"Lee Harvey Oswald, meu filho, mesmo depois de morto, fez mais por seu país do que qualquer outro ser humano vivo", declarou certa vez
Fabio Previdelli | @fabioprevidelli_ Publicado em 25/06/2022, às 00h00
Quando Lee Harvey Oswald foi preso pelo assassinato de John Fitzgerald Kennedy, naquele mesmo 22 de novembro de 1963, ele nunca admitiu a culpa e se dizia ser apenas um “bode expiatório”.
Entretanto, Lee jamais teve a chance de se defender, visto que foi morto por Jack Ruby dias depois, enquanto era transferido sob custódia policial da cadeia municipal para a cadeia estadual.
Apesar das polêmicas e conspirações que surgiram à época, em 24 de setembro de 1964, a Comissão Warren — estabelecida pelo presidente Lyndon B. Johnson para investigar a morte de Kennedy — conclui que: três disparos foram feitos a partir de uma janela do sexto andar do Texas School Book Depository, sendo Lee Harvey Oswald o único autor deles.
Além do mais, uma mesma bala teria ferido o presidente no pescoço e atingido também o governador do Texas John Connally. Esse último ponto, inclusive, é uma das conclusões da Comissão Warren que mais geram polêmicas até hoje. Saiba mais sobre a ‘Teoria da Bala Única’ clicando aqui!
Entretanto, Marguerite Oswald jamais teve dúvidas: seu filho era inocente. Ao longo de toda sua vida, a mãe de Lee Harvey Oswald tentou provar que o assassino do 35º presidente dos Estados Unidos era, na realidade, um agente da CIA que foi usado para esconder algo muito maior.
No dia 25 de novembro de 1963, todo cidadão norte-americano parou para acompanhar o funeral de JFK. Trazido de volta a Washington, o corpo do democrata ficou cerca de 24 horas na Sala Leste da Casa Branca antes de ser envolto em uma bandeira do país e ser puxado por cavalos até o Capitólio. Durante o dia e a noite, milhares de pessoas fizeram fila para se despedir, relatou a CBS.
À sombra da procissão, em um lugar muito mais isolado de Fort Worth, no Texas, Lee Harvey Oswald era velado em uma cerimônia sem o mesmo glamour. Na ocasião, apenas sua esposa Marina, suas duas filhas, seu irmão Robert e sua mãe Marguerite foram lhe dar o último adeus.
Embora o público tenha sido proibido de entrar no Cemitério Rose Hill, ninguém além de seus familiares parece ter se importado com o velório de Oswald. Para evitar mais confusões, os coveiros foram informados que cavaram um buraco para um tal de “William Bobo”.
Nos arredores, o Serviço Secreto, agentes do FBI e um guarda policial vigiavam os sete jornalistas que serviram como voluntários para carregar o caixão de pinho do assassino do presidente.
Antes da primeira pá de terra começar a escondê-lo para sempre sobre o solo, a tampa do caixão foi aberta pela última vez: "Uma de cada vez, rapidamente, as duas mulheres se abaixaram e beijaram o cadáver", observou o repórter Preston McGraw sobre o ato final de Marguerite e Marina.
Conforme aponta o Smithsonian Magazine, dois ministros luteranos haviam concordado em realizar o serviço a pedido do reverendo Louis Saunders, mas acabaram renegando depois que descobriram que o funeral seria a céu aberto e não em uma capela. Temiam uma potencial ameaça vinda de atiradores. Saunders, que foi apenas como convidado, acabou sendo responsável por oficiar a despedida de Lee Harvey.
Depois da cerimônia simples, rápida e improvisada, Marguerite não perdeu a oportunidade de se aproximar de uma câmera de televisão e declarar: "Lee Harvey Oswald, meu filho, mesmo depois de morto, fez mais por seu país do que qualquer outro ser humano vivo".
