Encurralado no fundo do Oceano Atlântico, o nigeriano passou por grandes horrores a 30 metros de profundidade
Vanessa Centamori Publicado em 21/06/2020, às 08h00
Na manhã do dia 26 de maio de 2013, um navio rebocador Jascon-4 levava 12 homens a uma plataforma de petróleo próxima à cidade de Warri, na Nigéria. Um dos tripulantes era Harrison Okene, um nigeriano de 29 anos que trabalhava como cozinheiro. Quando o relógio marcou por volta das 4h50 da manhã, o mar se revoltou contra a embarcação.
Naquele momento, Harrison estava no banheiro, quando notou que o rebocador do navio estava começando a virar. Foi aí que o desespero começou — água jorrava para dentro. Ele tentou então forçar a porta de metal para sair. Mas, não adiantou: o nigeriano estava preso dentro da cabine do toalete.
Enquanto estava encurralado, ele viu três rapazes da tripulação sendo levados brutalmente pela água. Naquele momento, o navegante sabia que seus companheiros estavam mortos. Imaginou então que seu fim também estava próximo, já que, provavelmente, a sala logo se encheria, impedindo que ele respirasse.
O que Harrison não sabia era que isso jamais aconteceria. Uma bolha de ar milagrosa se formou e ele iria passar um angustiante período de dois dias e meio preso no fundo do mar. De companhia, apenas a solidão e a escuridão do banheiro, a 30 metros de profundidade.
Luta pela vida
Após suas roupas ficarem encharcadas, Harrison Okene ficou apenas de cueca na cabine. A água entrou só em parte do cômodo, permitindo que ele pudesse ter ar para respirar. Ainda assim, o cozinheiro segurou uma bacia para manter a cabeça fora da água.
Conforme o tempo foi passando, parte da pele do nigeriano começou a descascar, devido à constante exposição àquele ambiente úmido. "Eu estava com muita fome, mas, principalmente, com muita sede. A água salgada tirou a pele da minha boca", contou o sobrevivente, à Agência Reuters.
Além disso, conforme o próprio Harrison descreveu, estava "muito, muito frio" e escuro. Não era possível enxergar nada. Porém, naquele breu, de alguma forma, ele ganhou uma coragem luminosa. Conseguiu espancar uma porta e a abriu, entrando no quarto de um oficial.
Começou então a arrancar os painéis da parede do quarto para usar como uma pequena balsa e ficar fora da água gelada. A experiência, no entanto, também lhe serviu para aumentar o pânico. Ele pôde perceber os cadáveres de seus colegas de tripulação nas proximidades.
O nigeriano sentiu a podridão dos corpos. Notou, com horror, que os peixes começavam a se alimentar deles. Dava até para ouvir o som dos mortos sendo devorados, conforme ele relatou.
Naquela situação, o náufrago só orava. "Tudo ao meu redor era apenas preto e barulhento. Eu estava chorando e chamando Jesus para me resgatar, eu rezei tanto", contou. O estômago também apertava. Não parecia haver mais esperança.
Um barulho estranho
Harrison Okene não tinha como saber, mas já era a tarde do dia 28 de maio. Soou um som de martelo, diferente de tudo que ele ouvira em seu cárcere subaquático. O sobrevivente não pensou duas vezes: retribuiu o ruído. Puxou um filtro de água e bateu no interior da embarcação repetidamente. Torcia para que alguém o ouvisse.
Justo naquele exato momento, uma equipe de mergulhadores sul-africanos vasculhava as águas, recolhendo os corpos. Os profissionais ficaram chocados ao ouvirem que o ruído, enviado por eles, teve resposta. Podia haver ainda alguém vivo?
Realmente podia. O nigeriano viu a luz de uma lanterna, presa à cabeça de alguém que nadava em sua direção. Harrison começou a acenar. O resgatante ficou chocado ao vê-lo com vida.
A equipe de mergulho se apressou e colocou roupa especial, capacete e máscara de oxigênio na vítima. Para ser retirado, o cozinheiro foi arrastado ao longo de uma estreita passagem que ficava entre o banheiro e o quarto. Finalmente, ele colocou seus pés em terra firme.
Após o incidente, Harrison passou por um tratamento para se recuperar do trauma. No mesmo ano do resgate, ele contou que tinha ainda alguns medos, como noticiou o G1. "Quando estou em casa, às vezes parece que a cama em que eu estou dormindo está afundando. Acho que ainda estou no mar novamente", desabafou.
Durante a tragédia, o sobrevivente jurava que morreria, mas no fim pôde descrever a experiência como um fenômeno divino. "Eu não sei o que impediu a água de encher o cômodo. Eu só fiquei chamando por Deus. Ele me protegeu. Foi um milagre", completou.
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