Segundo novo estudo, modelos de computador apontam que primeiro dia sem gelo no Oceano Ártico pode estar mais próximo do que muitos cientistas preveem
Éric Moreira Publicado em 03/12/2024, às 09h31
Hoje, o aquecimento global é uma realidade cada vez mais presente em nosso planeta, que vem causando impactos mais devastadores e notáveis a cada ano, como o aumento da temperatura, períodos de secas e derretimento de geleiras. E segundo um novo estudo, o primeiro dia sem gelo no Oceano Ártico de toda a história pode estar ainda mais próximo do que os cientistas previam.
Publicado nesta terça-feira, 3, na Nature Comunications, a nova pesquisa utilizou modelos de computador para prever quando pode ser registrado o primeiro dia sem gelo no Oceano Ártico. Entre vários resultados, os mais pessimistas — mas ainda possíveis — apontam que o derretimento total do gelo marinho pode ocorrer em poucos anos, já no verão de 2027.
Conforme explica uma das autoras do estudo, Céline Heuzé, professora sênior de Climatologia na Universidade de Gotemburgo, na Suécia, milhares de simulações foram disponibilizadas, mas apenas as 300 mais realistas foram selecionadas para o estudo. "Mostramos que a série de eventos necessários para fazer todo o gelo derreter já aconteceu no mundo real. Só tivemos sorte que não aconteceu na ordem necessária até agora", comenta em comunicado.
Conforme repercute o g1, a pesquisadora também comenta que o aquecimento das correntes oceânicas é fundamental no processo, responsável por afinar a camada de gelo, derretendo-o por baixo ao longo do ano. Então, uma vez que o gelo marinho já estivesse muito fino, qualquer alteração do clima, como uma onda de calor ou tempestade, já poderia provocar o degelo total.
Descobrimos que todos esses primeiros dias sem gelo apresentados pelos modelos ocorrem durante um evento de rápida perda de gelo e estão associados ao forte inverno e aquecimento da primavera", explica Heuzé, ainda no comunicado.
Porém, vale mencionar que, apesar do cenário pessimista descrito no estudo, a maioria das simulações prevê ainda mais tempo até o primeiro dia sem gelo no Oceano Ártico, embora também não esteja tão distante, que poderia ocorrer dentro de nove a 20 anos após 2023. No entanto, isso pode demorar ainda mais caso ocorra uma grande redução de emissão de gases do efeito estufa.
"Modelos que estimam um aquecimento global abaixo ou em torno de 1,5°C até 2100, por exemplo, mostram que a ocorrência de um Ártico sem gelo ainda pode ser evitável", conclui o estudo.
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Embora pareça pouco, apenas um dia sem gelo no Oceano Ártico poderia provocar consequências por todo o mundo, visto que, diretamente, o ecossistema marinho depende do gelo parta sobreviver. "Há algas crescendo na parte inferior [do gelo] e tudo, desde ovos de plâncton até bacalhaus polares, usando-o para se esconder. E na outra ponta, é claro, ursos polares o utilizam como plataforma de caça", explica o estudo.
Apesar de preocupante, é difícil determinar com precisão os impactos exatos de apenas um dia sem gelo em espécies já estressadas com o degelo que vem sendo registrado nos últimos anos nos polos, mas, de qualquer forma, esse primeiro dia sem gelo seria apenas o início: "a partir do momento que há um dia sem gelo, torna-se mais provável perdê-lo ainda mais, com mais frequência ou por período maiores", descrevem os pesquisadores no estudo.
Já fora do Ártico, o degelo marinho pode causar uma grande desestabilização no clima de diferentes regiões do planeta, acarretando eventos climatológicos extremos. "Isso não é algo que acontecerá só no futuro. Isso já está acontecendo, pois o gelo marinho já está desaparecendo. Mas vai piorar sem gelo marinho no verão", alerta, por fim, Heuzé.
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