Embora a reação parecesse discordante do que a história escreveu, Marguerite jamais duvidou da inocência do filho. A insanidade em suas falas, porém, fizeram com que sua saúde mental fosse questionada em diversas ocasiões, com muitos especulando que os problemas de Lee Harvey pudessem ter origem em sua confusa matriarca.
O fato é que, dias após o funeral do filho, o repórter Bob Huffaker conseguiu uma entrevista com ela por telefone. Responsável por cobrir as atividades no prédio do Departamento de Polícia de Dallas para a KRLD e a CBS News, ele esteve a poucos metros de distância quando Oswald foi alvejado por Jack Ruby.
Tendo visto o filho de Marguerite Oswald ser assassinado diante dos meus olhos, temi me intrometer na dor de sua mãe", escreveu Huffaker.
"Mas ela se mostrou agressiva e cheia de retórica dura e eu me vi sentindo pouca simpatia... Desliguei o telefone balançando a cabeça com a lógica estonteante de Marguerite Oswald. Sua frieza me atingiu. Ela parecia sem pesar, cheia de ultraje — fria, nervosa e disposta a discutir”, relatou.
Em 12 de fevereiro de 1964, Marguerite foi entrevistada pela Comissão Warren, prestando depoimento por três dias, segundo relatou o The New York Times na época. Entre as suas polêmicas crenças, destaca-se sua afirmação de que Oswald era “um agente de inteligência” dos Estados Unidos e que ele foi “criado para assumir a culpa” pelo assassinato do presidente Kennedy.
Lee Harvey Oswald não foi o assassino do presidente Kennedy e ele foi criado para assumir a culpa”, declarou.
“Meu filho era um bode de sucata”, se confundiu na tentativa de chamá-lo ‘bode expiatório’. “Quem pode provar que ele não é um agente da CIA? Ele não iria dizer que é um agente da CIA, e o governo não vai dizer que é. Lee, sendo um agente, não diria isso a ninguém”, especulou.
Entretanto, o chefe de justiça Earl Warren, presidente da Comissão, disse que a mãe de Lee “não nos deu nenhum fato que mudaria o quadro como o conhecemos até o momento em que ela testemunhou".
Em artigo publicado no The Daily Beast, em 2017, o jornalista Steve North deu detalhes das vezes que conversou com Marguerite na época em que ela foi entrevistada pela Comissão Warren.
“Em várias entrevistas de rádio que fiz com ela em seus últimos anos, a voz de Marguerite tornou-se cada vez mais estridente e suas alegações grandiosas. Chamando a si mesma de ‘uma mãe na história’”, conta.
“Ela insistiu: ‘Lee recebeu a oferta de emprego no Depósito de Livros. Ele não conseguiu por conta própria. Ele foi colocado lá. Ele era o bode expiatório perfeito. Eles armaram’, disse ela que, consistentemente, se recusou a revelar quem seriam ‘eles’, mas ecoou muitos críticos das investigações oficiais quando disse: ‘O caso contra Lee Harvey Oswald é boato, distorção e omissão, e o FBI usou técnicas investigativas erradas. Lee morreu inocente. Ele não foi julgado nem condenado por seu suposto crime. E a história está sendo difamada’”, completou.
Marguerite não era só vista com olhares desconfiados pela mídia, sua própria família tinha aversão a sua imagem. Um exemplo disso é Marina, viúva de Lee Harvey. Enlutada e preocupada com a segurança de seus filhos, ela ficou com Marguerite no Inn of the Six Flags Motel, nos arredores de Dallas, onde recebeu a vigilância constante do Serviço Secreto, alguns dias após o assassinato de JFK.
No entanto, pouco depois, ela se mostrou incomodada com a agressiva procura de publicidade por parte de sua sogra, que desprezou todos os limites pela busca incessante de dinheiro. "Ela tem uma mania: dinheiro, dinheiro, dinheiro", disse Marina à Comissão Warren alguns meses depois.
