O ex-líder da URSS faleceu nesta terça-feira, 30, três semanas depois do óbito do apresentador brasileiro
Wallacy Ferrari Publicado em 27/03/2022, às 08h00 - Atualizado em 30/08/2022, às 20h00
Mikhail Gorbachev, o oitavo e último líder da União Soviética, faleceu nesta terça-feira, 30, aos 91 anos. A causa de sua morte ainda não foi divulgada, mas ele possuía um histórico de problemas de saúde. Seu óbito ocorre três semanas após o falecimento de Jô Soares, apresentador brasileiro com quem protagonizou um episódio histórico na televisão brasileira.
Em 1994, o entrevistador já estava completando seis anos de sucesso no SBT ao trazer para o Brasil o formato de talk-show diário com o quimérico "Jô Soares Onze & Meia". Em âmbito de comemoração, a cervejaria Brahma organizou uma grande ação de marketing, por intermédio do publicitário Eduardo Fischer, para unir o apresentador com a Copa do Mundo de Futebol que ocorreria naquele ano — um projeto ambicioso.
Jô apresentaria seu talk-show no país-sede do torneio, que era os Estados Unidos, e ainda faria matérias nos países que o Brasil enfrentaria durante o mundial. A primeira partida foi contra a Rússia e, logo na estreia, teve vitória dupla.
Nos campos, Raí e Romário marcavam os dois gols brasileiros que garantiram a vitória e, pela noite, o apresentador estaria frente-a-frente com um dos maiores líderes do século 20, em Moscou: Mikail Gorbachev.
Conforme contado pelo marqueteiro João Henrique Areias no livro “Uma Bela Jogada: 20 anos de Marketing Esportivo”, a Brahma não apenas promovia a liderança em vendas da cerveja pelo slogan “Número 1” através de comerciais, emblemas sinalizando o indicador apontado para cima e até jingle, mas chegou até a negociar com jogadores para comemorarem com o dedo levantado.
Com Jô, não foi diferente; tanto na abertura de seu programa especial na Copa quanto em comerciais e fotografias, tornou-se garoto-propaganda do gesto. Por outro lado, dada a seriedade do encontro com o líder soviético, qualquer menção sobre cerveja ou o sinal poderia soar desconfortável — ou, pelo menos, deveria.
A pedido dos publicitários, o comunicador deveria pedir para Gorbachev, em certo momento da entrevista, levantar o dedo e gesticular a referência publicitária. Jô, por sua vez, achou um absurdo, como declarou no livro, mas não sabia dar negociações anteriores pela ação.
Para a esperada entrevista, os publicitários tiveram que pagar surpreendentes US$ 5 mil dólares, valor considerado merreca para um líder tão prestigiado a altura. Mais surpreendente ainda era a forma: Gorbachev aceitava o dinheiro apenas por baixo dos panos, sem declarar a quantia — e seu secretário ainda receberia 1/5 do valor.
Antes mesmo que solicitasse pela pedida publicitária do sinal com a mão, Jô foi surpreendido com algo já organizado entre os marqueteiros e o ex-líder da União Soviética.
Ao ser perguntado se o Brasil ganharia a Copa do Mundo, algo repentino chamou a atenção do apresentador: “Brasil? Sim, Brasil, número um!”, disse Mikail Gorbachev fazendo o sinal com o indicador.
Ainda na biografia, Jô enaltece que, ao ver Gorbachev “acabar na Brahma”, entendeu que o comportamento era um retrato da Rússia pós-Soviética. Contudo, não apenas a recepção popular da entrevista foi a altura, como o líder estava correto, visto que o Brasil se tornaria, ao final do torneio, tetracampeão mundial.
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