O recém-nascido Príncipe da Beira passou por maus bocados enquanto o Brasil caminhava para a Independência
Vanessa Centamori Publicado em 01/06/2020, às 12h00
O casal mais famoso dos livros de história do Brasil — D. Pedro I e a Imperatriz Maria Leopoldina — teve um total de sete filhos. Quando a esposa do imperador engravidou do segundo, ela esperava, pela primeira vez, dar à luz um menino. Porém, isso não ocorreu.
O neném, que seria o importante príncipe Miguel de Bragança, jamais nasceu. Morreu tragicamente no parto, em 1820. Ainda assim, a alma da criança recebeu como honraria o título de Infante de Portugal.
Uma nova surpresa
Passou cerca de um ano. Então o casal, que acabara de passar pelo luto, foi agraciado pelo universo, no dia 6 de março de 1821, com um terceiro filho. Pra variar, como é costume na realeza, ele foi batizado com um nome gigante — João Carlos Pedro Leopoldo Borromeu de Bragança.
Por ser o primeiro menino a nascer, João Carlos recebeu o título de Príncipe da Beira, nomenclatura que até aí pertencia à sua irmã mais velha, Dona Maria da Glória (ela era chamada de Princesa da Beira, já se pressupõe).
Apesar desse nome pomposo puxado da irmã, o berço real nem sempre era o mais confortável. Mal o pequeno Príncipe da Beira nascera, ele já teve que passar por maus bocados.
Fuga
Logo no começo de vida, o neném da Beira, com saúde fragilizada, foi levado a fugir depressa ao lado da irmã, Maria da Glória, e de Dona Leopoldina, grávida da princesa Januária. Mãe e filhos partiram em fuga, do Rio de Janeiro, até a Fazenda Imperial de Santa Cruz.
A imperatriz estava querendo proteger suas crianças contra a violência do General d’Avilez, que comandava tropas portuguesas acampadas no Rio de Janeiro. O desejo do militar e seus homens era que D. Pedro I voltasse à Lisboa.
Nessa altura, o imperador era Príncipe Real Regente do Reino do Brasil e estava tentando lidar com uma encurralada política. Em Portugal, as cortes portuguesas expediam ordens para que ele retornasse imediatamente ao país europeu. A intenção era recolonizar o Brasil, já que, pelo ponto de vista português, a nação estava voltada demais aos passos da independência.
Tragédia
Acabou que, durante o trajeto da fuga, Dona Leopoldina teve que enfrentar um calor ardente de 36ºC. A temperatura elevada degradou o estado de saúde de João Carlos e a criança morreu, tragicamente, no dia 4 de fevereiro de 1822.
Jamais a imperatriz e Dom Pedro I perdoaram o general d’Avilez por aquela situação.
Em uma carta, Maria Leopoldina escreve essa infeliz informação e desabafa sobre esse triste episódio de sua vida, dirigindo-se ao seu pai, o Imperador Francisco I. "Não lhe posso esconder a minha dor, somente a religião, a firme confiança no Altíssimo, que tudo faz para o bem dos homens, me dão alguma resignação e sossego", relatou a imperatriz.
"Mas é preciso tempo", completou. "Como vai acabar isto, só Deus o sabe, nós ficamos aqui, não há mais dúvida alguma, e parece-me que para sempre…”.
Como descrito por Leopoldina, o episódio da morte do Príncipe da Beira foi seguido pela permanência dela e da família no Brasil. Isso ocorreu pois, muito pressionado, D. Pedro I cedeu às reivindicações dos brasileiros e resolveu ficar naquela que já era praticamente uma ex-colônia.
Os políticos do Brasil entregaram ao regente uma lista com aproximadamente 8 mil assinaturas solicitando sua permanência. Como resposta, em 9 de janeiro de 1822, o emblemático Dia do Fico, ele declarou: "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto! Digam ao povo que fico".
Vale lembrar que esse episódio se desenrolou, meses depois, com a declaração de Independência do Brasil, proclamada no dia 7 de setembro do mesmo ano. E o nosso país ficou oficialmente independente de Portugal.
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