Só no sistema eleitoral americano, ganhar no voto popular é importante, mas não é o que define um vencedor
Alexandre Carvalho Publicado em 01/11/2020, às 00h00
Neste ano, os eleitores que vão optar por mais quatro anos de mandato para Donald Trump, do Partido Republicano, ou por tirá-lo do poder, passando a Presidência a Joe Biden, do Partido Democrata, na verdade estarão decidindo para qual dos candidatos eles vão entregar os delegados do seu estado – já que, nos EUA, os votos que importam mesmo são os desses representantes, que formam o Colégio Eleitoral do país. No total, são 538 delegados, distribuídos proporcionalmente entre os 50 estados americanos.
A Califórnia, que é o estado mais populoso, é a campeã de representação: tem 55 delegados no Colégio Eleitoral. Já o Havaí tem míseros quatro delegados. E o que faz com que o voto popular influencie na formação do Colégio Eleitoral, mas não decida a eleição, está em outra regra do sistema: a maioria dos estados obriga todos os seus delegados a votar no candidato que ganhou ali.
Ou seja, se Joe Biden, que foi vice-presidente de Obama, for o escolhido de 50,1% dos eleitores na Califórnia (estado que tradicionalmente dá mais votos para o Partido Democrata), todos os 55 representantes californianos vão dar seu voto a ele no Colégio Eleitoral – desprezando as escolhas dos outros 49,9%.
Esse sistema é conhecido como winner takes all (o vencedor leva tudo) e foi determinante na derrota de Al Gore em 2000. O vice de Bill Clinton concorreu à Presidência contra George W. Bush (o filho) e ganhou no voto popular.
Conquistou 48,4% dos eleitores contra 47,9% que votaram em seu adversário. Mesmo dando uma lavada em Bush em alguns estados, Gore perdeu por margem pequena em muitos outros.
Pelo sistema do “vencedor leva tudo”, não importa que tenha perdido por pouco nesses lugares: todos os delegados foram para Bush. Na contagem final, Bush filho teve 271 delegados contra 266 de Gore (houve uma abstenção). E assim teve direito ao primeiro de seus dois mandatos presidenciais, mesmo ficando em segundo na preferência do eleitor.
Daí já dá para tirar uma conclusão importante: quem quer se tornar presidente dos EUA precisa ter melhor desempenho em estados com muitos delegados. Vale mais a pena ter 50,1% dos votos na Flórida (29 delegados) do que ter 100% dos votos do Mississippi (6 delegados), Kansas (6), Iowa (6), Idaho (4), Dakota do Norte (3) e Alasca (3), que somados dão 28 votos no Colégio Eleitoral.
Repare que, nessa simulação simplista, o vencedor da Flórida teria menos votos populares que seu concorrente, que obteria 49,1% (quase a metade) dos eleitores desse estado mais 100% dos outros seis mencionados.
Mas, pelo sistema indireto, o primeiro estaria à frente na corrida pela Casa Branca com 29 delegados (todos da Flórida) contra 28 do adversário. Há também outras peculiaridades que influenciam – e muito – na forma como os candidatos conduzem suas campanhas.
Alguns estados tradicionalmente dão mais votos para os democratas, enquanto outros têm o costume de dar mais votos para os republicanos. São regiões, portanto, nas quais os políticos não precisam ter tanto empenho para conquistar votos.
A briga de foice acontece mesmo é nos chamados swing states (“estados que oscilam”, numa tradução livre), onde não há fidelidade a um dos dois partidos. Flórida é um caso desses, assim como Pensilvânia (20 delegados), Carolina do Norte (15) e Ohio (18). Quem fizer o dever de casa nos estados fiéis ao seu partido e ganhar onde não tem time certo vence a eleição.
Embora o sistema de eleição indireta seja muito criticado no próprio país, a chance de mudar para eleições diretas é altamente improvável. Pelo seguinte: seria necessário ter uma mudança radical na Constituição dos EUA, referendada pelo Legislativo da maioria dos estados.
Até aí, poderia acontecer, mas os republicanos não querem. Eles preferem a eleição indireta por um motivo bem prático: nas cinco vezes em que o candidato com mais votos populares perdeu a Presidência no Colégio Eleitoral, os republicanos foram beneficiados em quatro – na primeira vez, os partidos atuais ainda não existiam.
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