Aproximação facial de São Nicolau de Mira, bispo cristão que viveu durante o século 4, foi realizada pelo designer 3D brasileiro Cícero Moraes
Giovanna Gomes Publicado em 04/12/2024, às 11h26
A imagem que hoje temos do Papai Noel é baseada em uma complexa mistura de tradições culturais e religiosas que convergiram ao longo dos séculos.
Tudo começou com a figura de São Nicolau de Mira (ou São Nicolau de Bari), um bispo cristão do século 4 venerado como símbolo de caridade e generosidade.
Recentemente, uma nova aproximação facial forense liderada pelo designer 3D Cicero Moraes foi realizada com base em dados históricos e anatômicos, revelando como seria o rosto do santo.
São Nicolau nasceu entre os anos 250 e 270 em Patara, uma cidade da Ásia Menor (atual Turquia), durante o período do Império Romano. De ascendência grega, ele dedicou sua vida à religião, sendo nomeado bispo de Mira, onde viveu até sua morte, entre 335 e 370. Sua veneração começou ainda no século 4 e, no século 6, já se espalhava pela Europa, consolidando-o como um dos santos mais populares da Igreja Católica, atrás apenas da Virgem Maria.
Embora os registros históricos sobre sua vida sejam escassos e muitas das narrativas estejam mais ligadas à tradição do que a documentos oficiais, sua fama como um homem piedoso e generoso se perpetuou.
Em 1087, os restos mortais do santo foram transferidos para Bari, Itália, uma vez que os devotos temiam que fossem profanados após a conquista da região de Mira pelos muçulmanos. A imagem de São Nicolau evoluiu desde então até se transformar na figura moderna do Papai Noel.
A reconstrução facial de São Nicolau foi desenvolvida ao longo de décadas, a partir de uma série de estudos baseados em dados anatômicos. A primeira tentativa ocorreu nos anos 1950, sob liderança do professor da Universidade de Bari, Dr. Luigi Martino, que utilizou-se de fotografias e radiografias do crânio do santo. Este estudo pioneiro lançou as bases para os trabalhos seguintes.
Nos anos 2000, o Dr. Francesco Introna, da Universidade de Bari, liderou um projeto inovador que buscava recriar o rosto de São Nicolau em 3D. Utilizando os dados originais coletados por Martino, a especialista em reconstrução facial forense, Dra. Caroline Wilkinson, produziu uma representação com tom de pele pardo. O resultado foi apresentado no documentário The Real Face of Santa.
Mais tarde, em 2014, Wilkinson revisitou o projeto, criando uma nova versão em parceria com a Universidade Liverpool John Moores, desta vez com um tom de pele mais claro, refletindo as mudanças metodológicas e interpretações artísticas ao longo dos anos.
A reconstrução de 2024 surge como parte de uma série de projetos conduzidos por especialistas em reconstrução facial forense, incluindo a aproximação de figuras religiosas como Santo Antônio de Pádua e Santa Ludmila da Boêmia.
O processo começa com a digitalização dos dados anatômicos disponíveis, incluindo as informações estruturais do crânio presentes no livro Le Reliquie di S. Nicola. Esses dados foram autorizados pelo Centro Studi Nicolaiani, permitindo que o crânio fosse reconstruído em 3D. A partir desse modelo, ele foi alinhado ao plano de Frankfurt, e a estrutura anatômica foi ajustada para projeções de tecidos moles, com base em medições de tomografias de indivíduos vivos.
Um elemento importante foi a aplicação de marcadores de tecidos moles para um grupo de referência de homens entre 60 e 69 anos, além de ajustes na projeção nasal. A deformação anatômica foi realizada com a integração de uma malha virtual, alinhando-a ao crânio reconstruído.
O processo possibilitou a criação de uma estrutura facial coerente, respeitando os dados disponíveis e extrapolando características como a rotação da ponta do nariz, adaptada para representar mudanças naturais associadas à idade avançada.
O tom de pele e outros detalhes, como os olhos e cabelos, foram adicionados com base na iconografia histórica de São Nicolau e em dados populacionais de sua época.
Softwares como o Blender 3D, junto com ferramentas especializadas para reconstrução facial, foram usados para gerar o busto virtual. As imagens foram finalizadas com inteligência artificial para realçar os detalhes do rosto, mantendo a fidelidade ao modelo anatômico.
+ Confira aqui o estudo completo.
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