Canhão desenterrado nos Estados Unidos - Divulgação/Deni J. Seymour
Arqueologia

Arma de fogo mais antiga dos EUA é desenterrada no Arizona

Com cerca de 500 anos, relíquia é um canhão de bronze relacionado a expedição exploratória por espanhóis do século 16; confira!

Éric Moreira Publicado em 27/11/2024, às 13h24

Recentemente, arqueólogos desenterraram no estado do Arizona, nos Estados Unidos, um antigo canhão de bronze relacionado a uma expedição de exploração do país no século 16, liderada pelo conquistador espanhol Francisco Vázquez de Coronado. Com cerca de 500 anos, o artefato é considerado a arma de fogo mais antiga já encontrada no país.

Uma grande peça de bronze fundido em areia, medindo mais de um metro de comprimento e pesando cerca de 18 quilos, o canhão foi desenterrado no local em que havia, no passado, uma estrutura espanhola de pedra e adobe no Vale de Santa Cruz, onde acredita-se ter existido parte do assentamento de San Geronimo III.

Segundo o Archaeology News, a expedição comandada por Francisco Vázquez de Coronado, que ocorreu entre 1539 e 1542, tinha como objetivo descobrir as Sete Cidades de Cibola, metrópoles lendárias de nativos que, segundo os mitos, guardariam grande riqueza.

Nessa busca, Coronado liderou centenas de soldados — incluindo aliados indígenas — rumo ao norte do México, avançando pelo sudoeste norte-americano, chegando até onde hoje é o estado do Kansas. Porém, para a infelicidade dos espanhóis, não foram encontradas quaisquer cidades com abundância de ouro como prometido, mas apenas alguns assentamentos dos indígenas Pueblo.

No entanto, a ausência de riquezas não tornou o impacto brando na região. Em vez disso, a expedição deixou uma marca bastante violenta, com o saque de comunidades Pueblo e até acarretando na Guerra Tiguex, que provocou perdas devastadoras entre os nativos. Nesse período, o assentamento de San Geronimo III, onde o canhão foi descoberto recentemente, foi uma base temporária de Coronado e suas tropas, sendo abandonado depois de um ataque do povo Sobaipuri O'odham.

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Pintura 'Coronado parte para o norte', de Frederic Remington / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

Canhão

Também chamado de "arma de parede", o canhão era uma peça bastante versátil em seu tempo, servindo tanto em operações defensivas quanto ofensivas, com capacidade para romper paredes de madeira e adobe, disparando bolas de chumbo ou chumbo grosso a mais de 600 metros. Porém, uma peculiaridade sobre a descoberta recente é que aquele canhão parece nunca ter sido disparado, devido à ausência de resíduos de pólvora.

Após uma análise por radiocarbono e técnicas de luminescência, foi confirmado que o canhão pertencia à era de Coronado, bem como outros artefatos adicionais encontrados no local, como fragmentos de cerâmicas da Europa, jarras de azeitona e algumas peças de armas. Vale mencionar que seu design simples, sem adornos, sugere que ele foi fundido já no atual território americano, possivelmente no México ou no Caribe, visto que na Espanha as armas de fogo eram frequentemente ornamentadas.

Segundo o pesquisador Deni J. Seymour, um dos responsáveis pelo estudo em que a descoberta foi descrita, publicado no International Journal of Historical Archaeology, a arma provavelmente foi abandonada no local durante o ataque dos Sobaipuri O'odham, que forçou o recuo dos espanhóis. Esse ataque foi um dos primeiros e mais impactantes orquestrados por nativos americanos contra a colonização europeia, atrasando a colonização espanhola na região por mais de 150 anos.

"Este golpe final parece ser o evento precipitante que levou ao abandono do canhão de parede, onde ele permaneceu confortavelmente envolto em uma estrutura erodida de adobe e parede de pedra espanhola por 480 anos", escreveu Seymour no estudo, por fim.

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