Pinturas do Baile da Ilha Fiscal e de Dom Pedro II, o último imperador do Brasil - Domínio Público via Wikimedia Commons
Brasil Império

A última festa do Império: O que foi o Baile da Ilha Fiscal?

Realizado em 9 de novembro de 1889, o Baile da Ilha Fiscal foi a última e maior festa do Brasil Império, poucos dias antes da Proclamação da República

Éric Moreira Publicado em 21/08/2024, às 11h34

No dia 15 de novembro de 1889, ocorreu no Brasil um evento que marcou para sempre uma ruptura na história nacional, encerrando a Era Imperial do nosso país: a Proclamação da República. Porém, mesmo que estivesse a beira de colapsar, a família imperial ainda realizou, menos de uma semana antes, a maior e mais luxuosa festa que o país já teve até então.

Era 9 de novembro quando ocorreu na Ilha Fiscal, localizada no interior da baía de Guanabara, o aclamado Baile da Ilha Fiscal. Também conhecido como 'O Último Baile do Império', ele foi marcado por uma série de extravagâncias e grande luxo, que certamente não eram condizentes com a grande pressão que a família imperial vinha sofrendo dos republicanos.

Confira mais curiosidades sobre o evento!

Pintura representando Dom Pedro II / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

Ilha Fiscal

A história da Ilha Fiscal teve início ainda no século 19, quando surgiu uma ideia de construir um lugar em que seriam controladas as mercadorias que entravam e saíam do porto carioca, segundo a Recreio. Devido à sua localidade, bastante próxima do porto, e também por ser muito bonita, a ilha entusiasmou Dom Pedro II, e por isso foi erguido um palacete no local, que abrigaria a chamada Guarda Fiscal — responsáveis pela fiscalização, por isso o nome dado à ilha.

Palacete na Ilha Fiscal / Crédito: Foto por Halley Pacheco de Oliveira pelo Wikimedia Commons

 

O palacete, então, teve sua construção iniciada em 1881, e só foi finalizada em abril de 1889. Lá, havia uma série de elementos feitos em pedra talhada — incluindo o Brasão da Monarquia —, duas alas laterais com pequenas torres nas extremidades, uma torre mais alta ao centro, e outra pequena torre com relógio, que iluminaria a noite e informaria a hora aos navios que ali atracavam. Já no segundo andar, estava o gabinete, que era ocupado pelo chefe da alfândega.

O baile

Na época, o Baile da Ilha Fiscal foi divulgado como sendo uma homenagem aos oficiais do navio chileno Almirante Cochrane, que haviam desembarcado no porto carioca. Porém, outro evento foi celebrado na ocasião: as bodas de prata da princesa Isabel e de seu marido, o Gastão de Orléans, Conde d'Eu — no que seria, no fundo, uma forma de mostrar que a monarquia seguia forte, mesmo com a pressão dos republicanos.

Curiosamente, inclusive, há um boato sobre a festa de que Dom Pedro II tropeçou em um tapete do salão ainda no início do baile, e ele teria comentado: "O monarca tropeçou, mas a monarquia não caiu". Pois bem, o último imperador do Brasil foi destronado apenas alguns dias depois.

Com proporções imensas, a festa levou a cidade do Rio de Janeiro ao alvoroço depois que os convites começaram a ser distribuídos. As roupas de alta costura se esgotaram, e as mulheres ocuparam praticamente todos os cabeleireiros da cidade; ao todo, mais de 2 mil pessoas estiveram presentes na festa.

Vale mencionar ainda que a Ilha Fiscal contava com um gerador instalado ao lado do palacete, que forneceu eletricidade para as milhares de lâmpadas dentro e fora do edifício. Jornais da época descreveram a ilha como sendo "o lugar mais iluminado do mundo", o que realmente não parecia condizente com a monarquia à beira da ruína.

+ Baile da Ilha Fiscal: A última festa imperial antes da queda de Dom Pedro II

Pinturas representando o Baile da Ilha Fiscal / Crédito: Domínio Público via Wikimedia Commons

 

Festa luxuosa

Durante a festa, foram consumidos 188 caixas de vinho, 80 caixas de champanhe e 10 mil litros de cerveja, sem mencionar outros licores e destilados. Isso sem mencionar que, por três dias, 48 cozinheiros trabalharam para alimentar os convidados, com um cardápio que contava com peças inteiras de caça e pesca (por exemplo, 800 quilos de camarão), e uma variedade de aves exóticas. Já como sobremesa, os presentes puderam apreciar sorvete, uma novidade na época.

E os números surpreendentes não estão apenas no cardápio: embora não possa ser confirmado, é dito que vários adereços, dos mais inusitados, foram encontrados no local pela equipe de limpeza, ao fim da festa. Segundo os boatos, ali foram recolhidos 37 lenços, 24 cartolas e chapéus, 8 raminhos de corpete, 3 coletes de senhoras e 17 cintas-ligas. E uma coluna humorística do jornal O Paíz ainda acrescentou outra peça: um espartilho.

Antiga fotografia do salão do baile / Crédito: Divulgação/Biblioteca Nacional

 

De fato, o Baile da Ilha Fiscal ficou marcado na história como a festa mais luxuosa feita pela família imperial do Brasil, e também a última. E talvez o mero tropeço de Pedro II já tenha servido como premonição da queda próxima de sua coroa.

 

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