Vertumnus, do renascentista Arcimboldo, representa a bonança da natureza na figura do imperador Rodolfo II - Wikimedia Commons
Arte

O fantástico natural de Giuseppe Arcimboldo

Com suas flores, frutas e verduras, o renascentista antecipou o surrealismo

Maria Carolina Cristianini Publicado em 11/01/2019, às 06h00

O Renascimento dava lugar ao Barroco quando Giuseppe Arcimboldo criou, por volta de 1590, uma de suas principais obras: Vertumnus, nome do deus romano das estações, da mudança, do crescimento das plantas. Uma metáfora para a bonança do imperador Rudolf II, do Sacro Império Romano-Germânico, cujo rosto é estampado nas frutas.

Nascido em Milão, Arcimboldo iniciou a carreira com vitrais e afrescos para igrejas. Até que foi chamado, em 1562, para ser o pintor da corte de Maximiliano II, pai de Rudolf II e então imperador, em Viena. Motivado pelo interesse de Maximiliano II na flora e na fauna – especialmente nos exemplares trazidos de viagens pela América, África e Ásia – e provavelmente inspirado pelas Cabeças Grotescas (desenho de Leonardo da Vinci), Arcimboldo criou duas séries de retratos compostos de flores, vegetais e frutos. Extremamente satisfeito com as obras, o imperador chegou a expô-las em seu kunstkammer (“câmara de arte”) – precursor dos museus modernos, com coleções privadas.

Com a morte de Maximiliano II, em 1576, seu filho e sucessor manteve o italiano no posto. Dois anos depois, Arcimboldo voltou para Milão, trabalhando a distância. Ali surgiu Vertumnus.

Arcimboldo foi atirado ao rodapé da história da arte após sua morte, em 1593. Era considerado um mero “maneirista”, um pintor engraçadinho, que fazia coisas à maneira dos mestres, sem sua inspiração. Sylvia Ferino-Pagden, curadora de pintura renascentista italiana no Kunsthistorisches Museum, em Viena, defende-o da acusação. Segundo ela, os maneiristas “valorizavam o artifício, a inteligência, o simbolismo obscuro e os enigmas intelectuais – qualidades encontradas em Arcimboldo”

Reflexos de seu trabalho são vistos em Pablo Picasso, René Magritte e Salvador Dalí – que chamou Arcimboldo de “pai do surrealismo”.

Em Vertumnus, as bochechas são feitas de maçãs e as pálpebras de vagens - frutas formam o cabelo. Para Thomas Da Costa Kaufmann, historiador de arte, as telas de Arcimboldo eram feitas para divertir, mas também simbolizavam “a majestade do governante, a copiosidade da criação e o poder da família governante sobre tudo”.

Ao trazer Rudolf II como um deus romano em versão composta de frutas, flores e vegetais, Arcimboldo demonstra o equilíbrio e a harmonia com a natureza que aquele reinado representava – uma herança do pai de Rudolf II.

A pintura inspirou poemas, como o de Gregorio Comanini, amigo do artista. O texto explica que as flores luxuriantes e frutos maduros simbolizam a prosperidade e harmonia do reino, que marcou o retorno à era de ouro. E sem perder o tom de humor: de acordo com Comanini, a visão de Vertumnus provocou risadas ao chegar à corte.

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