Restos mortais encontrados na caverna de Grotte du Renne, na França, não correspondem nem com os neandertais e nem com os Homo sapiens
Fabio Previdelli Publicado em 09/08/2023, às 12h27
Na mesma semana em que pesquisadores chineses descobriram o que pode ser uma nova linhagem de hominídeos, antropólogas encontraram na França um osso pélvico de uma criança de 45 mil anos que não corresponde nem com os neandertais e nem com os Homo sapiens.
O osso do quadril foi encontrado na caverna de Grotte du Renne, junto dos restos mortais de 11 neandertais. O local, posteriormente, foi ocupado pelos chamados Humanos Anatomicamente Modernos (AMHs). Assim, a criança pode ter coexistido com as espécies extintas.
A parte de sua pélvis foi comparada com dois neandertais e 32 ossos de bebês modernos, mas sua forma era diferente de ambas — embora mais próxima dos AMHs.
Propomos que isso se deva ao fato de pertencer a uma linhagem humana moderna cuja morfologia difere ligeiramente dos humanos atuais", escreveu a equipe no estudo publicado na Nature.
Os Humanos Anatomicamente Modernos apareceram na Europa Ocidental por volta de 42 mil anos atrás; ou seja, cerca de 2 mil anos antes da extinção dos neandertais. A caverna de Grotte du Renne, por sua vez, abrigou ambas as espécies nas eras do Paleolítico Médio e Superior.
As camadas de terra de dentro da caverna ajudam a criar uma espécie de linha do tempo para elucidar quando os neandertais deixaram o local e quando os AMHs o ocuparam. Entretanto, é justamente uma camada intermediária que abrigava o osso pélvico da criança — que pode pertencer a outra linhagem.
Segundo relatado pelo Daily Mail, os restos da jovem foram localizados em um nível — conhecido como complexo tecnocultural Châtelperroniano, que durou de 45.000 a 40.000 anos atrás — onde havia a ossada de 11 neandertais.
Conforme relata o estudo, o osso pélvico da criança tinha uma curvatura completamente diferente dos ossos neandertais imaturos — e ligeiramente fora dos padrões do osso pélvico dos AHMs.
Essa sobreposição pode, portanto, indicar uma variabilidade da curvatura do ilíaco [osso do quadril] compartilhada entre os neandertais e o Homo sapiens", dizem os pesquisadores.
A equipe propõem que a criança provavelmente pertencia a uma população de Humanos Anatomicamente Modernos que coexistiu como os últimos neandertais durante o período de transição.
Caso a hipótese seja validada, os cientistas apontam que o Châtelperroniano pode ter "resultado de difusão cultural ou processos de aculturação com possível mistura populacional entre os dois grupos". Isso significa que os neandertais aprenderam com os Humanos Anatomicamente Modernos e usaram a fabricação de ferramentas para desenvolver suas tecnologias.
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