"Houve algumas cenas violentas. Ela não quis ouvir ninguém. Houve histeria. Todo mundo era culpado de tudo e ninguém a entendia. Talvez minha opinião esteja errada, mas pelo menos eu não quero viver com ela e ouvir escândalos todos os dias”, completou.
O meio irmão de Oswald, John Pic, também tinha uma visão muito particular em relação ao comportamento de sua mãe após o assassinato. "É minha opinião que ela está querendo ganhar o máximo de dinheiro que puder em seu relacionamento com Lee Harvey Oswald", alegou em depoimento à Comissão.
Essa é a única coisa: eu realmente não creio que ela realmente acredite que ele é inocente. Eu acho que ela está preocupada em quanto vai ganhar mais dinheiro do que ganharia se tivesse que dizer que ele é culpado. Eu acho que ela é uma farsa em todo esse negócio”, argumentou.
Após meses longe de Marguerite, a visão de Marina se tornou ainda mais rígida em relação à avó de seus filhos. "Eu não acho que ela seja uma mulher de pensamento muito sensato, e acho que parte da culpa é dela".
"Eu não a acuso, mas acho que parte da culpa em relação ao que aconteceu com Lee é dela, porque talvez ele não tenha recebido a educação que deveria ter durante sua infância e não teve nenhuma liderança correta em parte de sua orientação. Se ela estava em contato com meus filhos agora — não quero que ela os veja”, disse à Comissão.
Marina manteve sua palavra e nem June e muito menos Rachel voltaram a ver a avó novamente. Apesar de todas as críticas em torno de sua personalidade, Marguerite Oswald jamais demonstrou remorso por seu jeito de ser.
"Não é crime vender as fotos [de Lee]. Eu não tenho emprego ou renda. Se eu quiser vender uma foto para uma revista ou jornal e me proteger financeiramente, eu vou continuar fazendo isso”, declarou mais tarde, segundo o Smithsonian Magazine.
Com o passar do tempo, de vez em quando, Marguerite recebia ligações de repórteres de televisão ou de jornais procurando entrevistar a mãe do assassino de John Kennedy. Quando seu dinheiro acabava, ela sempre dava um jeito de vender cartas, documentos ou qualquer outra coisa relacionado a Oswald, como uma de suas peças de roupa.
Às vezes, ela também podia ser encontrada na Dealey Plaza, vendendo cartões de visita autografados para turistas por cinco dólares, com os dizeres: “Marguerite Oswald, mãe de Lee Harvey Oswald”.
"Sou a pessoa mais forte nesta tragédia porque perdi tudo", declarou uma década depois do assassinato. "Não tenho nada e ainda sobrevivo."
Em nenhum momento de sua vida, Marguerite pareceu demonstrar remorso ou ter arrependimento por ter se separado de seus familiares ou por usar o nome de seu filho morto em prol de uns bons trocados.
Conheço alguns que não hesitariam em tentar fazer de mim um caso mental”, disse ela ao entrevistador Jean Stafford. “Acredite em mim, se alguém está em sã consciência, é a Sra. Marguerite Oswald.”
Em 17 de janeiro de 1981, Marguerite Claverie Oswald morreu em decorrência de um câncer. Ela foi sepultada no Cemitério Rose Hill, perto do túmulo de Lee Harvey Oswald. Desde então, ela permanece ao lado de seu filho, algo que jamais parece ter se importado fazer genuinamente em vida.
A controversa mensagem final de Saddam Hussein
Rasputin: O museu que teria o pênis do conselheiro czarista
Neerja Bhanot: A comissária de bordo que se tornou heroína durante sequestro
Chico da BBC: Francis Hallawell, a voz que imortalizou a participação brasileira durante a guerra na Itália
Agatha Christie odiava detetive Poirot, mesmo assim, guardou sua morte por 30 anos
Wojtek: O urso do Exército polonês que lutou contra nazistas