Após serem infectados pelo peculiar fungo e transformados em escravos, os insetos fazem uma 'pose de morte característica', batem as asas violentamente e morrem
Redação Publicado em 03/04/2022, às 08h00
Em 2015, a bióloga Carolyn Elya, pesquisadora da Universidade de Harvard, se deparou com algo bastante peculiar no quintal de sua casa, nos Estados Unidos. Ela percebeu que ali estava nada mais nada menos que uma espécie de fungo “zumbi”.
A estranha criatura tinha um comportamento ainda mais bizarro: era responsável por controlar o comportamento de outros animais, em especial, moscas, infectando-as e praticamente escravizando-as.
Existem muitos fungos parasitas entre os insetos conhecidos pela ciência. Eles agem de uma maneira bastante simples, infectando seus hospedeiros, controlando-os e buscando mais vítimas.
Descrevendo a espécie em uma pesquisa publicada no repositório científico bioRxiv, a equipe de especialistas ressaltou como existem “muitos micróbios [que] induzem mudanças comportamentais marcantes em seus hospedeiros animais”.
“Mas como eles alcançam esses efeitos é pouco compreendido, especialmente em nível molecular”, explicam os cientistas. “Isso se deve em grande parte à falta de um sistema robusto passível de manipulação molecular moderna”.
O fungo, batizado de Entomophthora muscae, age principalmente em uma mosca tida como “organismo modelo” da biologia, a Drosophila melanogaster, comumente conhecida como mosca-da-fruta.
No estudo, os pesquisadores destacaram que quando a mosca é infectada pelo fungo, ela morre entre quatro e sete dias depois. O comportamento normal vai até o último dia, momento em que ela para de voar.
É quando acontece algo bastante peculiar nessa mudança de comportamento causada pela infecção: o inseto vai até algum objeto vertical e usa seu aparelho bucal para se colar na superfície, totalmente trêmula.
Praticamente um “zumbi”, a mosca movimenta suas asas de maneira violenta nos dez minutos seguintes à bizarra pose até morrer, o que acontece em apenas algumas horas. Em seguida, o fungo toma posse dela por completo, transformando o corpo em uma colônia de fungos que lança esporos no ar cinco horas depois, com o fim da infecção.
“Nossas 20 moscas infectadas por laboratório manifestaram os comportamentos moribundos característicos de infecções por E. muscae: em seu último dia de 21 vida elas sobem para um local alto, estendem suas probóscidas e ficam afixados ao substrato, então finalmente levantam suas asas para fazer uma pose de morte característica que abre caminho para esporos que são ejetados à força de seu abdômen para pousar e infectar outras moscas”, descreve a equipe de pesquisadores.
Elya ressaltou ainda que, depois do contato da mosca com o fungo, o último invade o sistema nervoso do hospedeiro em 48h. As áreas mais afetadas são as do cérebro, com o intuito de mudar o comportamento do animal infectado.
Sobre o estudo, os cientistas ponderaram: “Considerando o vasto conjunto de ferramentas moleculares e neurobiológicas disponíveis para D. melanogaster, acreditamos que este novo sistema estabelecido de E. muscae permitirá um rápido progresso na compreensão de como os micróbios manipulam o comportamento de animais”.
A pesquisa também pode ajudar na investigação por tratamento de doenças como Alzheimer, segundo destacou o pesquisador David Hughes, da Universidade Estadual da Pensilvânia. À revista New Scientist, ele afirmou: “É incrível ter um modelo totalmente rastreável para estudo”.
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