Em 1858, não havia embarcação que sequer se aproximasse do colossal vapor britânico, no entanto, acabou tendo um fim deprimente
Redação Publicado em 18/07/2020, às 08h00
O maior navio de sua época, com fama de ser impossível de afundar. Um feito de engenharia, capaz de satisfazer os luxos dos passageiros mais exigentes. Essa não era a descrição do Titanic, mas do SS Great Eastern, de mais de 50 anos antes. Era o sonho do engenheiro Isambard Kingdom Brunel.
Incompreendido em vida, hoje ele é considerado um gênio que estava à frente de seu tempo. Brunel havia desenvolvido dois navios bem-sucedidos, o Great Western e o Great Britain, quando resolveu criar a embarcação mais colossal já feita. Morreria apenas um ano depois de o Great Eastern ser lançado.
O navio foi construído para levar 4 mil passageiros da Inglaterra até a Austrália sem parar para abastecer, um feito impossível a qualquer outro navio a vapor. Mas teve uma carreira meio azarada. A viagem para a Austrália nunca aconteceu, e acabaria limitado ao percurso entre Europa e Estados Unidos – onde seu tamanho não era vantagem nenhuma.
Não daria lucro no transporte de pessoas, e acabaria convertido em instalador de cabos telegráficos oceânicos em 1865 – de fato, o primeiro do mundo, instalando o primeiro cabo.
O Great Eastern tinha fama de maldito. Em sua carreira, somaram-se acidentes, incluindo uma explosão que deixou cinco vítimas fatais.
O interior do navio
Como era comum nos vapores da época, o Great Eastern tinha velas além dos motores a vapor. Muitas velas, aliás: eram seis mastros, outro recorde. A ideia era usá-las ao mesmo tempo que os motores, para economizar combustível, mas, por erro de cálculo, isso não podia ser feito, já que as chaminés dos motores poderiam incendiá-las.
Segunda carreira
Em 1865, para compensar as perdas, o GE passou a ser usado para instalar os primeiros cabos de telégrafo ligando a Europa às Américas e à Índia. E essa seria sua melhor vocação: os cabos eram pesados e difíceis de manobrar dentro de embarcações menores.
O SS Great Eastern era maior do que qualquer outra embarcação já construída: duas vezes mais comprida e seis vezes maior em volume do que os recordistas da época, ela só seria superada em comprimento em 1899 e em peso em 1901.
Esse tamanho todo tinha um objetivo: ultrapassar os 20 mil quilômetros de autonomia de combustível, para chegar à Austrália sem escalas. Todavia, o maior desafio do projeto era reunir potência capaz de carregar as mais de 32 mil toneladas de deslocamento (isto é, o peso da água que ele precisa tirar do caminho para andar).
Para dar conta, foram construídos quatro motores a vapor, com 2 mil cavalos de força cada um, que moviam as pás laterais e uma hélice traseira. Logo na primeira viagem, uma explosão numa caldeira matou quatro tripulantes.
Beta do Titanic
O SS Great Eastern provocou polêmica por prever que o navio deveria ser inteiro de ferro. Achavam que iria ao fundo, mas foi uma aposta acertada: poucos anos depois, o Império Britânico abandonaria de vez os navios de madeira.
Outra inovação questionada foi o casco duplo, capaz de sobreviver a um rasgo na parte externa. Isso também se tornaria padrão mundial.
O navio tinha capacidade para 4 mil passageiros. Em caso de acidente, havia 20 barcos salva-vidas, capazes de retirar pouco mais de 1 mil pessoas. Lembra alguma coisa? Pois
é, é exatamente o mesmo descaso que ocorreria muitas décadas depois com o Titanic. Inclusive, em 1862, ele trombou numa rocha e ficou com um rombo de 25 metros. Só não afundou por causa do casco duplo.
Ao fim de sua vida útil o barco tinha se tornado um deprimente restaurante, casa de shows e outdoor ambulante. Terminaria sendo vendido como sucata em 1888.
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