Para fazer sua Miserável Agachada, artista 'reciclou' tela de um pintor desconhecido
Thiago Lincolins Publicado em 19/02/2018, às 14h13 - Atualizado em 17/10/2018, às 17h55
Usando um moderno sistema de fluorescência por raio-x, pesquisadores da Universidade de Northwestern, do Instituto de Arte de Chicago, Galeria de Arte de Ontário e da Galeria Nacional de Arte de Washington descobriram que o artista Pablo Picasso pintou a obra La Misereuse Accroupie ("A Miserável Agachada"), de 1902, sobre a tela de um artista desconhecido.
A descoberta
A obra pertence ao Período Azul do artista – quando ele raramente utilizava outros tons além de azul e azul-verde. Retrata uma mulher agachada e enrolada numa coberta. O estudo demonstrou que foi na verdade pintada sobre os traços de um quadro que retrata o topo de um penhasco. As linhas utilizadas para desenhar a margem do rochedo, foram incorporadas nas costas da mulher.
O sistema também revelou que Picasso inicialmente pintou a mulher com o braço e a mão direita expostos, segurando um disco. Antes de finalizar o quadro, o artista mudou de ideia e pintou o manto verde por cima. A descoberta se deu graças a diferença entre os elementos presentes na tinta que havia sido usada para pintar os membros do corpo e o disco e o azul-verde que foi aplicado na coberta.
"Picasso não teve dúvidas em mudar os elementos durante o processo de pintura", diz Marc Walton, professor de ciência e engenharia de materiais na McCormick, Escola de Engenharia e Ciências Aplicadas "Nossa equipe – composta por cientistas, um curador e um conservador – começou a investigar a complexidade de La Miséreuse Accroupie, descobrindo mudanças sutis feitas por ele enquanto trabalhava na versão final."
Os detalhes e resultados da pesquisa e as implicações que envolvem o estilo e as influências de Picasso serão revelados no dia 1 de junho, no encontro anual do Instituto Americano de Conservação, em Houston. "Agora somos capazes de desenvolver uma cronologia na estrutura da pintura para contar uma história sobre o estilo do artista e as possíveis influências", diz Sandra Webster-Cook, conservadora sênior de pinturas na Galeria de Arte de Ontário.
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