo de Dom Pedro. Esse foi o primeiro contato que os dois viriam a ter, que resultou em um polêmico romance nos tempos de Dom Pedro I.
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