No passado, as mudanças desencadeadas pela puberdade eram a única forma de definir a qual grupo as pessoas pertenciam
Juliana Parente Publicado em 01/08/2021, às 08h00
Pelos surgindo, espinhas pipocando, mudanças de voz, menstruação. As alterações físicas pelas quais passam as crianças com a chegada da puberdade são as mesmas há milênios. Mas as coincidências param por aí. Isso porque o conceito de adolescência como um limbo entre a infância e a idade adulta não existia até 300 anos atrás.
Os romanos passavam da infância para a idade adulta sem direito a períodos de adaptação ou amadurecimento psicológico. “As mudanças do corpo eram o único termômetro”, afirmou o historiador Pedro Paulo Funari.
Para os meninos, o marco era o aparecimento de pelos. Bastava surgir uns fios de barba e o garoto era enviado ao Exército, onde ficava até os 35 anos. Nas meninas, a menstruação colocava fim instantâneo à infância: era hora de casar.
Isso não mudou na Idade Média, quando meninos eram tidos como homens pequenos que, para se tornar adultos, só precisavam crescer. “A criança mal adquiria porte físico e era misturada aos adultos, partilhando com eles trabalhos e jogos”, escreveu o historiador Philippe Ariès no livro 'História Social da Criança e da Família'.
Segundo ele, essa situação duraria até o século 17, quando a escola substituiu o sistema de aprendizagem, baseado na figura dos tutores e mestres de ofício. “As crianças deixaram de ser misturada aos adultos e apareceram as salas de aula reunindo alunos em faixas etárias e níveis de aprendizado semelhantes.”
Mesmo isso mudou pouco a vida das meninas, que continuou, até o século 19, dividida em duas fases: antes e depois do casamento”, acrescentou o historiador Luiz Marques.
Então a adolescência não é natural? De acordo com o estudo feito no começo do século 20 pela antropóloga Margaret Mead, com habitantes de Samoa, na Polinésia, não. “Ela mostrou que a adolescência, tal como nós vemos hoje em dia, não passa de uma ficção, de uma construção cultural”, explicou Sara Albieri, especializada em História Intelectual. Para elas, a rebeldia e a insatisfação consideradas típicas da idade não fazem parte da natureza humana: “... são uma experiência social, não fisiológica”, afirmava Margaret.
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