Morto aos 19 anos, a polícia afirmou que ele participava de um assalto e estava armado, mas tal alegação levantou suspeitas
Vanessa Centamori Publicado em 05/05/2020, às 13h23
Em 25 de agosto de 1987, na favela da Vila Ester, Diadema, Fernando Ramos da Silva, de 19 anos, estava desarmado e escondido embaixo de uma cama. Foi aí que soaram oito disparos de calibre 38, acabando com a vida do rapaz morador da comunidade.
Ele era conhecido como o eterno protagonista do premiado filme Pixote, a lei do mais fraco (1981), do diretor Hector Babenco. O longa, que retrata a realidade dos jovens infratores e marginalizados no Brasil, foi indicado para um Globo de Ouro, em 1982.
Conforme ficou se sabendo mais tarde, a estrela do filme morreu durante uma emboscada policial, sendo assassinado por dois soldados da Polícia Militar e um sargento.
Perseguição
Segundo a versão da polícia, Pixote teria participado de um assalto, contra uma empresa no bairro de Piraporinha, em São Bernardo. Porém, a família do rapaz contestou esse fato. Quando foi morto, o ator estava foragido da Febem (Fundação para o Bem Estar do Menor – hoje, Fundação Casa).
Outro suspeito além do artista era procurado pelos policiais do Tático Móvel (hoje a Força Tática), do 6° Batalhão de São Bernardo do Campo. Era ele Marcelo Bicalho, com então 16 anos. O menino não só vivia na favela onde Pixote morava, como igualmente trabalhava como ator.
O garoto havia participado no mesmo ano da novela O amor é nosso, da TV Globo. E já era conhecido da polícia, não pelo estrelato, mas pelo fato de ter sido preso já duas vezes. Uma foi por furto de uma TV quebrada; e outra por portar um revólver. Quando a viatura 06374 chegou, Bicalho foi detido por três PMs.
Enquanto isso, o esconderijo de Pixote, embaixo da cama, foi descoberto. As últimas palavras do ator teriam sido: “não me matem, por favor não me matem, eu tenho uma filha para criar”.
A filha dele era Jacqueline Ramos da Silva, resultado de seu casamento com a então ex-mulher, Cida Venâncio. Pixote mal teve tempo de falar da criança, quando as balas o atingiram.
Caso polêmico
No momento em que chegou ao Pronto Socorro de Diadema, o rapaz já estava morto. Contaram testemunhas que quando foi executado, o jovem não estava armado, pois enquanto ele corria a sua camiseta branca se erguia do corpo e não mostrava sinais de nenhuma arma na cintura.
Ainda assim, os PMs alegaram que agiram em legítima defesa. Além disso, no 3° DP da cidade, os policiais disseram supostamente ser do ator um revólver Smith & Wesson, calibre 32, com 4 tiros já disparados.
Punição branda
Os policiais responsáveis pela morte de Pixote acabaram assumindo a culpa do homicídio, em um obituário de 38 linhas, publicado pelo jornal americano The New York Times.
O sargento Francisco Silva Junior, 23 anos, e os soldados Wanderley Alessi, 25, e Walter Moreira Cipolli, 23, disseram terem "fabricado" a arma para incriminar o falecido. Isto é, os assassinos dispararam o repórter propositalmente para fingir que a arma teria sido utilizada durante a emboscada.
No enterro de Pixote, realizado em 27 de agosto de 1987, compareceram mil pessoas no cemitério municipal de Diadema. Os PMs responsáveis pelo óbito foram condenados a entre seis a quatro anos de reclusão. Porém, as penas caíram para dois anos.
No entanto, na prática, eles jamais ficaram atrás das grades um dia sequer. Foram somente demitidos da corporação policial. Como não foram expulsos, podiam até tentar voltar mais tarde ao ofício - algo que eles tentaram fazer, sem sucesso.
Em 3 de setembro de 1987, a demissão dos policiais militares foi oficializada após o jornal Folha de S. Paulo publicar uma nota sobre o desligamento. A justificativa foi que “[o comportamento dos PMs] contraria normas existentes na corporação e revela nita incompatibilidade com a função policial militar”. Nenhuma relação direta entre a polícia e o homicídio foi citada.
Somente no ano em que morreu Pixote, entre janeiro e agosto, 190 pessoas foram exterminadas durante supostas perseguições com a polícia em Diadema. O rapaz, que viveu uma vida na periferia, sofreu de modo parecido com o papel que interpretava. A vida real acabou em morte, enquanto que seu personagem fictício também sucumbiu no mundo da corrupção policial e criminalidade.
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