Conjunto de canais Osuga Valles, em Marte - Divulgação/ESA
Marte

Rios em Marte fluíram de forma intermitente por milhões de anos, afirma pesquisa

Embora a atual superfície de Marte se assemelhe a um deserto, ela conserva extensas evidências de antigos cursos d'água, de acordo com pesquisador

Giovanna Gomes Publicado em 17/01/2024, às 08h24

O pesquisador Alexander Morgan, vinculado ao Instituto de Ciências Planetárias de Tucson, localizado no estado norte-americano do Arizona, identificou as escalas temporais máximas relacionadas à formação dos vales marcianos. Conforme revelado em um recente estudo do especialista, a água fluía de maneira intermitente ao longo de centenas de milhões de anos nos vales de Marte.

A pesquisa, publicada em 9 de dezembro de 2023 na revista Earth and Planetary Science Letters, baseou-se na utilização de crateras de impacto marcianas como instrumento de datação.

As redes de vales no Planeta Vermelho, surgidas há mais de 3 bilhões de anos, sempre foram consideradas evidências significativas de presença passada de água líquida no planeta, de acordo com o portal Galileu.

Apesar de trabalhos anteriores terem estimado dezenas de milhares de anos para a erosão desses vales, a frequência dos eventos de fluxo e, consequentemente, o período total de formação dos vales não haviam sido previamente determinados.

De acordo com Morgan, embora a atual superfície marciana se assemelhe a um deserto, ela conserva extensas evidências de cursos d'água antigos, como os vales fluviais. O pesquisador destaca a importância da escala de tempo na qual esses vales se formaram, pois períodos extensos com água líquida estável teriam potencialmente favorecido a habitabilidade de Marte em seu passado.

Historicamente, os cientistas divergiam em duas hipóteses sobre as condições iniciais de Marte: uma sugeria um planeta "quente e úmido" com um oceano, enquanto a outra propunha um ambiente "frio e gelado" com grandes lençóis de gelo. Morgan salienta que, ao longo da última década, a compreensão evoluiu, reconhecendo a complexidade das condições iniciais marcianas.

O que o estudo constatou

Os resultados da pesquisa indicam que os rios marcianos erodiam lentamente, assemelhando-se a partes do Deserto do Atacama, no Chile. Possíveis explicacões incluem a inibição da erosão devido ao acúmulo de grandes rochas no leito dos rios ou a raridade dos fluxos de água, talvez ocorrendo apenas 0,001% do tempo, com os rios geralmente secos.

Apesar disso, os fluxos de água poderiam se tornar ativos em períodos específicos, como quando a superfície marciana era aquecida por atividade vulcânica, variações na inclinação axial do planeta e órbita ao redor do Sol. O cientista compara essas mudanças climáticas de longo prazo às que ocorrem na Terra, conhecidas como ciclos de Milankovitch, que também desempenham papel nos períodos glaciais recentes.

Morgan ilustra isso com um exemplo do estado norte-americano de Nevada, que, há 20 mil anos, possuía grandes lagos e rios, contrastando com seu cenário desértico atual.

+ Confira aqui o estudo completo.

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