A descoberta marca a data mais antiga que se tem conhecimento do uso do cacau, que era preparado de maneira bem diferente de como o consumimos hoje
Fabio Previdelli Publicado em 27/09/2019, às 10h49
O nome chocolate deriva da palavra asteca xocolatl, que era uma bebida amarga produzida a partir do grão de cacau. A maneira como a iguaria era feita é completamente diferente do modo que o consumimos hoje. Em cerca de 90% de sua história, ele foi preparado como um mingau ou líquido e não era nem um pouco doce.
A maioria dos historiadores estima que o chocolate exista há cerca de 4.000 anos, e que o alimento tenha se espalhado do México e da América Central para os Estados Unidos há cerca de 1.000 anos.
Mas novas evidências sugerem que ele já exista há muito mais tempo. Uma nova pesquisa mostra que a iguaria é usada há 5.500 anos e começou a se espalhar da América do Sul, mais precisamente do alto do Amazonas, e não do México, como se pensava anteriormente.
De acordo com um artigo publicado na Discover Magazine, uma equipe multidisciplinar que trabalha no sítio arqueológico em Santa Ana-La Florida, no Equador, conseguiu recuperar alguns grãos de amido e outros resíduos orgânicos de artefatos de pedra e cerâmica.
Ao analisá-los, constatou-se que nos objetos havia cacau cultivado e um parente selvagem chamado Herrania, que tinha entre 5.300 e 5.400 anos. A descoberta não só marca a data mais antiga que se tem conhecimento do uso do cacau, como também indica que ele estava sendo usado na América do Sul.
Alguns dos grãos e resíduos que a equipe descobriu foram preservados o suficiente para que os cientistas pudessem extrair o DNA de ambas as cepas das plantas de cacau e compará-las com as espécies modernas conhecidas. As comparações mostraram que das 22 variedades conhecidas de cacau cultivado e das 17 linhagens de sua variante selvagem, a maioria delas é nativa da região amazônica.
Entre as variedades cultivadas, em particular, havia muita diversidade genética, o que é outro indicativo que sugere de onde as plantas se originaram. Os resultados também mostraram que o DNA é muito mais parecido com as versões mais antigas da planta, que eram encontradas no México, do que com as dos tipos modernos que são cultivados perto de onde o material foi encontrado.
O sítio arqueológico de Santa Ana-La Florida é o local mais antigo conhecido da cultura Mayo-Chinchipe, que se espalhou por partes do Peru e Equador. Desde que foi encontrado, em 2002, produziu provas materiais de que a cultura comercializava com outros grupos da região. É possível que eles fizessem parte de uma rede comercial, explicando assim como o chocolate chegou ao norte do México e da América Central.
As evidências encontradas na região sugerem que o relacionamento da Mayo-Chinchipe com o chocolate era um pouco mais casual do que os mesoamericanos. O produto não tinha uso apenas em cerimonias ou na parte medicinal, ele também parece ter sido consumido em contextos mais cotidianos. Mesmo assim, por mais que eles o preparassem com certa frequência, seu aspecto era totalmente diferente do que conhecemos hoje.
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