As cangaceiras não eram as responsáveis por cozinhar nem por lavar as roupas do bando, sendo apenas as companheiras dos cabras de Lampião
Isabela Barreiros Publicado em 21/11/2020, às 08h00 - Atualizado em 27/02/2022, às 08h00
Entre o século 18 e começo do 20, o fenômeno do cangaço se espalhou por todo o sertão nordestino. Símbolo de banditismo, mas muitas vezes de heroísmo, os grupos eram formados apenas por homens. Os chamados cangaceiros viviam uma rotina de nomadismo e crimes.
Mas a exclusão das mulheres dos bandos mudou quando o maior de todos os cangaceiros, o próprio Lampião, decidiu que sua companheira, Maria Bonita, entraria para o grupo e o acompanharia em toda sua movimentação por vezes precária. Depois delas, muitas outras puderam entrar para o cangaço.
A Aventuras na História separou 5 curiosidades sobre a vida das mulheres no cangaço. Confira!
Maria Bonita entrou para o cangaço por vontade própria. Ela queria seguir o cangaceiro que estava observando há tempos e aproveitou a oportunidade para deixar sua vida monótona ou marido abusivo para trás. Algumas mulheres também tomaram decisões parecidas, mas outras foram obrigadas a seguir o grupo.
Inúmeras moças foram estupradas e sequestradas por homens de Lampião para permanecerem com o grupo no sertão. Uma delas, que se tornou famosa pelo nome Amazona do Sertão, foi Dadá. A moça foi raptada por Corisco, o braço direito do chefe, aos seus apenas 13 anos de idade e ficou com o bando por muito tempo.
Por mais que possa parecer revolucionária, a inclusão de mulheres no cangaço não mudou a dinâmica que já acontecia entre os homens do bando. Os cangaceiros já eram responsáveis por cozinhar e por lavarem suas próprias roupas. Eles também sabiam costurar — Lampião, inclusive, fazia isso desde menino.
Não sobrava muito para as moças. O papel delas no bando era, em sua maioria, fazer companhia para os sertanejos, sendo basicamente “mulheres de cangaceiros”. Elas ficavam responsáveis por ajudar na costura e na organização dos acampamentos, mas não tinham nenhuma função além disso.
As cangaceiras não tinham nenhuma função estratégica no grupo, nem ao menos Maria Bonita, que era a mulher do chefe. Elas, portanto, não participavam dos conflitos e ações realizadas pelos homens nas cidades, mesmo que isso fosse grande parte da rotina no cangaço.
Diferente dos homens, as mulheres não recebiam armas no bando: elas só podiam carregar uma pequena pistola para atirarem para cima caso se perdessem do bando. Fora essa estratégia de localização, não havia nenhuma participação ativa.
É fato que uma das funções das mulheres dentro do cangaço era a sexual. A realidade do bando era, também, de estupros. Mas o sexo não era tão constante quanto se possa imaginar e isso acontecia devido a uma série de superstições e crenças dos cangaceiros, que também faziam parte do contexto dos sertanejos no geral.
Uma dessas crenças era a do “corpo fechado”. Eles acreditavam que o sexo abria o corpo dos homens, fazendo com que eles ficassem desprotegidos das balas da polícia, por exemplo. E o pior de tudo era que não era fácil fechar o corpo novamente: eles tinham que se purificar e, mesmo assim, não se sabia exatamente quando isso aconteceria.
Algumas mudanças nas estratégias de Lampião puderam ser observada a partir da inclusão de mulheres. Por exemplo, eles passaram a ser menos nômades, fazendo acampamentos mais duradouros perto de cursos d’água e tomando mais banhos. Além disso, as invasões a cidades diminuíram.
Ainda assim, é possível perceber que essa mudança não foi, de fato, revolucionária, afinal as mulheres não eram “cangaceiras”, como os homens. Elas eram apenas mulheres de cangaceiros e sofriam com as mesmas opressões dentro do bando, que tinha as mesmas dinâmicas de sociedade.
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