Mesmo quase oito décadas depois de sua execução e exposição em praça pública, fantasma de Mussolini ainda 'assombra' cidade italianas
Fabio Previdelli Publicado em 27/04/2024, às 12h03
O próximo domingo, 28, marca os 79 anos da execução e exposição em praça pública do líder fascista Benito Mussolini. Mas mesmo após quase oito décadas de seu fim, o fantasma de Il Duce permanece em diversas cidades italianas.
Na sexta-feira da semana passada, 19, a pequena ilha siciliana de Ustica, ondem vivem cerca de 1.300 habitantes, aprovou uma lei que impacta no legado de Mussolini na região. Afinal, o local é um dos inúmeros na Itália que tem Benito como cidadão honorário.
Conforme explica o The Guardian, quando ocorreu a ascensão do fascismo, quase todos os 8.000 municípios italianos foram forçados a proclamar Mussolini como cidadão honorário — o que só começou a ser revertido pouco antes de sua morte.
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Em 1944, Nápoles e Matera se libertaram desse fardo; o mesmo fez Arezzo em março de 1945. Desde então o assunto foi marcado por impasses, mas, nos últimos anos, a Associação Nacional dos Partisans da Itália (ANPI), um grupo antifascista, reascendeu a discussão.
"Muitos municípios desconhecem a presença de Mussolini entre os seus cidadãos honorários devido à perda de arquivos durante a guerra", disse Natalia Marino, membro do comitê nacional da ANPI, ao Guardian.
Alguns enfrentam oposição de partidos políticos relutantes em revogar a homenagem, enquanto outros são prejudicados por leis que impedem o cancelamento".
Em 2017, membros do partido de esquerda Sinistra Italiana pediram para que um censo fosse feito para identificar quais municípios concederam e posteriormente revogaram a cidadania honorária de Mussolini; o que provocou uma grande discussão.
Em 2021, a cidade de Adria (em Vêneto) não só revogou a cidadania honorário de Mussolini como também homenageou Giacomo Matteotti, um político italiano morto pelo regime fascista em 1924. Nonantola (em Modena), Bovezzo (Brescia), Troina (Sicília) também fizeram o mesmo, assim como dezenas de outras comunas.
"Muitas destas cidades concederam cidadania honorária aos guerrilheiros que lutaram contra o fascismo e foram enterrados nos cemitérios locais", disse Marino. "O fato de Mussolini ter sido listado como cidadão honorário nas mesmas cidades foi uma vergonha".
Mas outras enfrentam leis que impedem a revogação da cidadania ao falecido, como o caso de Bolonha, historicamente um reduto da esquerda. O mesmo enfrentou Ustica, onde o pensador marxista Antonio Gramsci foi mantido prisioneiro político.
Na sexta da outra semana, porém, a cidade conseguiu aprovar uma lei para revogar a cidadania honorária após a morte para todos; o que além de Mussolini também incluíam nomes como Walt Disney e o astronauta norte-americano Malcolm Scott Carpenter.
Por fim, algumas cidades abriu-se o debate público sobre os méritos históricos da revogação, como em Jesolo, onde a cidadania honorária de Il Duce gerou polêmica no ano passado, quando o prefeito Christofer De Zotti — que faz parte do partido Irmãos da Itália — decidiu não revogá-la.
De Zotti afirmou que o título honorário foi um ato histórico que não deveria ser apagado e não poderia ser julgado pelos padrões atuais. "No passado, Jesolo era governado por partidos de esquerda e nem eles se preocuparam em revogar a cidadania de Mussolini".
Preferimos responder às críticas com uma série de iniciativas que realizaremos nos próximos dias para comemorar a figura de Matteotti, o mais feroz adversário de Mussolini", citou à época, reportou o The Guardian.
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